Farto do ritmo de vida «alucinante» da hotelaria, Jorge Lima abandonou o emprego como chef de cozinha e retomou o negócio de família, uma destilaria que produz licores e aguardentes com os sabores do Algarve: figo, alfarroba, medronho e amêndoa. Também vende produtos tradicionais, como mel amargo, feito da flor do medronheiro, «a única flor que existe nos meses de Dezembro e Janeiro». O homem que vivia a criar comida, hoje cria experiências com bebidas, «todos os dias a tentar melhorar». Jorge gosta da parte criativa e, a atestar a veia de artista, estão duas esculturas que fez em homenagem ao pai e à mãe, expostas na entrada da Regional Arte, a destilaria de origem familiar localizada em São Marcos da Serra.
A ceramista Lília Lopes descobriu o gosto pelo trabalho de mãos a moldar doces algarvios. Hoje, em vez de pasta de amêndoa, molda o barro com que cria peças inspiradas no Algarve que ama, as papoilas, a esteva e o mar. No Atelier Dois LL, prepara muitos trabalhos em azulejo, mas é a cerâmica que mais a realiza. Tem obras a embelezar a vila onde nasceu, São Bartolomeu de Messines. Recentemente, inaugurou uma exposição sobre o tema “Renascer”, inspirada na esperança do regresso à vida após a incerteza da pandemia.
Marília Louçã trabalhou em limpezas, foi governanta e «a segunda motorista bombeira do Algarve». De tudo o que fez, elege o negócio familiar que construiu há 20 anos, onde trabalha com o marido e a filha. Faz doces regionais, dos bolos de amêndoa fina com forma de frutos e animais coloridos, aos famosos D. Rodrigo, tortas de amêndoa e alfarroba, queijadas e bolos de aniversário, casamento e baptizado. «Inventamos receitas com base nos frutos do nosso Algarve e fazemos de tudo um pouco, do tradicional ao moderno, conforme as modas», conta. Paciência e persistência são os segredos do trabalho. A confecção é laboriosa e demorada, em especial a parte da decoração, a preferida de Marília.
Com o apoio das duas filhas, Edite Alves fez vingar no mercado a marca de vinhos João Clara, que o marido criou em 2006. A doença do marido levou-a a deixar o emprego como guia intérprete e dar continuidade ao projecto que «era um sonho para ele». Aprendeu sobre vinhos e vinha, em 2010 plantou novas vinhas, «para criar um vinho branco de qualidade», em Agosto de 2020 inaugurou a adega João Clara. A nova adega alavanca o sonho de duplicar a produção de 50 mil garrafas nos próximos cinco anos. Edite sabe que o marido «havia de ficar orgulhoso».
Nos 26 hectares da Quinta João Clara, 14 são vinha e os restantes destinam-se à cultura de sequeiro: figo, alfarroba, amêndoa e azeitona. Há um ano e meio, a quinta conta com um enólogo, Rui Cruz, também ele algarvio, que começou na profissão há dez anos no Norte do país, sempre com o objectivo de «voltar a casa». Rui tem a seu cargo os vinhos tintos, rosés e um espumante branco, «o primeiro espumante do Algarve», tudo da casta negra mole. «Somos conhecidos porque a D. Edite foi a primeira pessoa a reavivar os vinhos desta casta, muito versátil e resistente aos dias quentes e húmidos do Algarve». A adega adquiriu três talhas com 180 anos e com elas fez a experiência de produzir vinho da talha, recriando «a casta mais típica do Algarve e a segunda mais antiga de Portugal na maneira de fazer vinho no mundo: a talha». Correu bem e «é para repetir», garante o jovem enólogo.