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30 novembro 2023
Texto de Teresa Oliveira (WL Partners) Texto de Teresa Oliveira (WL Partners) Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de André Torrinha Vídeo de André Torrinha

Olhar para dentro como processo de cura

​​​​​Aos 21 anos, Cláudia Costa soube que não poderia ter filhos. Hoje faz da fisioterapia o seu propósito de vida, ajudando outras mulheres.​

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Cláudia Costa tinha 19 anos e planos para a vida muito bem definidos. Terminar o curso com boas notas, arranjar um bom trabalho, ter uma casa, casar e ter filhos. «São estes os objetivos que a sociedade nos vai incutindo de forma inconsciente, tentando encaixar-nos numa caixinha», considera. «E eu sempre fui muito assim», descreve-se, «sempre fui aquela filha boa aluna e bem-comportada».

Uma década e meia depois, Cláudia encara o passado com serenidade e o futuro com otimismo. Demorou a alcançar este estado de espírito. Aos 19 anos foi-lhe descoberto um quisto num ovário. «À partida seria um quisto hormonal, portanto não havia qualquer problema, bastava fazer ecografias de rotina para ir verificando a evolução», recorda. A realidade revelou-se mais complicada. O quisto foi aumentando de tamanho, de tal forma que os médicos lhe disseram que teria de ser removido. Enquanto recuperava da operação, ouviu pela primeira vez as palavras que a obrigaram a refazer um dos principais projetos que tinha traçado para a sua vida adulta: ser mãe. A cirurgia correu bem, mas existia o risco de ficar infértil.

A possibilidade transformou-se em certeza. Cláudia tinha 21 anos e perdeu as referências de uma vida. «Foi como se me tivessem tirado o tapete, a sensação é mesmo essa. Então e agora? Quem sou eu, se não vou ser mãe?», perguntava-se. «Quando a sociedade considera que essa é uma das componentes mais importantes na vida de uma mulher!». Não só os projetos que a norteavam estavam abalados, como enquanto finalista de um curso na área da saúde, tinha conhecimentos que a faziam inquietar-se com a sua qualidade de vida. «Como vai ser a minha saúde se aos 21 anos entrei em menopausa precoce, quando é suposto isto acontecer aos 45, 50 anos? Como vai ser, se sabemos que a mulher vai perdendo massa óssea? E em termos cardiovasculares, que também tem alguma influência? E quando tiver 40, 50, 60 e por aí fora?», as perguntas surgiam em catadupa.


No consultório adapta as técnicas que aprendeu a cada caso

Hoje, se pudesse, sossegaria a Cláudia do passado: «Calma, vais ver que isto vai trazer coisas muito positivas». Dir-lhe-ia também «para não se fechar tanto porque há um mundo para descobrir. E para ela mesma se descobrir». Na realidade, demorou vários anos para o perceber. Nos dois anos seguintes ao diagnóstico, não conseguiu sair de um círculo de doloroso e constante autoquestionamento. Um dia, resolveu pedir outra opinião médica. “Cláudia, esqueça! É como se os seus ovários fossem os de uma senhora de 83 anos”, disse-lhe o médico. «Aquilo foi um novo choque e ao mesmo tempo um acordar». Lembra-se de sair dessa consulta lavada em lágrimas, mas uma voz dizia-lhe baixinho: «Não é este o caminho, tens de arranjar outra alternativa».

Começou então um percurso de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. «Se não posso ser mãe, então qual é o meu propósito? O que vou fazer para acordar entusiasmada e ser feliz na vida?». Começou a procurar conhecer-se melhor, perceber o que gostava e não gostava. Frequentou muitos workshops, leu ainda mais livros, tentando perceber como funciona o corpo da mulher sem as hormonas produzi- das nos ovários. Na altura já tinha concluído a licenciatura em fisioterapia e trabalhava com pessoas com disfunções e deficiência. Por sugestão da mãe do seu companheiro, experimentou o shiatsu, uma forma de se diferenciar profissionalmente. Estava à espera de aprender a fazer massagens, mas a energia que sentiu nesta sessão marcou-a profundamente: «O que é isto que o meu cérebro não entendeu? O que é isto que não é palpável? Comecei a perceber que somos mais do que o músculo e o cérebro. Foi um portal, uma abertura».


Cláudia soma formações onde se misturam os interesses profissionais, pessoais e a curiosidade

Cláudia explica que desde pequena teve gosto pela área da saúde, queria perceber como o corpo funciona. «Foi sempre fascinante», diz, entusiasmada. O seu currículo é uma soma de formações onde se misturam os interesses profissionais, a necessidade de encontrar respostas para si mesma e a curiosidade. Inconscientemente, ou não, elas andaram par a par e completam-se. Começou a fazer formações de Snoezelen (terapia de ambiente multissensorial para estímulo dos cinco sentidos), osteopatia, entre outras terapias complementares. À fisioterapia juntou o Pilates Clínico, o yoga, a dança e fez várias formações em saúde da mulher. Somou-lhes um percurso que descreve como o processo de espiritualidade de «olhar para dentro e procurar o autoconhecimento, independentemente de religiões, cada um acredita naquilo que sente». Porque, pensa, «as pessoas estão muito viradas para fora. E era como eu estava antes, de facto».

Passaram 13 anos desde que iniciou este processo de desenvolvimento pessoal. «O início foi uma descoberta que partiu da vontade de criar uma coisa que me fizesse querer viver. À medida que me fui descobrindo, foi uma cura». Agora sente que encontrou um mundo novo. «Como é que eu nunca tive conhecimento de que a vida podia ser diferente? Senti que andava a dormir, desconectada de mim. Comecei a respeitar-me, em vez de fazer o que os outros pensavam ser melhor. E neste momento é o que me faz bem, desde que não prejudique os outros». A Cláudia reservada e que não sorria à primeira deu por si uma pessoa diferente, com facilidade de sorrir, de dar gargalhadas. «Eu não gostava de mim, nunca achei muita piada em ser mulher. Hoje digo que é maravilhoso».


A missão de Cláudia é ajudar outras mulheres

Como todos os outros seres humanos, tem dias menos bons, mas afirma ter aprendido a sair rapidamente desse lugar menos positivo. Um conhecimento e percurso que, percebeu, poderia partilhar com outras pessoas, em particular mulheres. «A minha missão é essa: ajudar outras mulheres a não caírem no fundo do poço, a dar essa mão», o que faz através de um método de fisioterapia integrativa, que foi desenvolvendo ao longo do percurso pessoal e profissional.

Uma das suas grandes certezas é que «todo o ser humano, desde que queira, está em constante mudança. Nós podemos melhorar a cada dia, num processo que nunca termina. Só se eu decidir que não». Cláudia Costa sabe que vai continuar a caminhar. A pensar em si, mas também nos outros que ajuda com a sua história de cura.

 

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