Há 16 anos, Fernanda Serrano recebeu mais um dos grandes presentes da vida, o nascimento da filha Laura (a seguir ao primogénito Santiago) e, dias depois, uma das piores notícias que uma mulher pode ouvir: o diagnóstico de cancro de mama.
«Nunca há um timing bom para receber esse tipo de notícias, mas a seguir ao nascimento, que deve ser das fases mais bonitas, mais calmas, quando se está a desfrutar de uma coisa tão bela que é a maternidade, foi um furacão», recorda. No meio da mistura de felicidade e angústia, a atriz decidiu, diz, resolver a situação da melhor forma: «Confiei muito na equipa médica, tive sorte também, e fiz exatamente tudo aquilo que me era indicado fazer». Explica: “Não resvalei, não fugi a nada. Fiz tudo». O processo de comunicação da doença ao público foi igualmente gerido com sensatez: «Falei abertamente nos momentos que eu escolhi. Fiz um comunicado logo no início do protocolo clínico». A partir daí era mais difícil haver especulação, considera. No final do tratamento, que incluiu cirurgia, quimioterapia e radioterapia, organizou uma conferência de imprensa. «Onde estavam todos os meios de comunicação que quiseram estar presentes e foi um momento livre de questões. A meu ver não havia razão para não tornar público. Infelizmente é uma doença que nos bate à porta sem nós querermos», considera. A atriz recorda que a exposição da sua doença foi também um «serviço de alerta». «E a verdade é que tive esse retorno da parte de muitas mulheres». Muitas fizeram autoexames e mamografias que resultaram em diagnósticos. E, eventualmente, mais mulheres conseguiram tratar-se antes de a doença se revelar fatal.
Com os tratamentos concluídos, Fernanda Serrano descobriu que, por causa de um erro médico - que revela no livro -, estava de novo grávida. Quando «a informação passada por parte da equipa clínica era que o pior que podia fazer era ter uma gravidez imediatamente a seguir» e, nos dois anos seguintes. «Foi das piores fases por que passei», recorda, por não conseguir «ficar serena com qualquer decisão que tomasse». O dilema era interromper a gravidez ou acreditar que o bebé que carregava no útero não levaria ao despertar de novo carcinoma. «A decisão soberana é nossa, só a nós assiste. Quando mais precisamos de que algo seja certeiro, para garantir que vai funcionar e não conseguimos lá chegar, é horrível». Tomada a decisão, Maria Luísa viria a nascer saudável sem a mãe sofrer recidiva de cancro. «A seguir às tempestades acontecem as bonanças», resume.