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1 fevereiro 2024
Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Texto de Telma Rocheta (WL Partners) Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Duarte Almeida Vídeo de Duarte Almeida

«Eu e Vila do Bispo vivemos em simbiose»

​​​​Joana Schenker conquistou o único título mundial de bodyboard para Portugal e foi condecorada com a Ordem do Mérito.​

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Nasceu no Algarve há 36 anos e fez história no bodyboard. Como é a sua relação com o mar? 
As minhas primeiras memórias como pessoa são com o mar. Cresci na praia, lembro-me de gatinhar na areia. A relação foi-se alterando à medida que fui crescendo, mas o mar está sempre presente na minha vida.


As primeiras memórias que tem são do mar. A Schenker School Tour é um projeto educativo de sensibilização para a preservação dos oceanos

Onde nasceu exatamente?
Os meus pais são alemães, mas eu nasci aqui, em Vila do Bispo. Eles vieram para o Algarve, há 37 anos, para proporcionar mais natureza aos filhos que tivessem. Sempre passámos muito tempo na praia. Vieram passar férias e apaixonaram-se pelo sítio. Depois compraram uma casa antiga, por reconstruir, numa aldeia, a Pedralva. E as filhas foram nascendo. Eu fui a primeira de quatro, nasci um ano depois de eles virem. Não consigo imaginar-me fora deste sítio. Eu, Vila do Bispo e todo este lugar vivemos em simbiose. E sinto-me muito acarinhada.

Quando começou a experimentar o desporto? 
Aqui há uma grande cultura de bodyboard. Quando comecei, já havia campeões, muita gente a praticar e várias gerações de bons bodyboarders. Na minha vida aconteceu aos 13 anos, quando os meus amigos da escola e todos os miúdos fixes o praticavam. Eu queria estar nesse grupo.

Em que momento pensou que esta ia ser a sua vida profissional?
Aos 14. Um ano mais tarde, já estava a competir nos juniores, porque os outros também iam aos campeonatos. Tive algum sucesso muito rapidamente. O momento decisivo foi a altura de escolher entre ir para a universidade ou ficar no desporto. Decidi não estudar. Aí foi mais sério, tinha mesmo de correr bem.

Se tivesse estudado, seria o quê?
Ainda estive inscrita em Design Gráfico, em regime pós-laboral, para poder continuar a fazer bodyboard de dia. Fui a uma aula e pensei: «Não vou acabar isto, portanto nem vou».

Alguma vez se arrependeu dessa decisão? 
Quando perco campeonatos, posso questionar as escolhas. Ou quando há dificuldade em arranjar patrocinadores, porque este não é um desporto fácil para se viver dele. Mas diverti-me tanto que nunca me arrependi.

Que sacrifícios fez?
Não são muito relevantes. Não estudar foi, se calhar, o maior. E falhei muitas coisas de família, com amigos. Comecei a ter a visão mais fechada de um atleta que tem um objetivo.


«O mar é o maior professor. Ensina qualidades para a vida: respeito, perseverança, paciência, persistência e muita humildade»

O que é mais atrativo nos desportos de ondas?
É difícil explicar. No mar temos de nos entregar completamente. Estarmos num meio que não controlamos faz-nos sentir pequenos, mas, ao mesmo tempo, poderosos por estar ali. Temos medo, mas vamos. O mar é o maior professor. Ensina qualidades para a vida: respeito, perseverança, paciência, persistência e muita humildade. Se não tivermos estas qualidades dentro de água, o mar vai ensinar-nos, de alguma maneira.

Quando obteve o título de campeã mundial, em 2017, já tinha ganho o campeonato nacional sete vezes consecutivas. Com o Mundial sentiu que atingiu o auge?
2017 foi o meu ano perfeito, em que venci três campeonatos. O Nacional foi o primeiro título. Passado um mês foi o Europeu e depois, para acabar em beleza, o Mundial, que nunca acontecera em Portugal. Foi o primeiro título profissional de bodyboard em Portugal, quer na categoria masculina quer na feminina. Quando aconteceu, percebi: «Meu Deus, acabei de fazer aqui um bocadinho de história». E foi incrível a recompensa de tudo.


Joana a receber o prémio de campeã mundial, em 2017

Como foi receber do Presidente da República a medalha de Oficial da Ordem do Mérito, em 2019? 
Não ligo muito a medalhas, mas na cerimónia no Palácio de Belém senti, de repente, como se alguém estivesse a dar o aval a todas as minhas escolhas. Foi muito gratificante.

Como é a sua preparação física?
Sou vegetariana há 26 anos. Não como carne, peixe ou marisco, por questões éticas. Tento comer de forma equilibrada: o máximo de legumes frescos, leguminosas, comida pouco processada. O que não quer dizer que não coma um doce ou beba uma cerveja. Gosto de saborear a vida. Faço Pilates uma a duas vezes por semana sem falta, porque me faz bem e ajuda a evitar e a tratar lesões. É uma preparação muito boa para a minha modalidade. E vou à água sempre que há ondas. É a minha prioridade absoluta.


«Não é necessário comermos proteína animal para sermos saudáveis. Basta termos uma alimentação equilibrada»

Ser vegetariana tem a ver com a proteção dos oceanos?
Foi muito antes de ter qualquer consciência. Deixei de comer carne e peixe quando tinha dez anos. Decidi que gostava tanto de animais que não fazia sentido comê-los. Disse à minha mãe, de um dia para o outro, decisão que aceitou com naturalidade. Para mim foi mais difícil, porque gostava do sabor da carne. Em miúda adorava frango assado e camarões. Mas quando decidi, nunca mais toquei. E também gosto de passar a mensagem de que não é necessário comermos proteína animal para sermos saudáveis. Basta termos uma alimentação equilibrada.

Como é a sua vida durante o ano? Como foi em 2023?
Espero que o calendário das competições saia e só a partir daí faço o meu plano. O circuito mundial ocupa grande parte do tempo. Passo muito tempo a viajar e, por causa disso, tenho amizades em todo o mundo. 2023 começou no Brasil, segui para o Chile, depois fui para as Maldivas. A seguir foi Portugal, África do Sul e a última seria em Marrocos, mas com o terramoto a prova foi cancelada. Para além disto, há ainda os circuitos europeus e nacionais que vou intercalando, conforme consigo encaixar as datas. E tenho todas as obrigações relacionadas com patrocinadores e outros projetos, vídeos, filmagens...


Joana prepara-se para os campeonatos nacional e mundial, «sendo que a prioridade é o Mundial»

Quais são os planos para 2024?
Continuar o que já estou a fazer. Vou fazer o circuito mundial e o nacional, sendo que a prioridade é o Mundial. E quero continuar com a Schenker School Tour, um projeto educativo em parceria com o Oceanário de Lisboa e a Fundação Azul, em que faço uma palestra de uma hora nas escolas. Partilho a minha experiência enquanto atleta e abordo a problemática ambiental. Dedico grande parte do meu tempo à conservação dos oceanos.

Sente que tem resultados com essas palestras?
O projeto tem três ou quatro anos e já vamos em quase 13.000 alunos impactados. Os miúdos estão atentos e conscientes. O que falta? Dar-lhes a sensação de poderem ter também um papel a desempenhar. Vou às escolas mostrar que todas as nossas ações têm consequências.

Tem alguma farmácia especial onde vá?
Há duas farmácias onde vou muito, a de Sagres e a de Vila do Bispo. Nesta última há uma farmacêutica que foi minha colega de turma. Em Sagres também conheço muito bem as pessoas. Gosto de entrar nos sítios, sorrir e saber que a pessoa que me atende já me conhece. É um sentimento de muita familiaridade.​

 
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