Há uns tempos fez-se um inquérito a um grupo de portugueses, em que era perguntado o que queria dizer DPOC. Um grande número não sabia. Suspeito que hoje estaremos na mesma e começo por lançar um desafio ao leitor: sabe o que quer dizer DPOC?
Não conhecer a terceira causa de mortalidade da humanidade, com mais de três milhões de óbitos em cada ano, revela duas coisas: um elevado nível de iliteracia em saúde por parte da população; e um mau trabalho de todas as entidades ligadas à saúde, as oficiais e as não oficiais.
DPOC é a sigla da denominada Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e o nome diz tudo: o D diz que é uma doença; o P aponta para o seu órgão de impacto, o pulmão; o O refere uma das principais caraterísticas, a existência de uma obstrução nos brônquios à passagem do ar e que o doente sente como dificuldade respiratória; o C diz que é uma doença crónica: uma vez instalada, acompanhará o doente para toda a vida. Para esta sigla ser perfeita, poderíamos acrescentar uma quinta letra, um T, a inicial da principal causa da doença: o tabaco.
De facto, a inalação do fumo do tabaco lesa progressivamente todas as estruturas do pulmão: provoca uma inflamação crónica dos brônquios (bronquite crónica) e a destruição do parênquima pulmonar (enfisema).
O resultado destas agressões é a instalação de um quadro clínico típico: tosse produtiva, expetoração constante, dificuldade respiratória com pieira. O sintoma mais comum é o cansaço fácil para esforços cada vez menores, que fazem com que a pessoa com DPOC passe a ter dificuldades em assegurar sozinha as atividades de vida diária. Este problema resulta da perda da principal função do pulmão: a oxigenação do sangue. É por isto que estas pessoas acabam por se tornar dependentes do oxigénio e precisam da administração de oxigénio para sobreviver.
Outra caraterística desta doença são as exacerbações que agravam a sintomatologia e podem pôr em risco a vida dos doentes. A causa é quase sempre uma infeção respiratória de origem viral ou bacteriana, que obriga muitas vezes a tratamento em regime hospitalar. Estas exacerbações são sobretudo invernais, época em que as infeções respiratórias prevalecem. Por isso é tão importante que os doentes com DPOC preparem bem esta estação. O objetivo é evitar as infeções respiratórias, respeitando com muito rigor e disciplina as seguintes medidas:
- Em primeiro lugar, evitar ter comportamentos de risco. Estas pessoas, em virtude da debilidade respiratória que evidenciam, devem ter particular cuidado com tudo o que os possa infetar. Apanhar chuva, correntes de ar, exposição ao frio e contactos próximos com pessoas constipadas são comportamentos a evitar;
- O cumprimento rigoroso do plano de tratamento prescrito pelo médico, quer no dia a dia, quer nos períodos de crise, deve estar sempre presente e ser aplicado sem hesitações;
- Em terceiro lugar, prevenir as infeções respiratórias através da vacinação. As vacinas anuais da gripe e da COVID-19 (enquanto o vírus SARS-CoV-2 andar por aí) são obrigatórias e prioritárias. Também é importante a vacina antipneumocócica ― vulgarmente conhecida como vacina contra a pneumonia ― e os doentes devem ter o seu esquema de vacinação atualizado. Por fim, a estimulação da imunidade poderá ser feita através de vacinas orais, entre as quais merecem destaque as vacinas constituídas por lisados ou fragmentos das principais bactérias causadoras das infeções respiratórias;
Faço votos de que após ler este artigo fique a conhecer melhor a DPOC, doença que afeta mais de 800.000 portugueses.