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2 novembro 2018
Texto de Maria João Veloso Texto de Maria João Veloso Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Chegar lá é maravilhoso»

​​​​Actriz fala do êxtase em palco e da felicidade na vida.

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​Viu-se em cima de um palco com a banda Onda Choc.
Aos 11 anos. Foi uma aprendizagem gigante porque cheguei a fazer seis concertos por dia. Era um virote.
 
O que aprendeu na época que ainda aplique?
Deu-me estaleca. Aos 11 anos atiras-te e vais. Não queria ser cantora ou actriz. Sabia que queria fazer algo relacionado com as artes. Aos 14 anos comecei a fazer pequenos trabalhos. Desenhei fardas, fui modelo fotográfico, entre outras coisas. Quando surgiu o conservatório, candidatei-me sem expectativas. Entrar foi uma surpresa e uma paixão. Passou a ser a minha vida.
 
Está em dois canais de TV, como Manuela, na RTP1, em "Circo Paraíso", e como Constança em "Onde está Elisa?", na TVI. Como compõe as personagens?
A médica Manuela e a Constança são radicalmente diferentes. No caso da Constança, recebi os textos à medida que ia gravando. Sabia de um desenrolar provável, sem ter a informação toda, o que gera espontaneidade, porque não se fica fechado no texto. O contrário é válido também. Acontece ao receber-se uma peça de teatro. É um trabalho mais interior e talvez seja um trabalho mais profundo. Se calhar, na Manuela tive um bocadinho mais esse trabalho. Tudo depende do que o texto, o momento e o elenco trazem.
 
Na peça "Os Filhos das Mães" tinha de se recriar todas as noites.
O teatro é um trabalho de criação. Há muito de nós em cada papel. A linha é ténue: quem sou, como actriz e na vida. Até que ponto é que a emoção foi desenvolvida através de trabalho ou aconteceu naturalmente. Isso é criação, porque vamos ao fundo. Não sou uma espontânea nata, mas chegar lá é maravilhoso.
 

 
Antes dizia que não fazia catarse. E agora?
Já sou capaz de uma catarse, alienar-me e esquecer-me do que estou a fazer. Entregar-me simplesmente e também ir às minhas fragilidades. Às vezes temos medo de explorá-las, mas são as que mais interessam ao público. Sem elas somos pouco humanos e muito construídos.
 
Fale-me de outras inspirações.
O quotidiano é a melhor inspiração. Estar a observar com uma escuta elevada. O que nos rodeia é o mais interessante. Claro que há outras coisas a passarem-se longe de nós, mas isso é a matéria cultural que nos dá background.
 
Já assumiu ser tímida. Como surge o conservatório?
Há actores muito tímidos e que não gostam de se expor. Aí entra o lado catártico. O teatro permite-nos experimentar. É um privilégio vestir a pele de outras pessoas. É brincar aos crescidos. Há personagens que nos desafiam. Quanto à timidez, arranjei a defesa de ser simpática e não ficar fechada no meu mundo. Creio que engano bem.
 
Ser mãe ajudou?
Sim. Fui mãe aos 25 anos. Ser mãe trouxe-me descontracção. São os miúdos que ditam o meu dia-a-dia. Deixas de ser o centro. Claro que tens de olhar para ti e saber qual é o teu lugar. É importante balizar as coisas na vida. Desde que fui mãe acho que me libertei e descontraí imenso.
 
Ser mãe muda tudo?
Um filho imprime-te. Somos privilegiados por educarmos uma criança. É uma aprendizagem gigante. Há dias menos positivos mas sou uma optimista e como mãe não seria diferente. Não podemos saber sempre tudo. Na maternidade não há duas mães nem dois filhos iguais.
 
O que mais gosta de fazer com os seus filhos?
Viajar. Gosto de ver a perspectiva de cada um na viagem.
 
Qual o país que mais a marcou?
O Japão é um país apaixonante, pela grande diferença cultural. É incrível em termos de paisagem, desenvolvimento social e demográfico. Cada cantinho é fascinante, seja uma área mais rural ou mais urbana como Tóquio, que é uma cidade super activa e ao mesmo tempo organizadíssima.
 

 
Como era o Natal em casa?
O ponto alto era esperar que o meu tio, de camisola vermelha, passasse à frente do buraco da fechadura. Acreditei até tarde no Pai Natal. É o lado mais divertido da infância.
 
O que traz da infância para os natais de hoje?
Não haver um Natal igual. Manter o mistério, se bem que o meu sobrinho mais velho já diz: «Eu quero ir puxar-lhe a barba». E nós: «Está calado, deixa as crianças». Tento conservar a mística. Já passámos o Natal na Tailândia, onde fizemos uma mini troca de presentes. Aí o desafio era levar um presente pequeno para caber na mala.
 
Há uns anos teve uma epifania alimentar. Como aconteceu?
Foi uma gastrite, por ter comido muita batata frita. Cresci no boom da comida processada e ninguém falava do mal que fazia. Como era magra, não havia a questão de engordar. Comi umas coisas um bocado 'fora' e este episódio gástrico mudou a minha forma de comer. Passei a ler sobre alimentação e a procurar alternativas culinárias diferentes. Deixei de comer o que era básico na alimentação portuguesa e a variar mais. Hoje sou quase vegetariana. Só como carne ou peixe, se valer mesmo a pena.
 
Que outros cuidados tem?
Faço exercício. Gosto de dançar e fazer ioga, mas como sou indisciplinada não tenho rotinas. Não ter os mesmos horários também não ajuda. Por isso gosto de obrigar-me a ir a uma aula ou mesmo a ter um treinador.
 

 
Ajudou a criar a Escola Verdes Anos, em Lisboa. Qual era o objectivo?
O mote era formar crianças mais livres e mais abertas de pensamento. Não estar ali a despejar matéria, mas colocá-los em posição de fazer escolhas. O factor alimentação foi importante porque me chateava o que os miúdos comiam. Criámos uma escola ovolactovegetariana, onde a refeição é também um momento de partilha.
 
Ecologista convicta, começou a fazer uma campanha contra o plástico. Como viver sem?
Não é fácil, mas é possível. O plástico está em todo o lado. Há que começar por eliminar o plástico de curta duração. Mas o que tem de acontecer é uma mudança por parte das empresas e uma maior exigência da parte do consumidor.  Já compro quase tudo a granel, porque nos supermercados até os produtos biológicos estão embalados em plástico.
 
O que a leva à farmácia?
Sou adepta da medicina homeopática e há muitas farmácias com oferta. Gosto do laço com o farmacêutico. Para muitas pessoas é uma salvaguarda. Tenho uma relação óptima com a minha farmácia. Se tenho de comprar um medicamento convencional, confio neles. A relação de confiança que as farmácias têm com pessoas de idade é importantíssima. No fundo, o farmacêutico é "O" conselheiro na vida dessas pessoas.
 
O que a faz feliz?
Coisas simples como estar com os meus numa jantarada. Gosto de estar no campo ou na praia sem pensar em muita coisa. Só estar. Às vezes esquecemo-nos de estar. Vou só estar aqui um bocadinho e ser feliz.

 
 

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