Nascemos, certidão, base de dados. Crescemos, cartão do cidadão, base de dados. Seguimos para o infantário, para a escola, para a universidade, três vezes base de dados. Abrimos conta no banco, utilizamos o Serviço Nacional de Saúde, criamos um endereço de e-mail, compramos casa, carro, uma viagem de férias e, a todas essas decisões, somamos outra: sim, eu autorizo que registem os meus dados numa base de dados.
A nossa informação pessoal anda por aí, dispersa por um conjunto incomensurável de servidores, zero e uns misturados com uns e zeros de um zilião de bases de dados de objectos e serviços, a uma potência que seria inimaginável há pouco mais de duas décadas. «A análise de big data é a primeira de quatro tendências que estão a mudar a estrutura e a forma de trabalhar das empresas», explicou Philip Evans, vice-presidente do Boston Consulting Group (BCG), durante a sua participação no painel «Inovar na Relação com o Consumidor», no 12.º Congresso das Farmácias.
«A partir de 2007, o volume de informação no mundo expandiu, ao mesmo tempo que o volume de informação analógica foi diminuindo por causa da substituição que o crescimento do digital impôs», contextualizou Evans, «mas, mais importante, é que metade dessa informação estava em computadores, o que quer dizer que está na Internet, o que quer dizer que pode ser combinada». Subitamente, múltiplas bases de dados podem ser tratadas como um único maná de informação. A partir daí, torna-se possível identificar padrões de comportamento e consumo – informação preciosa para a sociedade e a economia global do século XXI.
A segunda tendência que Evans identificou prende-se com o salto qualitativo no domínio da inteligência artificial. Durante décadas, os computadores evoluíram a duas velocidades: foram ficando cada vez melhores num conjunto de tarefas, como a aritmética, mas continuavam a falhar miseravelmente face a outro tipo de problemas, como o reconhecimento facial, «coisas que até uma criança de três anos consegue fazer», de acordo com o consultor do BCG.
O avanço recente, revelou Evans, surgiu na sequência de «um concurso da Universidade de Stanford para tentar desenvolver um software de reconhecimento de objectos em fotografias». Uma equipa da Universidade de Toronto venceu com uma nova abordagem: as neurais networks que, em versão simplificada, são uma tentativa de replicar de forma artificial o funcionamento do cérebro humano. E os benefícios desse pulo tecnológico já andam por aí, seja de cada vez que o Facebook consegue reconhecer que estão cinco pessoas na fotografia que acabou de publicar na sua cronologia ou quando pergunta à Siri qual é a farmácia de serviço mais perto do local onde se encontra.
Outra das mudanças recentes identificadas por Philip Evans é o crescimento da chamada Internet das coisas, ou seja, «o fenómeno a partir do qual podemos usar sensores e dispositivos de modo a dar à tecnologia a capacidade de estar consciente do seu ambiente e de partilhar informação numa rede». Objectos que, até há pouco tempo, existiam apenas no tempo e no espaço, desligados do mundo virtual, passam a estar online e a reagir às circunstâncias. Faltam-lhe iogurtes e legumes em casa? O seu frigorífico avisa-o e até encomenda por si junto do seu supermercado de preferência. Está a regressar do emprego num dia frio e chuvoso de Inverno? O seu aquecimento central adivinha e liga-se sozinho para que a sua casa esteja à temperatura ideal quando chegar. A oferta tecnológica neste domínio é cada vez maior, fruto da «queda de 75% no preço médio dos sensores», como explicou o consultor do BCG.