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23 maio 2017
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Miguel Perestrelo Fotografia de Miguel Perestrelo

Sempre de serviço

​​​​​​​​​A F​armácia Porto Santo serve uma ilha inteira com um sorriso.

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Bem instalada no centro da Vila Baleira, a Farmácia Porto Santo é a única a servir a população da   ilha.  Há   12   anos que Sofia Antunes, farmacêutica de Leiria, aqui chegou, movida pela ambição de ter o seu próprio espaço.

A adaptação foi «muito fácil», conta a directora-técnica da farmácia. Na maioria dos meses, serve menos de quatro mil habitantes. Só Agosto é excepção: nesse mês, a população mais que sextuplica.



Dentro do espaço, amplo e simples, o ambiente é descontraído. Ouve-se riso e o burburinho das conversas mais íntimas entre farmacêuticas e utentes. «São sempre os mesmos clientes e a relação é muito boa», diz Sofia.

Conceição Pinho, de 49 anos, e Carlos Rapoula, de 51, são desses «clientes leais», ambos continentais. Ela veio de Ovar, ele de Castelo Branco, para dar aulas na escola secundária do Porto Santo, já lá vão 13 anos. «O atendimento é excelente, há muita proximidade», diz Conceição, acrescentando que tem necessidade de vir com frequência à farmácia renovar receituário.

O casal ilustra a realidade do Porto Santo: há muitos continentais a viver na ilha. Como acontece com os emigrantes, formam uma espécie de irmandade, encontrando-se com frequência para programas em comum.

Terra pacata e pequena, em Vila Baleira tudo fica perto. «É o lugar ideal para criar filhos», garante Sofia, que chegou cá grávida.

A Farmácia Porto Santo é familiar. Atrás de Sofia, chegou à ilha uma irmã, Suzete, de 44 anos. Mais recentemente, vieram os pais. É a Suzete que cabe a gestão da farmácia. Aos pais, cabe ajudar no que for necessário. «Fomos muito bem recebidos, por isso fez todo o sentido», explica a directora-técnica. No Porto Santo, acrescenta, há «muito respeito por quem vem de fora».

Nesta ilha, a população é sobretudo idosa, mas também há muitos jovens. Isto porque Porto Santo contraria as estatísticas nacionais. «Aqui as pessoas ainda têm muitos filhos», refere Suzete.

Com uma população pouco escolarizada – «é raro irem para fora estudar na universidade» – os subsídios são frequentes.  «Há muitas necessidades económicas. E aumentam os vales que lhes são dados pela Segurança Social para virem à farmácia».



Maria Lúcia Vasconcelos, de 57 anos, entra com a neta, Mafalda Marques, de oito. Chegou há 37 anos de Santa Cruz, na Madeira, ao Porto Santo, de onde é o marido. Mafalda conhece a Madeira, mas nunca foi ao continente. Há muitas crianças que nem sequer saíram da ilha. Quando crescer, sonha ser cantora. Ainda é muito nova para saber que terá de sair da ilha para seguir os estudos. Gosta muito de acompanhar a avó nas visitas à farmácia, o que acontece pelo menos uma vez por mês. Maria Lúcia vem levantar os medicamentos, mas também outros produtos de saúde para oferecer às filhas, aos netos ou ao marido. Quando adoece, escolhe a farmácia como primeiro apoio. «Muitas vezes, não preciso de mais nada».

Não obstante, a relação da Farmácia Porto Santo com o centro de saúde local é bastante próxima. Mariana Vasconcelos, de 39 anos, é lá enfermeira e testemunha essa realidade. «Esclarecemos dúvidas, estamos em contacto permanente e, quando nos falta algum medicamento, a farmácia fornece-nos», conta a enfermeira, acrescentando que «nem sempre temos os medicamentos necessários».



Por ser natural da ilha, Mariana revela que esta é a sua farmácia «desde sempre». Tem asma, motivo suficiente para frequentar o espaço amiúde. Mas é também mãe de uma bebé de 15 meses e é aqui que compra os produtos para a sua menina. Para além disto, mantém com a directora-técnica uma relação de amizade.

Mariana é um exemplo do isolamento a que está votada a ilha, apesar do turismo. Quando estava grávida, também ela teve de ir para o Funchal duas semanas antes do parto. No Porto Santo, não há população para manter um hospital. Em caso de urgência, os doentes são evacuados de avião. O voo dura cerca de 15 minutos.

O problema estende-se aos medicamentos, que normalmente chegam de avião ou de barco.  Em caso de emergência, «torna-se bastante complicado». «É um problema. Avião, só há de manhã e à noite. Barco, é uma vez por dia e não há às terças-feiras. Quando falta algum medicamento, e às vezes acontece, é muito difícil».

As pessoas tendem a atribuir as falhas ao facto de viverem numa pequena ilha. Inconformadas, tentam adquirir medicamentos pela Internet. «É difícil entenderem que muitos estão esgotados no laboratório e por isso não vale a pena mandá-los vir».

Quer saber outra particularidade da Farmácia Porto Santo? O produto de maior procura são os comprimidos para o enjoo, muito úteis para as viagens de barco.
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