Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
12 dezembro 2019
Texto de Sónia Balasteiro Texto de Sónia Balasteiro Fotografia de Ricardo Castelo Fotografia de Ricardo Castelo

«Descobri na farmácia que tenho Diabetes»

​​​​​​​​​​​Projecto-piloto avaliou risco de 905 utentes em Gondomar. ​​

Tags

Estava em casa, em Fânzeres, no concelho de Gondomar, quando a mulher lhe disse: «Devias ir fazer o teste da diabetes à farmácia». Respondeu-lhe que não valia a pena. Afinal, tinha os valores controlados pelo médico que o acompanha na Alemanha, onde passa a maior parte do ano. Mas Olívia insistiu. «É gratuito. Não te custa nada ir lá». 

Manuel Teixeira, 81 anos cumpridos com muito humor, cedeu em boa hora às preocupações da companheira de toda a vida. É homem de barba longa, deixada crescer com primor e cortada pelo sorriso que mantém aberto. 

Dirigiu-se à farmácia em frente da sua casa. A Farmácia Silveira é uma das 14 que, entre 27 de Junho e 20 de Outubro, participaram no projecto-piloto de detecção precoce Diabetes “Descobrir para Prevenir”. Os residentes no concelho de Gondomar, com mais de 45 anos e sem diagnóstico prévio de diabetes foram a população-alvo do estudo. 


Ao todo, foram rastreados 905 utentes

Ao todo, foram rastreados 905 utentes das farmácias participantes. Os resultados confirmaram, mais uma vez, a elevada incidência da diabetes em Portugal, assim como dos casos de por diagnosticar: 397 (43,8%) revelaram um risco alto ou muito alto de desenvolver a doença; e 93 (10,2%) foram mesmo enviados para consulta.  


O teste revelou que quase metade das pessoas estão em risco de contrair diabetes​

Os valores do teste feito a Manuel confirmaram a existência de diabetes. E ele foi encaminhado para um médico da rede Médis, parceira da Associação Nacional das Farmácias na iniciativa. Os profissionais da Farmácia Silveira encaminharam 16 pessoas para essas consultas. 


A diabetes é silenciosa: muitos doentes ficaram surpreendidos​

O médico prescreveu-lhe medicamentos para a diabetes, uma dieta rigorosa e que continuasse a ser seguido nos cuidados primários. Um mês depois, na segunda consulta,  deu-lhe um ralhete: Manuel não estava a cumprir a dieta. Os valores mantinham-se. Explicou-lhe, mais uma vez, o que fazer. Para comer seis vezes por dia, pouco de cada vez, controlando a ingestão de gorduras e hidratos de carbono. E desfez algumas convicções erradas do doente, como a que só a carne teria gordura. 

Os profissionais da Farmácia Silveira, onde fez o diagnóstico, aproveitam todas as visitas à farmácia para o recordar das suas novas obrigações como diabético, assim como para lhe esclarecer quaisquer dúvidas. «Explicam-me tudo muito bem, tanto os médicos como os farmacêuticos», agradece Manuel Teixeira, bem-disposto.  Tem uma relação próxima com os profissionais de saúde da Farmácia Silveira. «Conheço-os a todos muito bem. São sempre simpáticos», conta o ancião. 

Lamberto Abreu, de 70 anos, também visita a Farmácia Silveira «no mínimo, uma vez por mês». É cliente regular há 35 anos, muito antes de se tornar doente crónico, com hipertensão arterial. Quando recebeu uma mensagem no telemóvel a anunciar o rastreio, não hesitou. «Como tinha mãe e pai com diabetes, queria saber», explica. O resultado do teste foi um risco muito alto de desenvolver diabetes. Seguiu-se a consulta médica e análises mais completas.

Os resultados confirmaram o risco de diabetes detectado na farmácia, mas também permitiram detectar outro problema: colesterol elevado. Até àquele momento, Lamberto, homem de bigode farto e ar de quem circula pela vida com leveza, desconhecia estes novos factores de risco. «O senhor doutor receitou-me medicação para o colesterol. E para as tensões, que estão muito altas», conta ele. E ele começou a ter «mais cuidado com a alimentação».

Apesar das más notícias, mostra-se satisfeito e até reconhecido. «Classifico este serviço como bom em todos os sentidos. Além de grátis, ficamos a saber como estamos», afirma o septuagenário. Conhece cada um dos elementos da equipa da Farmácia Silveira. «A senhora doutora é minha conterrânea. As filhas são muito simpáticas. As funcionarias já são muito antigas aqui. Os mais novos são todos uns brincalhões», relata. 


João Ferraz soube na farmácia que corre o risco de desenvolver diabetes

Também João Ferraz, de 82 anos, descobriu na farmácia que tem um risco alto de desenvolver diabetes. Nada mais natural, porque é o serviço de saúde onde vai todas as semanas, às vezes mais do que uma vez. «Quando posso venho sempre aqui», descreve. Depois do rastreio, mostrou os resultados ao médico de família. Mudou de hábitos, sobretudo alimentares.  


A farmacêutica Olívia Silveira considera este projecto «uma mais-valia para as farmácias e a população»

Para a directora-técnica da Farmácia Silveira, projectos como este dão sentido aos dias na farmácia. «Só com estes projectos faz sentido ser farmacêutico», diz Olívia Silveira, feliz pela enorme adesão dos seus utentes. Na sua opinião, o projecto Diabetes: Descobrir para Prevenir representa uma «mais-valia para as farmácias». 

A directora-técnica da Farmácia Teixeira Bessa, na Foz do Rio Sousa, concorda. «Podemos ser úteis na prevenção destas doenças silenciosas», realça Sofia Teixeira Bessa. Inserida num meio rural, esta farmácia recebe sobretudo pessoas idosas. Com muitos diabéticos já diagnosticados, as farmacêuticas convidaram 65 utentes a participar no projecto. Destes, mais de metade foram encaminhados para o médico: 36. 


Fernanda Neves foi uma das 93 pessoas encaminhadas para o médico

«Chamaram-me para vir fazer os testes. E eu disse: mas eu nunca tive», relata Maria Fernanda Neves, de 74 anos. Vive na Foz do Rio Sousa há 45, vai à farmácia «quase todos os dias, conversar, buscar medicamentos, pôr as coisas em dia». Esta relação de confiança permitiu à equipa da farmácia convencê-la a picar o dedo. Em boa hora, porque o rastreio revelou que tem um risco muito elevado de desenvolver diabetes. Acabou encaminhada para a consulta médica e prepara-se para fazer os exames. 

«Os utentes ficaram surpreendidos com os resultados», resume a farmacêutica Sofia Teixeira Bessa.

O inimigo desconhecido

Mais de um milhão de portugueses são diabéticos, devidamente diagnosticados, segundo o último relatório do Observatório Nacional de Diabetes. Mas, de acordo com a mesma fonte, na realidade o número de portugueses diabéticos ou com hiperglicemia intermédia ascende a 3,1 milhões. 

O diagnóstico precoce da diabetes é fundamental para prevenir lesões e complicações associadas, entre as quais enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral, retinopatia e insuficiência renal crónica. 
Notícias relacionadas