O dia 14 de fevereiro entrou no calendário de namorados e casais, e com ele a pressão de programas especiais. Surpreender a parceira ou parceiro revela-se cada vez mais uma missão difícil, sem cair nos lugares-comuns. Atento a essa dificuldade, o Museu da Farmácia propõe uma experiência única para casais que procuram uma celebração diferente: a visita temática “5000 anos de História Sexualidade”, comentada pelo diretor João Neto. Os participantes vão conhecer como antigas civilizações encaravam o amor, a intimidade, e a saúde.
Entre as peças da exposição destaca-se o modelo anatómico de uma mulher grávida do século XVII, usado por médicos e parteiras, preservativos decorados com cenas eróticas, mostrando a complexa relação das sociedades com a intimidade e a saúde sexual. Cintos de castidade (femininos e masculinos), usados para proteção ou controlo do prazer sexual; vibradores medicinais, criados no século XIX para tratar a histeria feminina; massajadores vibratórios Veedee, anunciados como instrumentos de cura universal no século XIX.
Cada peça é acompanhada de histórias que revelam a evolução das mentalidades sobre sedução, saúde, proteção e moralidade, permitindo uma reflexão sobre a sexualidade como parte essencial da história humana.
«Este evento faz parte da missão do Museu da Farmácia de explorar temas universais através do seu acervo diversificado, que inclui mais de 17 mil peças provenientes de culturas como Mesopotâmia, Egito, Roma, e até mesmo da era espacial», explica João Neto. «E sendo um museu dedicado à temática da saúde, a sexualidade não poderia deixar de estar presente na nossa exposição» afirma Paula Basso, curadora do Museu.
Preservativo
Os preservativos foram usados como método de controlo da natalidade ou para proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis (DST) pelo menos desde o Antigo Egipto. Os primeiros preservativos egípcios eram em linho fino. Na China Imperial, por seu lado, os preservativos eram em papel de seda humedecidos em óleos lubrificantes. Nas civilizações clássicas grega e romana, existem outras versões como as bexigas-natatórias de alguns peixes, bexigas de cabra, ou a pele dos intestinos de cordeiro. Os romanos acreditavam que as DST eram castigos de Vénus, a deusa do Amor. Também na Idade Média, e perante a disseminação das DST, a solução encontrada foi uma proteção para o órgão sexual masculino em linho ou peles de intestino de animais, envolvidas em ervas medicinais. No século XVIII, os bordéis vendiam aos clientes preservativos de linho embebidos em enxofre ou soda cáustica para suavizar o tecido e presa com uma fita para cobrir a glande do pénis, usada para proteção contra a sífilis. Em meados do século XIX, começam a ser produzidos os primeiros preservativos em borracha, feitos por medida. Eram espessos, caros e reutilizados depois de lavados. Na década de 1920, as vendas multiplicaram-se, em especial após a invenção do preservativo em látex produzido em massa, mais confortáveis e muito mais baratos. Começaram a ser também utilizados para evitar gravidezes indesejadas.

Decorado com desenho de um encontro sexual onde a mulher se se debate e repele o parceiro. O preservativo termina com fitas para serem atadas. Pele de intestino de ovelha, final do século XVIII, Inglaterra
Cinto de Castidade Masculino
Os cintos de castidade masculinos foram concebidos para restringir o prazer sexual e impedir os adolescentes de se masturbarem, por se acreditar que causava a cegueira. No século XIX, os cintos de castidade masculinos tinham também como objetivo impedir os homens de se envolverem em casos extraconjugais ou outras atividades sexuais fora do casamento.
Fabricado em chapa de ferro, ligado ao meio por dobradiça central, montado com uma estrutura ajustável para instalar o pénis, o escroto e o ânus
Cinto de Castidade Feminino
A entrada das mulheres no mercado de trabalho durante a Revolução Industrial, em Inglaterra, trouxe um desafio social. O ambiente fabril era maioritariamente frequentado por homens, muitos dos quais alcoolizados. A utilização do cinto de castidade foi a forma encontrada para as operárias se protegerem de ataques sexuais e de violações. O uso era limitado a algumas horas por dia e os modelos da época eram muitas vezes revestidos por uma camada de camurça, evitando os cortes e as feridas do metal.
Modelo em metal com uma secção central ergonómica, serrilhado nas aberturas vaginal e anal. Dobradiça montada com suportes laterais, com duas opções para o ajuste do quadril
Vibrador Medicinal
O termo histeria teve origem na palavra grega hystéra, que significa útero e assenta na crença de que o útero andava à deriva no corpo, sendo por isso uma doença exclusivamente feminina. A histeria foi também considerada a “doença das viúvas”, por se acreditar que o sémen feminino se tornava venenoso se não fosse libertado por um orgasmo regular, ou por uma relação sexual com o cônjuge.
Durante a Idade Média, a histeria feminina foi explicada pela possessão demoníaca. As forças demoníacas eram atraídas pelas mulheres melancólicas, em especial as solteiras e as idosas. Só no século XVII, a histeria passou a ser descrita como um desvio comportamental e um assunto médico. No final do século XIX surgiram os vibradores medicinais eletromecânicos utilizados pelos médicos e pelas próprias doentes. Na década de 1920, Sigmund Freud identificou a questão e o vibrador deixou de ser classificado como dispositivo médico.
Estojo com máquina de massagens mecânicas para o tratamento da histeria, doença diagnosticada às mulheres com energia sexual reprimida
Massajador vibratório Veedee
Durante o período industrial consolidou-se uma perceção de que o índice de casos de histeria entre as mulheres registou um aumento significativo. Este é um tempo social e moralmente restritivo, em que as mulheres eram propensas a desmaios. Para combater essas situações, levavam sempre sais aromáticos, uma reminiscência da teoria de Hipócrates de usar odores para instruir o útero a regressar ao seu lugar. Os tratamentos da massagem manual começaram a ser demasiado demorados e fatigantes para os médicos e procuraram um meio de aumentar a sua eficácia e produtividade. Os massajadores foram originalmente feitos para serem usados por médicos, mas à medida que a necessidade de tratamentos se tornou mais difundida e crónica, as soluções do tipo “faça você mesmo” generalizou-se. Os dispositivos anunciavam a cura de quase todas as doenças, desde uma simples dor de cabeça à histeria feminina, de forma mais eficaz que os medicamentos. O termo Veedee, deriva da expressão latina Veni Vidi Vici (chegar, ver e vencer). Estes instrumentos de massagens foram largamente anunciados em jornais e revistas da época.
SAIBA MAIS:
- Data: 14 de fevereiro de 2025
- Local: Museu da Farmácia (Lisboa e Porto)
- Horário: Informações disponíveis no site oficial do museu
- Reservas: Vagas limitadas, com necessidade de inscrição prévia. Para mais informações e reservas, visite o site oficial do Museu da Farmácia.