Há cerca de dois anos, Mafalda Rodrigues levantou-se de manhã com dores nos joelhos tão fortes que mal conseguiu caminhar até à casa de banho. Tinha 24 anos e pesava 116 quilos. Nesse mesmo dia, em que as dores ― que já vinha sentindo ao acordar ― se manifestaram de forma mais aguda, percebeu que não podia continuar a viver com peso excessivo. Decidiu que precisava de fazer alguma coisa imediatamente. «Com esta idade já tenho este problema. Um dia vou ser dependente de outras pessoas para sobreviver?».
Mafalda gosta muito de comer, e costumava ter um peso normal. Foi quando começou a trabalhar, aos 16 anos, que gradualmente os quilos se começaram a acumular. Durante a pandemia, tudo se agravou. «Cheguei ao extremo», recorda. O dia em que percebeu que precisava de mudar o corpo não surgiu do nada: teve por base um trabalho prévio de cuidado com a saúde mental.
A chave para o seu sucesso, acredita, foi essa. «Primeiro resolvi a minha cabeça, para depois resolver o meu corpo». Sem esse trabalho emocional, acompanhado por um psicólogo, não teria sido possível criar espaço para a transformação física. «Quando a pessoa está em declínio mental, existe tanto ruído emocional que parece que o mundo está em suspenso», descreve. Por isso, defende que não se deve começar um processo de emagrecimento «sem antes tratar algum problema emocional» ― se houver, obviamente. Afinal, o processo de transformação corporal «mexe muito com as emoções» e é preciso tomar as devidas precauções.

Hoje, reconhece que a fome que sentia não era ao nível do estômago. «Era vontade de comer», constata, porque «se pudesse escolher entre um croissant de chocolate e um prato de brócolos, só tinha fome para o croissant». Na sua cabeça, a comida «parecia que fazia barulho». Era a muleta, o escape, o consolo para tudo. «Estava feliz, comia; estava triste, comia; estava desmotivada, comia». Não era a primeira vez que tentava perder peso, mas foi a primeira em que o fez de forma consciente e informada. No passado, conta, «quis tudo muito oito ou oitenta: não bebia água, e quis passar a beber três litros; não corria ― nunca corri na vida, e já queria fazer cinco quilómetros logo no primeiro dia». Desta vez, iniciou um caminho de reeducação alimentar, sem dietas restritivas nem planos milagrosos.
Foi nas redes sociais que procurou ajuda. Logo no dia em que decidiu emagrecer começou a ver vídeos no TikTok, no Instagram e no YouTube. Nos dias seguintes, continuou a ver e ler muita informação, pesquisou várias abordagens e filtrou conteúdos para perceber o que poderia funcionar consigo. «Gosto muito de estudar, de me informar», diz. E assume, avisa, que fez «este processo da maneira errada: a forma certa é procurar um profissional». Aprendeu que, para perder peso, não é preciso ser «muito certinha, muito exigente, não sair do plano». Explica que, desde o início, tinha consciência de que não queria uma solução rápida, «um penso rápido», antes uma mudança que lhe permitisse «ser consistente para o resto da vida», e para a conseguir não podia estar rigidamente presa a regras. Também se concedeu permissão para aceitar os deslizes: «Falhei muitas vezes e recomecei todas as vezes que falhei», afirma. E deu-se tempo para se iniciar na prática de exercício físico, certa de que não conseguiria mudar tudo ao mesmo tempo. Levaria seis meses de reeducação alimentar até começar a treinar.


Só começou a correr seis meses depois de iniciar o processo de emagrecimento. Tinha a consciência de que precisava de fazer uma coisa de cada vez.
Num vídeo que partilhou no TikTok, mencionou por acaso que tinha perdido 50 quilos. Foi recebida com curiosidade, perguntas e muitas mensagens privadas a querer saber como o tinha feito. Passou a divulgar vídeos sobre o seu processo, com o objetivo de «ajudar outras pessoas a sentirem-se inspiradas». Como sabe que a sua receita não é universal, diz que o maior conselho que pode dar a alguém é «dizer à pessoa para olhar para si, para a sua rotina, e perceber o que funciona consigo própria. Começar devagar e não esquecer que, se não engordou 20 kg em dois dias, também não vai emagrecer 20 kg em dois dias». É ainda mais firme quando lhe pedem dicas específicas: «Agradeço o carinho, mas lembro sempre que não sou formada na área, não posso dar esse tipo de aconselhamento, e digo que devem consultar um profissional».
Durante o seu processo de reeducação alimentar e emagrecimento ― que durou dois anos ―, Mafalda fazia exames de sangue com regularidade para ter a certeza de que estava a receber os nutrientes de que precisava, preocupação reforçada pelo facto de, quando tinha sobrepeso, ser anémica. «Eu não comia muito», revela. «Eu comia era muito mal. Havia dias em que o meu almoço era café com leite, e o jantar café com leite e torradas. Não comia uma refeição com todos os grupos alimentares». Hoje, trabalha por turnos, o que exige disciplina, organização e capacidade de adaptação. Mais do que prejudicar a sua alimentação, diz que o seu horário de trabalho lhe dificulta os treinos e a corrida, que se tornaram indispensáveis.
Por experiência própria, conhece todas as exigências ― até económicas ― de seguir uma dieta saudável. «Não gosto de dizer que é mais caro, mas também não é mais barato. Uma couve custa um euro e um chocolate também custa um euro, não é? É preciso saber gerir». Além disso, abriu as portas a novos alimentos e sabores. «Havia tantas coisas de que eu não gostava e de que aprendi a gostar. Às vezes é o hábito, às vezes é a forma de as cozinhar», explica. «Existem tantos alimentos, com tantos nutrientes. Há mil e uma maneiras de confecionar o mesmo alimento; pode-se não gostar de mil, mas vai-se gostar de uma. Há sempre forma», garante.
Atingido o objetivo, foca-se agora em manter o peso alcançado. «É um desafio ainda maior, porque já não temos o estímulo de ver a balança a descer», afirma, «o que é uma motivação muito, muito grande». Hoje, já não procura a comida para preencher vazios. Aprendeu a ouvir os sinais do corpo e a respeitar as suas necessidades.