Muitas das denúncias que chegam à Cáritas são a alertar para pessoas que, apesar de estarem a ser ajudadas, vão ao café tomar o pequeno-almoço. A revelação é do presidente da instituição, que diz que, apesar de não defender o comportamento, o consegue compreender. «No café juntam-se aqueles que vivem bem e eu, pobre, sou gente, também tenho importância. Tomar um galão e uma torrada no café é algo que me dá notoriedade!». Esta «tendência natural» é, no fundo, um gesto de afirmação, de identidade.
Mas à Cáritas também chega a crítica contrária: o julgamento do orgulho.
Eugénio Fonseca conta, a propósito, a história de um rapaz que lhe foi trazida por terceiros. «Os pais abandonaram-no em criança, alguém o acolheu e está, agora, em vias de acabar o curso. Falta-lhe completar o estágio, onde come a única refeição do dia». Eugénio diz que as pessoas que lhe expuseram o caso aconselharam o rapaz a ir à Cáritas, para comer à noite, mas este ter-se-á sempre negado. ”Só quero aquilo que conquisto”, responde sempre.
E quem o ouve julga, às tantas, que há ali uma “paranóiazita qualquer”. Não é nada disso. Às vezes há só um sentido profundo de humilhação por ter de se buscar o que nos é dado e não se sente como nosso».
Para o responsável da Cáritas Portuguesa, este caso mostra também o lado paternalista da sociedade perante os mais necessitados.
«A verdade é que, muitas vezes, prestamos auxílio em contextos que não ajudam à promoção da dignidade das pessoas».
Esse é, assume, um dos grandes motivos pelo qual valoriza tanto o Programa Abem. «É uma iniciativa de uma importância extraordinária, porque permite às pessoas irem a qualquer farmácia, aceder sem custos aos medicamentos prescritos, sem precisarem de se expor. Só quem está para lá do balcão sabe a condição de beneficiário daquela pessoa».