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12 dezembro 2019
Texto de Carlos Enes Texto de Carlos Enes Ilustração de Lord Mantraste Ilustração de Lord Mantraste

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​​​​​​​​​​​Inglaterra usa farmácias para a Saúde Pública.

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Na Inglaterra, as farmácias são integradas nas redes locais de cuidados primários desde a fundação do National Health Service (NHS). A missão das farmácias e o seu financiamento são estabelecidos por acordos com a duração de cinco anos. No passado mês de Julho, o Governo britânico contratualizou «o apoio» das farmácias à implementação do “Plano de Longo Prazo” do NHS até 2024.

O “The Community Pharmacy Framework for 2019 – 2024: supporting delivery for NHS Long Term Plan” estabelece a prevenção como «elemento central» da política de saúde. As farmácias são remuneradas pela prestação de um conjunto alargado de serviços, como vacinação, apoio ao viajante, cessação tabágica, monitorização de peso, saúde sexual, combate ao alcoolismo e à toxicodependência, e para atestarem presencialmente a toma de determinados medicamentos, designadamente por parte de pessoas com adições.  

O acordo assume também o objectivo de «expandir e transformar o papel das farmácias comunitárias, como primeiro ponto de contacto com o cidadão nas situações de afecções menores e aconselhamento em saúde». O farmacêutico comunitário é reconhecido como «profissional altamente qualificado, com potencial para assumir um papel maior na prestação de serviços clínicos». As farmácias fazem triagem: identificam e referenciam cidadãos em risco para consultas com médicos dos cuidados primários e hospitais.

Também sucede o movimento contrário. O centro de contacto telefónico NHS111, semelhante ao nosso SNS24, referencia para consulta farmacêutica pessoas com afecções comuns e problemas de saúde passageiros, evitando urgências desnecessárias. As farmácias são remuneradas pela dispensa urgente de medicamentos e pelo aconselhamento aos doentes. 

Uma consulta completa com um farmacêutico comunitário será remunerada, no âmbito do protocolo 2019 – 2024, pelo valor de 14 libras (15,81€).  Em Abril de 2020, está previsto o alargamento do serviço à referenciação directa para as farmácias por parte dos médicos de Medicina Geral e Familiar. O relatório justifica esta opção pelo facto de a rede de farmácias «aliviar e reduzir a pressão sobre o NHS». 

Os farmacêuticos comunitários são chamados a reforçar a sua intervenção de «suporte à segurança com medicamentos, em linha com a ambição da OMS de reduzir os problemas relacionados com medicamentos». As farmácias são remuneradas para melhorar a adesão a novos medicamentos, ajudando os diabéticos, asmáticos, hipertensos e outros doentes a aderir bem aos planos terapêuticos com que se devem comprometer para a vida. 

Na primeira dispensa de um medicamento, o farmacêutico fornece ao doente, em consulta, informação exaustiva sobre como utilizá-lo. A partir daí, continua a monitorizar a adesão à terapêutica. Duas semanas depois ocorre nova interacção pessoal ou telefónica, com o objectivo de avaliar a experiência do utente com o novo fármaco. Na eventualidade deste reportar algum problema, o farmacêutico procura uma solução. Decorridas mais duas semanas, é feito novo contacto para aferir se o problema foi resolvido. Os farmacêuticos também ensinam as pessoas a utilizar dispositivos médicos, através de um protocolo semelhante. 

A revisão da terapêutica em ambiente de farmácia é realizada anualmente, ou de seis em seis meses, e sempre que ocorra um problema. Está contratualizada para pessoas com doença respiratória, com diagnóstico de risco cardiovascular e em tratamento com medicamentos considerados de “alto risco”: anti-inflamatórios não esteróides, anticoagulantes e antiagregantes plaquetários. ​Os doentes com recente alta hospitalar e polimedicados com quatro ou mais fármacos diferentes beneficiam do mesmo acompanhamento farmacêutico. Sempre que é necessário, as farmácias referenciam para um médico os doentes seguidos nestes programas.  



Na Inglaterra, as farmácias renovam as receitas dos doentes crónicos, de acordo com o plano de tratamento definido pelos médicos, o que liberta os cuidados primários de consultas meramente burocráticas. O NHS tem ainda em curso vários projectos-piloto para aproveitar a rede de farmácias na gestão dos doentes crónicos, em articulação com os cuidados primários. 

Portugal é o único país do mundo onde a pílula do dia seguinte é de venda livre. Para os britânicos, a contracepção de emergência é um assunto sério. O Estado investe 10,78 libras (12,17€) para oferecer às mulheres uma consulta farmacêutica protocolada, no momento da dispensa daquele medicamento. 

A intervenção das farmácias em programas de Saúde Pública tem sido avaliada positivamente e recomendada por entidades independentes. No Reino Unido, a autoridade de Saúde Pública mais relevante é o National Institute for Health and Care Excellence (NICE). Este instituto público avalia a eficácia das intervenções em saúde. Independente do Governo, emite directrizes baseadas na evidência, dirigidas ao NHS de Inglaterra e influenciando ainda as políticas públicas das autoridades de saúde da Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales. 

Em 2018, o NICE emitiu uma directiva para a integração das farmácias comunitárias nos programas de Saúde Pública. Graças à facilidade de acesso, as farmácias estão bem posicionadas para «dar resposta às desigualdades no acesso à saúde, satisfazendo as necessidades específicas de grupos em risco de exclusão social», descreve a directriz “Farmácias Comunitárias: promovendo a saúde e o bem-estar”.
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