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2 maio 2024
Texto de Jaime Pina (pneumologista e imunoalergologista, Fundação Portuguesa do Pulmão) Texto de Jaime Pina (pneumologista e imunoalergologista, Fundação Portuguesa do Pulmão)

Deixe de fumar

N​o combate ao tabagismo, a ajuda tem um papel fundamental.

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Quando um fumador inala fumo de tabaco está a inspirar cerca de 5.000 substâncias químicas diferentes, algumas pertencentes às famílias da acetona e da lixívia, do monóxido de carbono (um gás que sai dos escapes das viaturas), arsénico (conhecido veneno), benzeno (produto muito utilizado na indústria dos pesticidas), formaldeído (substância indispensável em embalsamamento), metais pesados como o chumbo, substâncias radioativas como o polónio, etc. Setenta destas integram a lista de substâncias declaradas cancerígenas pela OMS, como responsáveis diretas pelos cancros do pulmão, da bexiga ou da cavidade bucal, leucemias, entre outros cancros.

Depois deste cenário muito sumarizado, a pergunta que se levanta é de difícil resposta: como é possível que ainda cerca de 16% dos portugueses com dezasseis ou mais anos aspire, por vontade própria, este caldo químico diretamente nos pulmões? A resposta só pode ser: 1. por ignorância (então é preciso informá-los); 2. Para quem tem elevada motivação e baixa dependência, pode ser adotado o método das 15 regras por insensatez (é preciso falar com eles, motivá-los; 3. ou devido à nicotina presente no fumo, um alcaloide altamente aditivo. Há estudos que comparam a nicotina à heroína, quanto à capacidade de criar dependência às pessoas, o que as leva a precisar de tratamento.

As consequências do consumo de tabaco são muito negativas: a esperança de vida reduz em dez anos; morrem de cancro, doença respiratória crónica ou doença cardiovascular. É por tudo isto que, no combate ao tabagismo, a ajuda ao doente fumador (hoje, o tabagismo está classificado como uma doença) tem um papel fundamental.

Para os que têm elevada motivação e baixa dependência, pode ser adotado o método do aconselhamento das Quinze regras para quem quer deixar de fumar (ver os sites da Fundação Portuguesa do Pulmão e da Direção-Geral da Saúde). Estas 15 regras indicam e enumeram comportamentos que têm revelado bastante sucesso, especialmente junto das pessoas motivadas e disciplinadas.

Outra componente para a adesão tem sido a divulgação dos benefícios clínicos quase imediatos após a cessação, de que um dos primeiros sinais é a diminuição da frequência cardíaca e do monóxido de carbono no sangue, e que se vão acentuando com a passagem do tempo.

Quando a pessoa não consegue abandonar o tabaco com as medidas anteriores, a abordagem passa por uma de três classes de medicamentos disponíveis.

Os primeiros são os substitutos da nicotina, administrados através de pensos cutâneos, pastilhas, gomas ou sprays. Quando se deixa de fumar, a dependência induzida pela nicotina pode originar sintomas desagradáveis: dores de cabeça, ansiedade, irritabilidade, sudação, etc. É a chamada síndrome de abstinência, superada pela administração da nicotina através dessas formas.

Os segundos são os medicamentos que atuam no foro psíquico, sedativos e antidepressivos. Para muitos doentes, deixar de fumar é um processo com implicações no humor e no estado psicológico. A ansiedade e a irritabilidade são os sintomas mais frequentes na síndrome de abstinência.

Os terceiros são os medicamentos específicos para deixar de fumar. São fármacos que atuam nos recetores cerebrais da nicotina, preenchendo-os, eliminando a vontade de fumar. Estes medicamentos têm-se revelado cada vez mais eficazes. 

Na maioria dos casos, recorre-se às três abordagens conjuntamente. A ajuda clínica está mais acessível às pessoas. Tem-se assistido à generalização das consultas de cessação tabágica nas unidades de saúde, públicas e privadas, um pouco por todo o país.

Chegou a sua vez. Não espere mais. O tabaco é um veneno. Esta é a hora!
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