Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
30 junho 2023
Texto de Irina Fernandes e Pedro Veiga Texto de Irina Fernandes e Pedro Veiga Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes

Olhar para fora e mais além

​​​​​Promover uma relação contínua ​entre as pessoas e a sua farmácia passa, acima de tudo, pela empatia: dispor tempo e serviços que respondam às necessidades, com recurso às melhores ferramentas.​

Tags
«Acompanhar doentes deve ser um pro- cesso estruturado, documentado e mantido no tempo. Acompanhar doentes não é fazer companhia», advertiu Cármen Monteiro, farmacêutica da Farmácia Luciano e Matos, em Coimbra, que falava na sessão paralela “Acompanhar as pessoas na relação com a farmácia”, moderada por Ana Tenreiro, da Direção da ANF. «Estima-se que 50% das pessoas não utilizem corretamente os medicamentos», apontou a ora- dora, justificando a importância de as farmácias comunitárias implementarem este serviço. À RFP, a farmacêutica acrescentou que «o acompanhamento farmacoterapêutico traz ganhos para toda a gente. Os utentes sentem-se empoderados, por serem envolvidos nas decisões, e valorizados nas suas queixas e preocupações, «porque têm um espaço que lhes permite fazer as perguntas que não conseguem na consulta médica». Para o farmacêutico, uma das principais vantagens «é a de o aproximar da área clínica, algo que tem sido tão reclamado, e de o colocar verdadeiramente no centro do uso racional, mais efetivo e seguro do medicamento». E ganha a farmácia, porque, por um lado, «estes serviços estão a ser remunerados» e, por outro, «constituem a melhor estratégia de fidelização de clientes». Por isso, Cármen Monteiro não hesita em dizer que, se antes se falava deste serviço como uma oportunidade, «agora falamos em responsabilidade. Temos e que- remos mesmo fazer isto, portanto vai acontecer, porque faz toda a diferença na vida das pessoas, torna a Saúde mais próxima de todos».

Acompanhar as pessoas é também um ato de responsabilidade social, que se pode traduzir numa garantia de que todas, mesmo as mais carenciadas, têm acesso aos medica- mentos de que necessitam. Essa é a essência do Programa Abem, da Associação Dignitude, de que Catarina Tacanho, da Farmácia Rosa, nas Caldas da Rainha, faz parte e veio falar ao congresso. A farmacêutica defendeu a importância da adesão das farmácias à rede solidária do medicamento, lembrando que «estamos inseridas nas comunidades e temos o foco voltado para nós, porque esta é a nossa área e porque conhecemos os problemas das pessoas». Mais: o Abem, conforme está estruturado, «é simples, permite uma dispensa com toda a tranquilidade», e oferece, a quem usufrui, dignidade na relação com a farmácia, «e isso é algo de um valor incomensurável para as pessoas».


Raquel Guerreiro lembrou que, nas compras online, as pessoas procuram sites de confiança. «Por isso nos associámos à marca Farmácias Portuguesas»

Magda Serras trouxe o tema das consultas de nutrição nas farmácias, que, defende, devem ser parte integrante dos serviços prestados. «Sabemos que a farmácia é o primeiro local a que as pessoas se dirigem quando algo não está bem e os nutricionistas podem ser aliados em mui- tas situações. Doentes crónicos, doentes diabéticos descompensados, doentes com problemas renais, doentes cardíacos: a nutrição pode ter um papel diferenciador na compensação da doença e na forma como ela progride». A nutricionista enfatizou que a realidade, hoje, das farmácias passa por um trabalho em rede e com equipas multidisciplinares, e «o nutricionista é uma das faces que escuta, mas que passa a mensagem ao restante balcão. É mais uma for- ma de aproximação às pessoas, mas também de fidelização à rede».

Já era tendência, mas a pandemia teve como consequência uma subida no número de pessoas que optam pelo espaço digital para fazer compras, e a área do medicamento e produtos de saúde não diferiu. Este é, pois, um espaço que tem de ser ocupado também pelas farmácias, que têm de se adaptar para ir ao encontro das pessoas e das suas necessidades, defendeu Raquel Nobre Guerreiro. A farmacêutica partilhou com os congressistas as dúvidas e as certezas do processo particular da Farmácia Dalva, em Lisboa, que optou por se associar à plataforma das Farmácias Portuguesas. «Todos nós, enquanto consumidores, quando fazemos compras online, procuramos sites de confiança. As Farmácias Portuguesas são uma marca já muito reconhecida, e que recolhe a confiança das pessoas». Na Dalva, a associação conduziu a um aumento do número de encomendas, com a vantagem «de a Farmácias Portuguesas nos possibilitar menos custos do que teríamos se estivéssemos sozinhas». Para Raquel Guerreiro, este é mais um caso em que a união faz a força: «Nós, farmácias, se estivermos todas juntas neste processo, somos, seguramente, mais fortes».


A Farmácia Comunitária tem de trabalhar num novo paradigma, com soluções tecnológicas que permitam «prever as necessidades das pessoas», defendeu Carolina Tábuas

Numa outra sala, o mote era diferente, mas complementar, e as soluções digitais das Farmácias Portuguesas foram também tema em debate. Na sessão paralela “Humanização Tecnológica ao Serviço das Pessoas”, coordenada por Paulo Gouveia, da Direção da ANF, Carolina Tábuas, responsável pelo desenvolvimento de soluções digitais da marca, sublinhou a necessidade de trabalhar num novo paradigma para «gerações cada vez mais exigentes», com soluções tecnológicas que permitam «prever as necessidades das pessoas que visitam as farmácias e posicionem as pessoas que as vão usar no centro: utentes e farmacêuticos». A engenheira biomédica de formação concluiu: essas soluções «só resultam se aportarem valor e não quebrarem aquilo que é exclusivo do ser humano».

Joana Carrasqueira, da Google, abordou os benefícios do machine learning na criação de soluções de saúde. E deu exemplos: a Dermassist, uma app em desenvolvimento pela gigante tecnológica californiana que permite utilizar o telemóvel para fotografar manchas na pele e fazer uma primeira avaliação do eventual risco que apresentam. «Não é um diagnóstico, mas dá uma sugestão muito fidedigna», explicou, e cuja qualidade tende a melhorar à medida que a base de dados vai aumentando a cada fotografia e o sistema vai “aprendendo” com os seus acertos e erros.

À RFP, lembrou que o papel da tecnologia é servir o humano. «Nunca vai poder substituir um aconselhamento farmacêutico, por exemplo. Mas pode ajudar o profissional de saúde a tomar melhores decisões, de forma mais rápida».


Joana Carrasqueira sustenta que se vive o momento ideal para fazer parcerias com novos stakeholders, como gestores de dados, engenheiros ou programadores

Joana perspetiva o paciente do futuro como alguém tecnológico, que quer conveniência e acesso a informação rápida e fidedigna. «Quer saber mais sobre a sua saúde, longevidade, a gestão da sua terapia e da sua doença». Esse perfil, quando entrar na farmácia, vai acompanhado das aplicações com que gere a sua condição e que tem instaladas no relógio ou no anel ou no telemóvel, e o atendimento irá beber também dessa in- formação «e será muito personalizado». Por isso, alerta: «na intercessão entre tecnologia, necessidade de informação e área da Saúde, o farmacêutico é o profissional de saúde mais bem posicionado para dar resposta às pessoas. Tem uma forte componente técnico-científica na sua formação, é um profissional curioso e está muito predisposto a aprender mais sobre tecnologia e a trabalhar em equipa». Este é, assim, o momento ideal para fazer parcerias com novos stakeholders, juntando a médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas… outros conhecimentos, como o do gestor de dados, o engenheiro ou o programador. «Todos estes players terão um papel fundamental no codesenvolvimento da tecnologia, mas o farmacêutico, enquanto especialista do medica- mento, é quem sabe exatamente como é que quer que os serviços sejam desenvolvidos».

Hélder Martins, da Associação Mellitus Criança, usou a comodidade como métrica do impacto da tecnologia na vida das pessoas com diabetes mellitus tipo 1. Se, há 10, 15 anos, uma pessoa com a doença necessitava de mais de 7.600 picadas ao longo do ano, entre a medição da glice- mia e a administração de insulina, hoje, a gestão da doença pode ser feita com menos de 150 picadas.