Farmácia Alentejana (Castro Verde)
Segunda-feira. Um comprimido em jejum, dois depois da primeira refeição do dia, mais um depois do almoço e um e meio antes de deitar. Terça-feira é parecido, mas não igual. Mantém-se a toma em jejum, mas, saciado que está o apetite matinal, não deve tomar dois mas apenas um comprimido. Ao almoço e ao jantar é igual à véspera. Quarta-feira é outra história. Novo ajuste na medicação e agora as dúvidas começam a crescer. Quinta-feira, a terapêutica é a mesma do início da semana. Sexta-feira: será que tomou mesmo a medicação ao acordar?
Confuso? Não é caso para menos. Esta é a vida de um doente polimedicado, sempre a contas com aquilo que deve tomar e a que horas, forçado a uma atenção redobrada para garantir que a terapêutica está a ser seguida de forma exemplar. «Torna-se muito difícil de gerir», resume Maria Celeste Caeiro, da Farmácia Alentejana. «Foi por isso que nos ocorreu desenvolver o Sistema Personalizado de Dispensa de Medicamentos (SPDM)», diz.
Na prática, explica, «consiste em criar blisters semanais com a distribuição da medicação diária, o que permite que o utente cumpra a sua medicação e não esteja preocupado se consegue geri-la ou não».
Cada blister é personalizado com o nome e a fotografia do doente, e a medicação é distribuída de forma inequívoca: os dias estão identificados de modo claro e as horas da toma não deixam margem para dúvidas.
O projecto da Farmácia Alentejana está ainda em fase-piloto. Serve 52 utentes de um lar da região, entre eles «pessoas que não sabem ler e não sabem seleccionar a medicação do pequeno-almoço, almoço e jantar», esclarece Maria Celeste Caeiro. «Nós entregamos os blisters semanalmente no lar e trazemos os blisters que foram usados na semana anterior, e nessa altura damos conta de que há medicação que não está a ser tomada».
E é aqui que se dá um pequeno grande twist no trabalho da Farmácia Alentejana. A gestão do SPDM é feita através de um software desenvolvido pela própria farmácia. Os padrões de consumo são registados no computador e, se houver desvios, a comunicação entre profissionais de saúde é imediata. «Trocamos informação com a enfermeira do lar através do próprio programa se, por exemplo, alguém interrompe ou troca a medicação», revela a proprietária da farmácia. «O grande objectivo é chegar aos utentes de ambulatório, sobretudo aqueles que não sabem ler e não têm acompanhamento. Esses são o nosso alvo, porque achamos que é um projecto que tem um grande impacto a nível social e que teria um grande impacto a nível nacional».