Existe uma Farmácia Comunitária A.C. (antes da COVID-19), e uma Farmácia Comunitária D.C. (depois da COVID-19). Foi sobre esta última que se debruçou o 14.º Congresso das Farmácias.
Até à pandemia, as farmácias eram pouco consideradas pelos decisores públicos na resolução de crises sociais e sanitárias. Isto, apesar do papel relevantíssimo que sempre desempenharam e de que é exemplo primeiro o Programa Troca de Seringas. A resposta do setor à COVID-19, contudo, veio alterar as perceções do poder político.
Num dos momentos mais disruptivos da História recente, os farmacêuticos comunitários evidenciaram-se perante a sociedade como profissionais altamente habilitados, com uma elevada capacidade de adaptação, uma incrível rapidez de organização e plenamente preparados para assumir responsabilidades. Avultámo-nos pela empatia e pela compaixão, características genéticas da profissão, essenciais à construção da relação de proximidade e cumplicidade que temos com as pessoas, e decisivas em momentos de crise. Afirmámo-nos, mais uma vez. Orgulhosamente!
Após três dias de congresso, onde ouvimos os colegas, as associações representativas de pessoas que vivem com doença, os principais parceiros e stakeholders, e os decisores políticos, foi unânime o enorme capital de confiança depositado nos profissionais das farmácias comunitárias.
De igual modo, foi inequívoco o consenso em torno da ideia de que a nossa é a rede mais bem posicionada para o acompanhamento da população portadora de doenças crónicas.
Escutámos um apelo uníssono das pessoas e dos parceiros da Saúde pela integração, formal e rápida, do farmacêutico nas equipas que acompanham a jornada terapêutica das pessoas com doença.
Foi dito, repetidamente, por diferentes stakeholders, que, por cá, ao contrário do que já é comum em várias partes do mundo, as farmácias não estão a ser aproveitadas. Mas que o futuro passará pela rede. Porque é preciso aliviar pressão na Saúde, e os serviços farmacêuticos estão comprovadamente aptos a fazê-lo; e é preciso, simultaneamente, gerar poupanças, e os serviços farmacêuticos contribuem para a sustentabilidade do sistema. É uma questão de tempo.
Parafraseando o ministro da Saúde, as farmácias são um exército de saúde que o país tem de aproveitar.
Já não há pretextos para quem tem o poder de operar as mudanças necessárias. O poder político tem a obrigação de usar a capilaridade, a capacidade profissional e a confiança depositadas na rede de farmácias: palavras proferidas também por Manuel Pizarro. Perante a plateia, que lotou o auditório principal do Centro de Congressos de Lisboa, o ministro assumiu que os projetos da renovação da terapêutica crónica e da dispensa em proximidade de medicamentos hospitalares serão uma realidade ainda em 2023. As farmácias estão prontas, mas todos sabemos que um serviço bom é um serviço viável, o que implica a sua remuneração.
Do nosso lado, do lado da rede, queremos e estamos disponíveis para revolucionar o conceito de Farmácia Comunitária nos próximos anos. Queremos e estamos empenhados em superar as expectativas daqueles que nos procuram diariamente e que exigem, e têm direito, a mais Saúde. Queremos e estamos comprometidos com a valorização do papel do farmacêutico comunitário e com o alcance de um equilíbrio perfeito, através de uma maior complementaridade entre todas as entidades de saúde. Queremos e estamos convictos de que todos sairemos a ganhar com uma Saúde mais próxima de todos!