Aos 59 anos, Rui Vieira foi apanhado de surpresa pelo diagnóstico de cancro colo-rectal, que mudou a sua vida por completo. Optimista por natureza, foi na família e nos amigos que reuniu a força para lutar contra a doença. «Não resolve, mas ajuda», afirma. «Muitas vezes é preciso pontapear a má sorte e contrariar até a própria natureza».
O medo, garante, é normal. «Não há nenhum corajoso que diga que não tem medo». Na Europacolon, onde é voluntário há dez anos, foram muitas as situações em que se deparou com o medo das pessoas: medo da doença, medo da palavra, medo da verdade.
Rui acredita que desmistificar o medo associado ao nome é um bom princípio. «Os jornalistas, por exemplo, continuam a falar em doença prolongada, porque sabem que a palavra ainda magoa muita gente», explica. «Mas não podemos continuar a fazer isso».
Depois, o medo da verdade. Em simpósios e conferências sobre o cancro digestivo, quando questionadas sobre a possibilidade de fazer uma colonoscopia ou endoscopia, as pessoas da audiência admitem que evitam os exames. «Dizem-nos: “Não me fale numa coisa dessas!”», conta, recordando que, quando detectada a tempo, a “verdade” pode ser resolvida.
Por isso, o ex-bancário de 72 anos apela a que todos se mantenham atentos aos sinais do corpo e, em caso de diagnóstico de cancro, procurem continuar optimistas. «Quando uma pessoa tem um problema de cancro e sente que já está eliminada, é um erro», sublinha. «Encarem o problema não com desânimo, mas com a força de querer sobreviver».