Os carros voadores ainda não foram inventados, mas a tecnologia do futuro já está ao serviço da saúde dos portugueses. Temos robôs para ir buscar os medicamentos certos às prateleiras e drones autónomos para os entregar à porta dos utentes. O dia-a-dia das farmácias dotadas desta tecnologia podia ser o cenário de um filme de ficção científica – em que o papel principal é do utente.
Para que o protagonista triunfe sobre o mal e a doença, é prioritário que o progresso tecnológico encontre respostas aos problemas de Saúde Pública mais alarmantes. Como o facto de, segundo a OCDE, 50 por cento da população mundial não tomar os medicamentos da forma correcta.
Só na Europa, as falhas na adesão à terapêutica traduzem-se num custo anual de 125 mil milhões de euros. E, pior, em danos incalculáveis para a saúde e a qualidade de vida das pessoas.
O projecto “MedLis – Medicamentos que falam” propõe uma solução simples e inovadora: colar no medicamento um chip programado pelo farmacêutico, com indicações personalizadas para a sua toma.
Ao aproximar o smartphone da embalagem, o utente ouve os conselhos do medicamento, podendo até colocar questões e obter resposta às suas dúvidas.
O doente passa o seu telemóvel e a embalagem diz-lhe tudo o que precisa de saber
«O utente pode pegar na caixa e, por exemplo, perguntar: “Qual é este medicamento?”. E automaticamente vai ouvir o nome» – esclarece a representante do projecto, Sara Seabra dos Reis.
A engenheira explica que o chip pode ser programado para dizer quanto tempo falta até à próxima toma e até mesmo para notificar o utente quando for necessário comprar uma nova embalagem. Estarão disponíveis ainda a bula, o guia de tratamento e todas as informações extra que o farmacêutico considerar úteis.
O vencedor da mais recente edição do Prémio João Cordeiro, na categoria "Inovação em Farmácia", dá assim um passo em direcção ao futuro, com recurso a uma tecnologia que permite que o utente fale directamente com o medicamento através de voz.
Embora pareça saída de um universo de fantasia, a ideia surgiu nos corredores do Instituto Superior de Engenharia do Porto, pelas mãos de quatro alunos de Engenharia Biomédica: Mariana Coelho, Miguel Rato, Susana Teixeira e José Freitas. Com a ajuda dos engenheiros e professores universitários Sara Seabra dos Reis e Luís Coelho, a teoria passou à prática.
O MedLIS foi pensado por quatro alunos de Engenharia Biomédica, com a ajuda de dois professores
A representante do projecto garante que, ao facilitar a auto-administração de medicamentos, o MedLis responde às necessidades de todo o tipo de utentes. Desde pessoas com dificuldades visuais a utentes com baixo índice de literacia, a tecnologia vai permitir aglomerar no telemóvel toda a informação necessária à eficaz gestão da terapêutica.
A farmácia, por sua vez, pode adoptar o processo rapidamente, usando apenas o software e hardware necessários para o efeito. Em troca, ganha um novo canal de comunicação com as pessoas, com potencial de alargamento a outros profissionais de saúde.
«A interacção através de voz é a forma mais natural de comunicação que temos» – remata a vencedora – «é por isso que este projecto, de tão simples que é, pode ser uma grande mais-valia».
A cerimónia de entrega do Prémio João Cordeiro decorreu a 19 de Outubro, no âmbito da 5.ª Gala Abem, da Associação Dignitude.
Sara Seabra dos Reis aceitou a distinção acompanhada dos jovens engenheiros responsáveis pela concepção do projecto. Emocionada, sublinhou que este é o primeiro passo para a implementação da tecnologia em todas as farmácias, ao serviço da população.
As sensacionais farmácias do Minho
A reportagem “Farmácias inovam para além da simples venda de medicamentos” valeu à jornalista Paula Rebelo a vitória na categoria de "Comunicação Social" do Prémio João Cordeiro 2019.
O trabalho de campo acompanhou o dia-a-dia de três farmácias, localizadas em Braga e Famalicão, com serviços de prevenção e combate a três grandes preocupações ao nível da Saúde: as falhas na adesão à terapêutica, a resistência ao antibiótico e a obesidade infantil.
Paula Rebelo, jornalista da RTP, mostrou a inovação das farmácias ao serviço da Saúde Pública
Na peça televisiva, emitida na RTP, a jornalista destacou o papel das farmácias na saúde das populações, com foco em «projectos contínuos, inovadores e de proximidade, com resultados práticos na melhoria da qualidade de vida dos utentes».
Na cerimónia de entrega de prémios, a jornalista da RTP mostrou-se «honrada» pela atribuição da distinção, afirmando: «Este prémio é o reconhecimento da proximidade e do trabalho de Saúde Pública que é feito pelas farmácias. Não só pela inovação, mas também pelo lado humano».
Paula Rebelo alertou ainda para a importância do trabalho farmacêutico na cadeia da saúde. «Quando uma farmácia fecha numa pequena localidade, o impacto nas pessoas é brutal – e só quem não está no terreno é que ainda não percebeu isso» – sublinhou.