Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
9 novembro 2020
Texto de Patrícia Fernandes Texto de Patrícia Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

O rio dos Templários

​Ferreira do Zêzere é um destino perfeito para a prática de actividades náuticas.

Tags
Quem visita esta terra deixa-se logo deslumbrar pela antiga vila de Dornes, apelidada de Península Encantada. «Existe desde tempos imemoriais e estima-se que seja anterior à própria declaração da nacionalidade», afirma Rui Mamede, psicólogo organizacional e filho da terra.


O psicólogo Rui Mamede junto à Torre de Dornes, que surpreende pela planta pentagonal

Considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal na categoria Aldeias Ribeirinhas, Dornes distingue-se pela componente histórica. A Torre Templária, utilizada como atalaia defensiva pelos Templários, foi edificada por Gualdim Pais no século XII e diferencia-se por ter cinco faces, o que a torna um exemplo raro da arquitectura militar da Reconquista aos mouros.


A arquitectura da Igreja de Nossa Senhora do Pranto congrega diferentes estilos, como o gótico, o maneirismo e o barroco

Mesmo ao lado avista-se a Igreja de Nossa Senhora do Pranto. Fundada pela Rainha Santa Isabel, segundo a lenda, no século XIII, a actual construção foi edificada a mando de D. Gonçalo de Sousa. Nos dias de hoje ainda são realizadas as peregrinações ao Santuário de Nossa Senhora do Pranto, os círios, que decorrem entre a segunda-feira de Páscoa e o terceiro domingo de Setembro.

Nesta vila, envolvida pelas águas do rio Zêzere que se movem lentamente, há casas de xisto e ruas estreitas, em pedra. Ao percorrê-las, os visitantes deparam-se com um cais, onde se encontra o “Maria Odete”, barco que faz passeios pelo rio.


O pai de Hilário Soeiro deu o nome da filha mais velha, Maria Odete, à pequena embarcação

Hilário Soeiro, proprietário da pequena embarcação de madeira, mandada construir pelo pai na década de 1950 em Aveiro, dedica-se a este negócio desde pequeno. «Inicialmente os passeios eram feitos na barragem de Castelo de Bode e depois em 1990 vim para Dornes», conta.

No decorrer da viagem, com duração de 20 minutos ou uma hora, a paisagem que se observa é pura e mágica. Os vales e as árvores olham para o rio, reflectindo a sua imagem, e os pássaros conversam entre si, proporcionando momentos únicos aos passageiros.


O Lago Azul, situado na albufeira de Castelo de Bode, é um espaço muito procurado por turistas

Em plena albufeira de Castelo de Bode estão localizadas praias de águas límpidas, como a Praia Fluvial da Castanheira ou Lago Azul.

«Este lugar oferece aquilo que há de melhor no nosso país, em termos de desportos fluviais e de cenário de rio», assegura Rui Mamede. E acrescenta: «Existe uma oferta turística desenhada para proporcionar uma experiência de calma, tranquilidade e serenidade».

É também aqui que procura encontrar-se consigo próprio e relaxar da azáfama do dia-a-dia, entre as viagens que faz de Ferreira do Zêzere a Coimbra. Enquanto ferreirense, reconhece a mais-valia de viver nesta região: «Frequentemente reclamo esse direito para mim e venho aqui refrescar-me».

Graças às suas excelentes condições, a estância balnear é muito procurada para a prática de actividades náuticas, como o windsurf, o jet ski, a canoagem e o wakeboard. Esta última tem vindo a ganhar cada vez mais notoriedade, por ter recebido o Mundial da modalidade.

Já um pouco mais afastado do rio Zêzere, em Areias, há pontos de interesse que merecem ser contemplados, como a gruta de Avecasta. Este local destaca-se pelas ocupações de que foi alvo durante vários períodos da história, desde o Neolítico à era medieval. «Já é inegável o valor arqueológico pelos exemplares metalúrgicos descobertos, património de grande riqueza», refere o psicólogo organizacional.


Quem visita o moinho de vento de Avecasta avista os contrafortes das serras de Alvaiázere, Lousã, Alvéolos e Muradal

Perto da gruta, no cume de um maciço, ainda é possível observar, o moinho de vento de Avecasta, em madeira, que preserva a memória das actividades económicas da população.

A não perder também é a Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Areias, templo fundado no século XV e mandado ampliar no século XVI por D. Manuel I.


Este solar foi palco, no final do século XIX, do primeiro ensaio da marcha patriótica “A Portuguesa”, composta por Alfredo Keil

Ferreira do Zêzere foi outrora habitada por pessoas nobres e famílias importantes que deixaram marca através dos solares e quintas espalhados pelo concelho. Algumas destas propriedades apresentam particularidades interessantes, como a antiga residência do último Monteiro-Mor da vila de Dornes, Manuel Martins Ferreira. «Aqui foi interpretada pela primeira vez a marcha “A Portuguesa”, que veio a ser o hino nacional, da autoria de Alfredo Keil, numa altura em que passava férias em Ferreira do Zêzere», descreve Rui.


O abastecimento público de água foi uma das obras de beneficiação de Maria Dias Ferreira, a benemérita que inspirou a criação da Fundação

De igual interesse é também a Quinta de São José da Cabeça do Carvalho, antiga residência dos comendadores de Ferreira, que se supõe do século XVI. Actualmente é sede da Fundação Maria Dias Ferreira, instituída em 2008, por iniciativa de Maria Isabel e José Afonso Ferreira de Sousa.

Esta instituição sem fins lucrativos tem como objectivo honrar a memória e dar continuidade à obra da figura inspiradora que levou à sua criação, a benemérita Maria Dias Ferreira.

A fundação actua nos domínios social e cultural, com incidência no concelho, e foca-se na preservação e divulgação do património de Ferreira do Zêzere.

Embora não esteja aberta ao público, mediante marcação é possível ficar hospedado na quinta, equipada com quartos, cozinha, sala de estar, salão, jardim, e apreciar muitos espaços ainda com traços originais, como a capela, o poço, o fontanário e o alpendre.

De boa gastronomia também se faz uma terra. Aqui abunda o peixe e o lagostim de rio, o vinho, o mel, os ovos ― ou não fosse Ferreira do Zêzere a capital do ovo ― e os doces tradicionais.


A pastelaria Pérola do Zêzere fabrica os premiados doces bons maridos

Os mais famosos são os bons maridos, feitos à base de açúcar, ovos, amêndoa e grão-de-bico, pelas mãos da doceira Emília Peixoto. A participação da pastelaria Pérola do Zêzere nas 7 Maravilhas Doces de Portugal, em 2019, impulsionou ainda mais o negócio deste doce. Assim o confere Emília: «Têm sido muito procurados, muito mesmo. Vêm pessoas de todo o lado».

À semelhança de tantos​ outros ferreirenses, Rui é adepto deste doce regional e mostra-se orgulhoso. «É mais um exemplo de que a simplicidade traz grande valor e sofisticação. Mais uma razão para visitar Ferreira do Zêzere e conhecer as suas gentes».​

 





Notícias relacionadas