Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
1 junho 2023
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes Vídeo de Rodrigo Coutinho Vídeo de Rodrigo Coutinho

Venha de lá mais um Doce Fino ou um Dom Rodrigo!

​​​​​​​Ovos e amêndoa são ingredientes base da doçaria regional da cidade de Lagos.​

Tags
​Maria Luísa Gonçalves, 79 anos, ajeita a massa de amêndoa nas mãos. Enrola, e volta a enrolar. Usa um garfo para furar. «Vou agora fazer uma laranja, que é um símbolo do nosso Algarve!».

A septuagenária, de sorriso livre e olhos apaixonados, tem mãos sábias e não por acaso. É nora dos fundadores da Casa de doces regionais Taquelim Gonçalves, localizada no centro histórico de Lagos, e uma das mais conhecidas do Algarve.

«Há quem aplique spray nos doces finos, mas eu não gosto. Fica muito artificial! Gosto muito mais de usar o pincel e pintá-los», diz, rematando que «não é de admirar, pois, fui ensinada assim».

Nascida em Lagos, onde toda a vida tem vivido, Maria Luísa é o símbolo vivo de um legado de família. Tinha 15 anos quando, debaixo do olhar meticuloso do sogro, de José Francisco Gonçalves, começou a fazer e pintar doces finos e outros doces regionais. 

«Quem iniciou isto cá no Algarve foram os meus sogros. A minha sogra fazia mais os Dom Rodrigo, mas o meu sogro fazia todo o tipo de bolos regionais. Ele tinha muita habilidade e muita criatividade!», lembra. 

A “Casa de Doces Regionais Taquelim Gonçalves” foi fundada em 1935 em Lagos pelo casal Gonçalves, José Francisco e Amélia Taquelim. Em 1964 transferiu-se para as atuais instalações, na baixa de Lagos, aí funcionando com o nome “Casa de Doces Regionais Amélia Taquelim Gonçalves”. José Francisco Gonçalves, filho, que partilhava o mesmo nome do pai, geriu a empresa até aos anos 90.

Na fábrica, localizada numa rua anexa à pastelaria, até aos dias de hoje, a doçaria regional, isto é, os afamados bolos Dom Rodrigo (ovos, amêndoa e canela); os doces de Amêndoa algarvios artesanais (queijinhos, vieiras, alcofinhas, nozes, frutos e bichos feitos com massa de amêndoa, recheio de ovos moles e fios de ovos) ou os doces e morgados de Figo (figo, amêndoa e ovos) são, todos, produzidos «sempre com muito amo», de forma artesanal e a partir de receitas tradicionais.


​«Em agosto chegamos a fazer 600 Dom Rodrigo e 600 doces finos por dia! Ficamos a trabalhar até mais tarde, mas temos de aproveitar a época», revela Maria Luísa.

Ao seu lado, eis Cristina Silva, 22 anos, a sua aprendiz. Debaixo da sua supervisão é, desde há três anos, a principal responsável pela produção dos Dom Rodrigo. 

«Parti 36 ovos!», diz a rir, desvalorizando a rapidez aplicada no processo.

Feito o creme de ovo e de calda de açúcar já ao lume, com a ajuda de um coador, com cinco saídas pontiagudas independentes, os fios de ovo começam a ganhar forma no tacho.

«Gosto muito do que faço. Fazer os Dom Rodrigo é um trabalho de detalhe, mas é muito divertido», afiança sorrindo a jovem, de pais portugueses, e emigrada da Venezuela. 

Maria Luísa é meticulosa, na confeção de cada doce. 

«Eu só ensino a perfeição, tem de ser! Podem achar que sou chata, mas eu gosto de estar aqui a acompanhar todos os procedimentos». E já lá vão cinquenta anos. 

«Ainda montamos o embrulho em pirâmide, tal como era feito no tempo do meu sogro», certifica Maria Luísa com orgulho e comoção.

 

Notícias relacionadas