Há mais de três décadas que Fátima Lopes veste o mundo com a sua visão, feita de coragem, talento e uma dedicação sem limites. Olhar para trás é inevitável, mas a estilista não o faz com nostalgia, mas com uma lição de realismo. «O caminho que percorri há 32 anos talvez já não seja possível repetir hoje. Eram outros tempos», afirma. «Mas há coisas que nunca mudam: é preciso trabalhar muito».
E quando diz “muito”, não é força de expressão. «Trabalhava sete dias por semana, mais de dez horas por dia. Nem férias tirava». No universo da moda, onde o glamour parece esconder a exigência brutal dos bastidores, Fátima fala com uma franqueza rara. «Esta profissão é só para quem ama verdadeiramente o que faz».
Para os jovens estilistas que agora dão os primeiros passos, o aviso é claro: o sucesso não é fruto apenas de talento, nem apenas de esforço. «É metade talento, metade trabalho. E é preciso ter nervos de aço. Não deixar que nos deitem abaixo».
Hoje, num mundo dominado por redes sociais e opiniões fáceis, esse equilíbrio emocional tornou-se ainda mais precioso. «Toda a gente se acha entendida em moda, mas a maior parte não percebe nada. As críticas que importam são as construtivas. As outras não devem ser levadas a sério», confirma.
Mais do que um ofício, a moda é para Fátima uma forma de expressão profunda. «É uma arte. E tem de ser vista como tal». Mas é também uma arte ingrata, onde não há lugar para comodismos. «Um criador de moda não tem direitos adquiridos. A cada seis meses, volta tudo ao zero. Cada coleção tem de ser melhor do que a anterior. É preciso superar-se».
Atualmente, vive essa exigência com outra serenidade. Depois de anos de entrega absoluta, encontrou o tão desejado equilíbrio. «Agora tenho mais tempo para a vida pessoal, para férias, para os fins de semana». Mas há algo que permanece inabalável: a paixão. «Enquanto tiver saúde, vou continuar. Porque isto, para mim, nunca foi só uma profissão. Sempre foi a minha paixão».
E é nessa paixão — sólida, intacta, incandescente — que Fátima Lopes continua a desenhar o seu legado. Com a mesma intensidade com que começou. Com a mesma vontade de criar. E, acima de tudo, com a certeza de que a verdadeira moda nasce sempre de dentro.