Com a touca rosa na cabeça, Sónia Correia entra na piscina acompanhada por Ana Isabel Ferreira. A menina chapinha, lança água à terapeuta, brinca com o patinho e o peixe de plástico. Ri-se, feliz. Não tem medo nenhum da água e é clara a intimidade com a terapeuta, conhecem-se desde que Sónia tinha um ano. O pior é na hora de sair. Como qualquer criança, Sónia adia o mais que pode o momento do fim da brincadeira, enquanto a mãe, Suyane Felipe, a apressa, porque está prestes a começar a próxima terapia, da fala.
Sónia sofre de síndrome de Cornelia de Lange, uma alteração genética com repercussões a nível cognitivo e motor. A doença foi descoberta nos primeiros dias de vida, o que permitiu iniciar muito cedo um conjunto de terapias que a ajudaram a alcançar um bom nível de autonomia e bem-estar. Aos três meses começou a fazer terapia ocupacional, para estimular o desenvolvimento, no balanço dos oito anos de vida foram várias as actividades que experimentou: a fisioterapia, terapia aquática, ballet e yoga contribuíram para diminuir a rigidez muscular, melhorar a fluidez e coordenação de movimentos. Com a terapia da fala, Sónia aprendeu a mastigar e engolir, hoje contribui para o desenvolvimento da fala, assim como a terapia musical. As aulas de psicologia educacional ajudam-na no relacionamento interpessoal.
Nos primeiros anos, a intervenção terapêutica incidiu sobretudo nos marcos do desenvolvimento motor, «os mais prevalentes nos primeiros anos de vida», explica a terapeuta ocupacional. A partir dos dois a três anos, as terapias foram sendo ajustadas às necessidades. Nas sessões de terapia ocupacional, as actividades lúdicas, «o brincar e a interacção» eram usadas para promover o desenvolvimento. Sónia alcançou uma boa autonomia motora, é uma menina «que anda, corre, desloca-se bem e tem boa motricidade fina», confirma Ana Isabel Ferreira. As limitações manifestam-se sobretudo ao nível da linguagem verbal e do desenvolvimento cognitivo. Sónia, a mãe e a ama estão a aprender linguagem gestual, para criar mais um meio de a menina expressar o que sente ou precisa. Sónia sabe, por exemplo, fazer os gestos correspondentes a dói, dente, barriga ou cabeça, conseguindo indicar se tem alguma dor.
Os apoios a que Sónia tem direito na escola resumem-se a oito horas semanais de ensino especial. «É claramente insuficiente, é preciso muito acompanhamento para alcançar melhorias», garante o pai, António Correia. Ao longo dos anos, a família tem complementado os apoios estatais com terapeutas privados, o que implica um grande esforço financeiro, sobretudo porque a mãe abandonou o trabalho como advogada para acompanhar Sónia e os outros dois filhos.
Dificuldades à parte, o saldo é muito positivo. Ao longo dos anos, a Sónia «teve a sorte de encontrar profissionais brilhantes», diz a mãe. Hoje, a criança tem uma vida bastante normal, com uma autonomia que, no início, nem era possível sonhar. Muito se deve ao trabalho conjugado das várias terapias. «A evolução de uma criança é o somatório dos vários estímulos que lhe são proporcionados, por isso é tão importante o trabalho em equipa multidisciplinar e a intervenção com os pais», resume Ana Isabel Ferreira.