O mundo «desmoronou-se» quando os pais de Susana Pinto souberam que a filha de três meses sofria de paralisia cerebral. Depois da correria aos médicos da especialidade na esperança de reverter a situação, seguiu-se o esforço hercúleo para que a menina pudesse ter uma qualidade de vida melhor. Anos de terapias e medicinas alternativas na expectativa de que Susana pudesse andar. Não chegou a acontecer.
Olhando para trás, Susana Pinto compreende a enormidade do desafio que os pais tiveram de enfrentar. «Estavam na casa dos 20 anos, ainda a conhecer-se como casal, e tiveram de lidar comigo». Fizeram o que quase todos os pais em circunstâncias similares fazem: tudo o que está ao seu alcance. No entanto, a preocupação «quase obsessiva» dos pais para que os filhos consigam ultrapassar as suas limitações tem custos elevados, alerta Susana. A ansiedade e sentimento de culpa dos pais passa para as crianças, que acabam por sentir-se também elas culpadas, as brincadeiras deixam de ser inocentes para transformar-se em actividades lúdicas para promover o desenvolvimento, o tempo para «ser criança» esvai-se em horas e horas de terapias.
«A certa altura é preciso aceitar, deixar de perseguir um padrão que é cultural e diminuir a pressão colocada em cima das crianças. Elas são felizes assim. É possível ser feliz numa cadeira de rodas», garante. Susana Pinto apela aos pais para que aceitem que «não têm culpa» e brinquem com os filhos espontaneamente. «O importante é sentir a pessoa, a felicidade daquela criança, porque o crescimento emocional da criança depende dessa relação natural entre pais e filhos».