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31 agosto 2023
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Rodrigo Coutinho Vídeo de Rodrigo Coutinho

Celebrar o choco, o sal e a pesca

​​​​​​Entre Setúbal, Arrábida e Palmela há mar, rio e pesca, doces e vinho premiado.​

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Os tons de azul e branco embevecem os olhos de quem chega ao Mercado do Livramento. Um painel de 5.700 azulejos, na parede sul, engrandece a identidade de Setúbal evocando o rio Sado, o transporte do sal, a salga de peixe e a vitivinicultura.


A parede sul do mercado é composta por um painel de 5.700 azulejos onde se descreve o transporte de sal, a salga de peixe e a vitivinicultura

«Em 2014 foi considerado um dos melhores mercados do mundo», exclama a farmacêutica Lucília Pascoal, 57 anos. «É impreterível visitá-lo», elogia. Do peixe fresco às frutas e hortícolas, sem esquecer os queijos de Azeitão e outras especialidades da região, a visita ao mercado pede algum tempo para descobrir, saborear e viver o ambiente.

«Vendo muito douradas e robalos, mas também peixe para a caldeirada», afirma Carlos Carmo, 69 anos, vendedor desde 1982 e conhecido como “Carlos da caldeirada”.


Maria Júlia Carmo e Carlos Carmo vendem peixe no Mercado do Livramento desde 1982

Elevada a sede de distrito em 1926, Setúbal beija o rio Sado em simbiose perfeita com o oceano Atlântico. É dessas águas que chega à cidade aquele que é (re)conhecido como o rei da terra: o choco. «Tem muita saída, os portugueses compram bastante. Os estrangeiros? Esses gostam é de comê-lo já frito no prato!», explica a vendedora Maria Clara, de 62 anos e na banca há 50.

Canja de choco, rissóis e empadas, para além do tradicional choco frito no prato ou no pão, são algumas das iguarias que atraem, durante todo o ano, portugueses e estrangeiros. «Até os nossos golfinhos gostam! Mas só comem a cabeça do choco», conta Maria Júlia Carmo, 66 anos, mulher de Carlos.

Consideradas pérolas do Sado, há ostras a provar em vários pontos da cidade. «Estas são das melhores do mundo, pois têm um índice de carne superior», afiança Susana Lopes, 45 anos, que desde 2019 recebe no Mercado do Livramento quem pretende degustar ostras. «Venham até cá e eu ensino-vos a abrir ostras!», convida.

Proprietária da Farmácia Farinha Pascoal, na Av. Dom João II, Lucília Pascoal tinha 25 anos quando, em 1991, veio viver para a cidade «porque surgiu a oportunidade de adquirir a farmácia». Desde então, a delegada da ANF pelo círculo de Setúbal traz a cidade no coração. «Temos aqui um pouco de tudo! Boas acessibilidades, boa gastronomia, boas praias». Rodeada pelo mar e pela serra da Arrábida, a península de Setúbal soube reinventar-se nas últimas décadas, dispondo hoje de uma oferta rica em património, gastronomia, cultura e turismo. Para estadia de fim de semana ou prolongada, a farmacêutica aconselha uma primeira paragem no Ask Me Arrábida, espaço de informação turística no centro histórico de Setúbal, pois é um excelente "cartão de visita". «Parte do chão é envidraçado, o que permite ver escavações romanas onde se fazia a salga do peixe. No primeiro andar existe um observatório de todos os locais mais emblemáticos a visitar».

A passagem pela baixa deve completar-se com uma ida à praça central, para vislumbrar a estátua de Manuel Maria Barbosa du Bocage, grande poeta português natural de Setúbal. Bocage viveu entre 15 de setembro de 1765 e 21 de dezembro de 1805, data do feriado municipal de Setúbal, acrescenta Lucília Pascoal.


​A praça central homenageia o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, natural de Setúbal. O monumento foi inaugurado em 1871

Ladeando a praça encontram-se vários edifícios de valor histórico, tais como os Paços do Conselho e a Igreja de São Julião (monumento nacional desde 1910). «A igreja, de arquitetura manuelina, é muito interessante», elogia a farmacêutica. Como musa de beleza ímpar, a serra da Arrábida brota verde. As suas estradas de curvas sem fim convidam a passeios de carro ou mota – de preferência com os cabelos ao vento. Exploradores e famílias encontram aqui experiências em contacto com a Natureza. «Pode optar por caminhadas em família, escaladas, parapente», enumera a farmacêutica. É frequente a manhã começar com nevoeiro a "pintar" o Portinho da Arrábida e outras praias. Nada que demova turistas ávidos de um mergulho nestas águas transparentes. «Temos a praia de Galapinhos, que já foi considerada uma das mais bonitas da Europa, e também as praias de Galapos, da Figueirinha, de Albarquel, igualmente bonitas», afirma a profissional.

Nas águas do estuário do Sado é possível realizar aquele que é, para pequenos e graúdos, o sonho de uma vida: ver golfinhos ao vivo. A população residente de golfinhos-roazes conta atualmente com cerca de 25 indivíduos, muitos dos quais com idade superior a 40 anos. Na galeria de exposições da Casa da Baía, na Avenida Luísa Todi, encontra-se o Centro Interpretativo do Roaz do Estuário do Sado. A entrada é gratuita.


Filipe Cardoso, enólogo, produz moscatel e outros vinhos que podem ser provados na Quinta do Piloto, em Palmela

A oito quilómetros de Setúbal está Palmela. Fortemente ligada à tradição agrícola, em especial à vitivinicultura, Palmela conquistou os títulos de Cidade do Vinho 2009 e de Cidade Europeia do Vinho 2012. Provas de vinhos e visitas a adegas que trazem à vila pessoas da Coreia do Sul, Suécia e Norte da Europa. «Aqui explicamos as fases de produção do vinho, sendo que a visita acaba com uma prova», conta Filipe Cardoso, enólogo e proprietário da Quinta do Piloto, que oferece diariamente a possibilidade de visitar a sua adega, a vinha e dá a provar os seus vinhos, entre eles o Moscatel de Setúbal.

O coração da vila acolhe também a Casa Mãe da Rota dos Vinhos da península de Setúbal. «É um local privilegiado para provar e adquirir os vinhos da região a preço de adega, e ponto de partida para descobrir e agendar experiências enoturísticas nos parceiros da Rota», detalha Luís Miguel Calha, vice-presidente da Câmara de Palmela com os pelouros do Turismo e da Economia Local. Estima-se que a cultura da vinha na região tenha sido introduzida no vale do rio Sado pelos Tartessos, há cerca de 2000 a. C.


Monumento Nacional desde 1910, o Castelo de Palmela acolhe anualmente a Feira Medieval da vila, que este ano se realiza de 22 a 24 de setembro

No alto da colina exibe-se o Castelo de Palmela, classificado como Monumento Nacional em 1910. Entre os dias 22 e 24 de setembro, é palco da Feira Medieval que este ano tem como tema "O Primeiro Mestre Português na Ordem de Santiago". «Nesta festa, os visitantes podem vestir-se à época e assistir a eventos de falcoaria, danças medievais e ao torneio de cavaleiros», sugere Lucília Pascoal.


«O Moinho de Maré da Mourisca é um sítio ótimo para passear, beber um café, ou assistir aos voos das aves migratórias», revela a farmacêutica Lucília Pascoal

Inserido na Reserva Natural do Estuário do Sado, o Moinho de Maré da Mourisca, localizado na Herdade da Mourisca, é um dos quatro moinhos de maré conhecidos no estuário. Local ideal para contacto com a Natureza. Traga binóculos e venha ver o cair da tarde e as aves que bicam a maré baixa. «E é um sítio ótimo para comer o famoso pastel de moscatel!», conclui a farmacêutica.

 

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