O deporto sempre foi importante na vida de António e Catarina, por razões completamente diferentes. Para Catarina, a atividade física raramente foi um prazer, mas antes encarado como o sacrifício necessário para se manter saudável. Só quando descobriu o pilates encontrou uma atividade que a faz ansiar pelo dia da prática.
Para Raminhos o caminho foi radicalmente diferente. Enérgico, não se satisfazia com qualquer exercício. Foi procurando, foi encontrando, mas demorou a encontrar uma atividade que o completasse. Mas os sinais já lá estavam: «Desde pequenino gostava de artes marciais»
António Raminhos confessa que teve muitas questões relacionadas com a autoestima. Jogou vólei «sempre um escalão acima do meu». Mas desistia frequentemente, faltava a jogos por não conseguir gerir a pressão da competição e antecipar a possibilidade de falhar. Ainda criança pediu ao pai para ir para o karaté, uma experiência que se revelou «terrível».
«Fui com o meu pai à escola de karaté, e lembro-me de estar dentro do carro e ver as portas da escola aberta e os miúdos de quimono a entrar. O meu pai nunca fez exercício na vida. Entrou e passado um bocado, volta e diz “isto é uma porcaria”, e fomos embora. Nunca mais sequer experimentei».
Apesar da desilusão, o fascínio pela cultura japonesa e asiática não esmoreceu. Quando ganhou alguma autonomia, «procurei e cheguei a praticar artes marciais. Depois parei e voltei a praticar», e nunca mais largou. Encontrou o seu mundo a que atribui a importância que a cultura nipónica atribui à honra, «muito importante para mim. Honra e responsabilidade».
Sendo uma pessoa que vive com perturbação obsessiva compulsiva (POC), défice de atenção e hiperatividade, tem tendência para se fechar no seu mundo. A prática permite-lhe sair dos seus pensamentos, não pensar em mais nada. Daí a opção pelo Muay Thai, prática de combate a que junta uma outra, o Shorinji Kempo, termo que designa as artes marciais do Japão que seguem os códigos morais e de ética próprios às artes de Budo, que não são desportos de combate. É uma das mais populares e prestigiadas artes marciais praticadas no Japão, apesar de ser relativamente recente. Foi fundada em 1947, pelo Grande Mestre Doshin So, após a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. «É muito engraçado, porque no Japão não está inscrito como desporto, mas sim como uma prática contemplativa. Não é bem como uma religião».