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3 fevereiro 2018
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

O surf da serra

​​​​​A história do atleta que vê o snowboard como estilo de vida.

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Atleta desde os cinco anos, Guilherme Lopes pratica snowboard duas a três vezes por ano. É também federado em hóquei em patins, com treinos quatro vezes por semana. No final do ano passado terminou o curso de Ciências Farmacêuticas e começou um estágio em Marketing de Oftalmologia. Pelo meio, ainda encontra tempo para gravar e editar vídeos, e gerir uma página de Facebook. O snowboard é o fio condutor de todas as áreas da sua vida.

A paixão pela neve começou em criança por influência dos pais, ambos adeptos de ski. Aos 12 anos, a curiosidade, aliada a uma boa dose de rebeldia, levou-o a experimentar o snowboard com o irmão e mais dois amigos. «O primeiro dia foi, em termos de cansaço, um dos piores da minha vida», lembra o jovem farmacêutico, agora com 23 anos. Mas o cansaço não o desmotivou: «tornou-se logo o meu hobby favorito. Os meus dias começaram a ser ocupados a ver vídeos de snowboard e a tentar aprender as manobras». No mesmo ano teve um instrutor que o ajudou a dar os primeiros passos na prática do desporto: «a criação de bases é o mais importante», explica. E garante que «a fluidez inicial só se ganha com aulas».

Inspirado pelo instrutor, Guilherme vê, desde então, a modalidade não só enquanto desporto, mas também como forma de sair da zona de conforto e criar uma ligação com a natureza. E descreve-a como «O sentimento de liberdade ao descer a montanha, respirar o ar puro, estar em harmonia com a natureza. Depois a parte da adrenalina, dos saltos e das manobras, com muitas quedas à mistura.» Mas, acima de tudo, está o espírito de equipa.



Em 2013, numa snowtrip com amigos em Andorra, «Passava das 16h e as pistas já esta​vam fechadas, mas tinha nevado tanto que dava para andar na rua. E nós fomos fazer street snowboarding, com cerca de 50 pessoas a ver-nos. E foi aí que senti que as pessoas gostavam do que fazíamos.» Assim nasceram os "Goonies​", uma equipa de sete amigos, amantes da modalidade, com quem Guilherme tem partilhado as aventuras do snowboard. O objectivo é também promover a modalidade, nomeadamente através da partilha de vídeos protagonizados, gravados e editados pelos próprios na página de Facebook, que conta com cerca de 1.200 seguidores. Enquanto equipa já participaram em várias competições, mas garante que o mais importante é que «cada vídeo seja mais criativo, melhor e mais consistente que o anterior» e que, a cada semana, possam sentir que evoluíram em termos de manobras. Para Guilherme, a competitividade saudável entre amigos e evolução conjunta são elementos centrais da prática.

 


Três vezes campeão universitário de snowboard, Guilherme fala das vitórias com modéstia e das quedas com orgulho: «É para isso que andamos. Para superar os limites. No final do dia vemos as filmagens e rimo-nos das nossas próprias quedas». Ao longo dos anos foi coleccionando pancadas, traumatismos, nódoas negras e hematomas, mas nunca teve uma lesão grave. «Eu tento usar várias protecções, para depois não estar lesionado e não pôr em causa o hóquei. Esta é a gestão mais difícil no snowboard/hóquei» explica, acrescentando que já convenceu os colegas de equipa a ir com ele para a neve.



Desde que começou, já fez cerca de 20 snowtrips entre Andorra, Les Deux Alpes e Serra Nevada. Mas, embora Portugal nem sempre tenha boas condições para praticar a modalidade, Guilherme rende-se aos encantos do país: «Sinto que a Serra da Estrela é capaz de ser a montanha mais linda onde já estive e é nossa.»

Em retrospectiva, guarda com carinho as primeiras vezes em que conseguiu fazer certas manobras: «porque é uma barreira de medo e eu venci esse medo», explica. Recorda ainda: «muitos episódios de acordar depois de ter nevado brutalmente, com meio metro de neve e a sensação de descer no meio das árvores sem rumo. Parece que estamos nas nuvens», remata com um sorriso.

Há três meses terminou o curso de Ciências Farmacêuticas e iniciou um estágio na área. Mas no trabalho, como no snowboard, encara o desafio com um mote: «Comparo este entusiasmo a estar no topo da montanha a olhar para o salto: se correr mal, sei que vou ter lá o resto da equipa para suportar. Se correr bem, é um desafio enorme que foi superado.»

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