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5 maio 2022
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta Fotografia de Eduardo Martins Fotografia de Eduardo Martins Vídeo de Nuno Santos Vídeo de Nuno Santos

Memórias à beira-rio

​​​​Castelo de Paiva é terra de Natureza, lendas e costumes.

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​Do cimo do Monte de São Domingos, Castelo de Paiva emerge em toda a sua beleza natural. Ao fundo, as delicadas águas do rio Douro serpenteiam entre a majestosa vegetação verde, salpicada de casas de todas as cores. Há quem diga, confiante, que, nos dias em que o nevoeiro desvanece, Gaia e Porto se desenham na linha do horizonte. E, apesar dos mais de 50 quilómetros de distância, quase é possível contemplar o brilho das ondas do mar.

Talvez António Baltazar seja suspeito ao afirmar que a vista privilegiada deste miradouro é a melhor do concelho. Ligado a Castelo de Paiva pela família da esposa, foi «por ironia do destino» que, em 2014, adquiriu a Farmácia Marques Lopes, na freguesia paivense de Santa Maria de Sardoura.

Depois de vários anos a trabalhar em diferentes pontos do país, o farmacêutico de 44 anos acredita que Castelo de Paiva cativa pela paz e qualidade de vida que proporciona: «Apesar de não ser um ambiente rural, tem os benefícios do campo às portas da cidade».

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​«Castelo de Paiva tem os benefícios do campo às portas da cidade», garante o farmacêutico António Baltazar

A praia fluvial do Choupal, em Pedorido, é local de eleição para aproveitar os dias de sol. Para os amantes de caminhadas na Natureza, é ao lado desta praia que se encontra o início do percurso “Viver o Douro”. O itinerário pedestre, com cerca de 11 quilómetros, tira partido de toda a frente ribeirinha, com passagem por alguns dos imperdíveis pontos de interesse do concelho.

Ao longo do percurso há miradouros com formato de barcos rabelos, que convidam a apreciar a paisagem pintada de rio e serra. Pelo caminho, é obrigatória a paragem nas aldeias de xisto de Gondarém e de Midões, guardiãs de memórias de outros tempos.

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O percurso "Viver o Douro" convida a uma caminhada na Natureza, com vista para o rio

Ao deambular pela estreita rua que atravessa as características casas de pedra de Gondarém, o silêncio impera. «Nos últimos anos temos assistido à reconstrução de muitas destas vivendas, mantendo a traça original», afirma o farmacêutico. «E estão muito bem localizadas, mesmo em frente ao rio Douro».

A poucos minutos, a pitoresca aldeia de Midões ergue-se numa encosta virada para o rio. No cais, um pescador solitário vê o tempo a passar. Quando a azáfama da farmácia lhe permite, este é o lugar preferido de António para as pausas de almoço. «Gosto de me sentar aqui a ler um livro», conta. «Traz-me muita tranquilidade».
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Em Castelo de Paiva, o azul do rio e o verde da serra são cartão de visita

O percurso termina na pacata vila de Santa Maria de Sardoura, onde vale a pena passear a pé, conversar com os locais e conhecer a Igreja Matriz, lugar de exposição do quadro mais antigo do concelho, da autoria de um discípulo de Grão Vasco.

Escondida entre as vinhas que decoram a paisagem de Sardoura, a quinta Casa de Algar II convida os visitantes a partir numa viagem fascinante pelo mundo do enoturismo. À entrada, grandiosas árvores japoneiras pintam o jardim de camélias, complementadas pelas plantas trepadeiras que abraçam esta casa com 26 anos de história.

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«A produção de vinho é uma tradição de família, provavelmente com mais de um século», conta o proprietário da Casa de Algar II

Alberto Guedes da Costa, sócio-gerente em conjunto com a esposa, fala da produção de uvas e de vinho como uma tradição de família que remonta ao século passado. Hoje, o negócio conta com o apoio das três filhas na produção, divulgação e venda de um dos produtos mais acarinhados pelos paivenses.

Localizada na privilegiada sub-região do Paiva, a quinta integra a Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada, em termos geográficos, a maior do país e uma das maiores da Europa.

Da marca Pata da Burra fazem parte as castas típicas do vinho verde, como a Loureiro, Arinto, Trajadura e Avesso. O sucesso da produção está dependente da correta plantação, que vai desde a adaptação ao terreno até à escolha do porta-enxertos apropriado.

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Pata da Burra foi o nome escolhido para a marca de vinhos da Casa do Algar II, lançada em 200​7

As visitas incluem uma prova de vinhos, feita na sala do antigo lagar, onde é possível conhecer peças utilizadas no processo tradicional de produção, como os alambiques em cobre e a prensa manual em pedra.

A aposta no turismo rural ficará completa em breve, com a renovação da antiga casa dos caseiros: «Vamos poder receber hóspedes para passarem uns dias connosco, conhecendo melhor a região e o vinho verde de Castelo de Paiva», afirma o proprietário.​

No alto de Cruz de Agra, o som inconfundível dos martelos a bater no cobre denuncia a chegada à oficina Cunha, Moreira & Mendes. A placa à entrada da pequena garagem, camuflada entre as moradias, é cartão de visita. Em atividade desde 1987, o estabelecimento é ponto de paragem na “Rota dos Ofícios Tradicionais de Terra de Payva”, que celebra os mais antigos mestres e artesãos da região.

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Na oficina Cunha, Moreira & Mendes, o cobre é trabalhado à mão até ao mais ínfimo detalhe

Domingos Pereira, de 59 anos, é um dos oito trabalhadores que diariamente se dedicam à produção de peças em cobre. «Há quem diga que alambiques assim só se fazem aqui e no Brasil», comenta, montando rapidamente um dos aparelhos de destilação espalhados pelo espaço.

Na oficina, onde as folhas de cobre são cortadas e trabalhadas à mão, a mestria está nos pequenos detalhes. Como nas marcas que dão personalidade a algumas das peças, batidas manualmente ou com a ajuda de um molde. «Cada peça é única», sublinha António Baltazar, recordando que este é um dos poucos locais onde a tradição do cobre resiste.

E se, noutros tempos, os objetos mais desejados eram os decorativos, hoje a maior procura é ao nível de fornos e alambiques, a maioria para exportação. De Castelo de Paiva para o mundo, foi, aliás, desta pequena garagem que saíram os alambiques utilizados nos filmes “O Perfume - História de um Assassino” (2006) e “Maléfica” (2014).

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Na Ilha dos Amores foram encontrados vestígios de uma fortificação que se acredita estar na origem do nome do concelho

Onde o Douro e o Paiva se cruzam, nasc​eu a Ilha dos Amores. Batizada a partir de uma lenda que faz alusão ao amor fatal entre uma fidalga e o filho de um lavrador, ali foram encontrados vestígios arqueológicos da fortificação que se acredita estar na origem do nome do concelho.

Castelo de Paiva é terra de velhos costumes e histórias que aguçam a imaginação. Onde o verde das serras e o azul dos rios envolvem a paisagem, e as memórias ganham vida nas marcas deixadas nas suas gentes. Visitar este lugar é perder-se em caminhos que não constam dos mapas, absorver lendas de que não falam os poetas, e esquecer o tempo, mesmo quando teima em não parar.

 

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