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27 novembro 2020
Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista e andrologista) Ilustração de Mantraste Ilustração de Mantraste

O amor tem dois carrascos

​​​​​Tabaco e alcoolismo afundam o seu desempenho sexual.

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O vício de fumar é uma das mais frequentes causas de disfunção eréctil nos homens, sendo provável que também afecte a sexualidade das mulheres.

O fumo inalado do cigarro é absorvido a nível pulmonar e chega rapidamente ao sistema sanguíneo. É nos vasos por onde circula o sangue que se vão dar os principais efeitos das substâncias tóxicas que o tabaco contém, danificando o endotélio vascular, isto é, a fina camada celular que reveste o interior dos vasos. Danificam também o tecido muscular que se encontra na parede das artérias e que serve para regular a vasodilatação/vasoconstrição do sangue levado aos órgãos.

Muitos estudos médicos demonstram que os fumadores têm duas a três vezes maior probabilidade de terem problemas vasculares do que uma pessoa que não fuma. Com o hábito de fumar, as artérias começam a sofrer o espessamento das células e a perder a capacidade elástica da parede das artérias. Alguns órgãos são particularmente afectados por esse “entupimento” da circulação sanguínea.

No caso do pénis, o progressivo impedimento da circulação sanguínea é especialmente notado quando precisa de uma entrada rápida e intensa de sangue, como acontece quando é preciso que o pénis fique cheio de sangue, sob pressão, para atingir uma erecção completa. Se o sangue não tiver um débito suficiente para o enchimento, a erecção não vai acontecer normalmente, podendo existir insuficiência eréctil, ligeira de início, mas que pode chegar à disfunção eréctil completa.

A nicotina, uma das substâncias químicas do tabaco, é igualmente responsável pela alteração do sistema venoso. E as veias do pénis são essenciais para regular a manutenção da pressão sanguínea do interior do pénis erecto, devendo estar encerradas durante a erecção, abrindo apenas para a saída do sangue e a cessação da erecção. O sistema venoso peniano é particularmente importante para uma boa qualidade eréctil.

Sabe-se que o tabaco é um importante factor de risco de disfunção eréctil nos homens jovens, particularmente nos que começaram a fumar entre os 15 e 20 anos de idade. Os fumadores com problemas cardiovasculares apresentam três vezes maior risco de desenvolver disfunção eréctil
do que os fumadores sem doença vascular.

E em relação ao álcool? Existe a ideia generalizada de que o álcool pode ter vantagens no desempenho sexual, desde que consumido moderadamente. Em algumas circunstâncias isso pode ser verdade, já que uma dose moderada de álcool faz perder a timidez, estimula os sentidos, aumenta a capacidade de seduzir e de ser seduzido. O problema na dose moderada é saber quando se está a ultrapassar a linha vermelha.

Mas uma coisa é certa: exagerar no consumo traz consequências negativas, a vários níveis. No âmbito sexual baixa o desejo, perturba a erecção e dificulta atingir o orgasmo. Tudo isso porque o álcool em excesso determina consequências neurológicas que comprometem todos os sentidos: tacto, olfacto, visão, audição e paladar. É certo que pode dar uma sensação de maior relaxamento corporal, mas faz com que os estímulos eróticos, por mais intensos que sejam, atrasem ou inibam as sensações eróticas e perturbem a resposta sexual. E no estado de embriaguez aguda o corpo e a mente ficam descontrolados ou adormecidos.

Uma situação ocasional de imoderação é triste e indesejável, mas recuperável. Contudo quando o alcoolismo é crónico, as repercussões são tremendas, a nível físico e do comportamento pessoal, familiar e profissional. Nessa fase extrema, as consequências sobre a sexualidade são também dramáticas, pois a habitual consequência, que é a cirrose hepática, leva a uma disfunção eréctil completa e irreversível.

Como prevenir e tratar um problema sexual devido ao tabaco ou ao álcool? É suspender totalmente o tabaco e moderar o consumo de álcool. Se isso for feito antes de serem estabelecidas lesões irreversíveis, pode haver melhoria das queixas. Ou seja, quanto mais cedo se deixar o vício do tabaco e o abuso do álcool, melhores são as perspectivas de recuperação, não só sexuais, como do sistema cardiovascular e de outros sistemas.
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