Nuno Vitorino tinha 20 anos, dois após ter ficado tetraplégico, quando escolheu «esquecer a deficiência» e centrar as energias nas possibilidades. Tornou-se campeão paraolímpico de natação e surf adaptados e criou a SURFaddict, uma associação que permite a pessoas com deficiência partilhar a «paixão do surf».
«Eu sei que a deficiência está cá, não sou inocente», afirma. Quando quer ir a um restaurante, confirma se existe o que precisa: estacionamento perto, WC adaptado, acessibilidades. Ao fim de 27 anos numa cadeira de rodas, sabe que as acessibilidades são um constrangimento, mas habituou-se a contorná-las, não deixa que sejam «impeditivas». Já nem fica triste, embora reconheça que é triste dizê-lo. «Eu não devia estar condicionado pelo simples facto de estar numa cadeira de rodas».
A carta de condução e o carro trouxeram-lhe autonomia e independência. «O carro foi uma das coisas que mais mudou o meu paradigma de vida», admite. Mas nem todas as pessoas com deficiência podem conduzir. São precisas mais rampas, defende Nuno, até porque elas servem uma larga maioria de pessoas. «Há muita gente com problemas de mobilidade, para além das pessoas com deficiência: idosos, pessoas que usam carrinhos de bebé, bicicletas ou skates».