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2 julho 2021
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de André Oleirinha Vídeo de André Oleirinha

Algarvios de regresso às origens

​​​O turismo é um destino ao qual é difícil escapar, mas há quem escolha ocupar-se de ofícios tradicionais.​​

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Farto do ritmo de vida «alucinante» da hotelaria, Jorge Lima abandonou o emprego como chef de cozinha e retomou o negócio de família, uma destilaria que produz licores e aguardentes com os sabores do Algarve: figo, alfarroba, medronho e amêndoa. Também vende produtos tradicionais, como mel amargo, feito da flor do medronheiro, «a única flor que existe nos meses de Dezembro e Janeiro». O homem que vivia a criar comida, hoje cria experiências com bebidas, «todos os dias a tentar melhorar». Jorge gosta da parte criativa e, a atestar a veia de artista, estão duas esculturas que fez em homenagem ao pai e à mãe, expostas na entrada da Regional Arte, a destilaria de origem familiar localizada em São Marcos da Serra.  

A ceramista Lília Lopes descobriu o gosto pelo trabalho de mãos a moldar doces algarvios. Hoje, em vez de pasta de amêndoa, molda o barro com que cria peças inspiradas no Algarve que ama, as papoilas, a esteva e o mar. No Atelier Dois LL, prepara muitos trabalhos em azulejo, mas é a cerâmica que mais a realiza. Tem obras a embelezar a vila onde nasceu, São Bartolomeu de Messines. Recentemente, inaugurou uma exposição sobre o tema “Renascer”, inspirada na esperança do regresso à vida após a incerteza da pandemia.  

Marília Louçã trabalhou em limpezas, foi governanta e «a segunda motorista bombeira do Algarve». De tudo o que fez, elege o negócio familiar que construiu há 20 anos, onde trabalha com o marido e a filha. Faz doces regionais, dos bolos de amêndoa fina com forma de frutos e animais coloridos, aos famosos D. Rodrigo, tortas de amêndoa e alfarroba, queijadas e bolos de aniversário, casamento e baptizado. «Inventamos receitas com base nos frutos do nosso Algarve e fazemos de tudo um pouco, do tradicional ao moderno, conforme as modas», conta. Paciência e persistência são os segredos do trabalho. A confecção é laboriosa e demorada, em especial a parte da decoração, a preferida de Marília.  

Com o apoio das duas filhas, Edite Alves fez vingar no mercado a marca de vinhos João Clara, que o marido criou em 2006. A doença do marido levou-a a deixar o emprego como guia intérprete e dar continuidade ao projecto que «era um sonho para ele». Aprendeu sobre vinhos e vinha, em 2010 plantou novas vinhas, «para criar um vinho branco de qualidade», em Agosto de 2020 inaugurou a adega João Clara. A nova adega alavanca o sonho de duplicar a produção de 50 mil garrafas nos próximos cinco anos. Edite sabe que o marido «havia de ficar orgulhoso».  

Nos 26 hectares da Quinta João Clara, 14 são vinha e os restantes destinam-se à cultura de sequeiro: figo, alfarroba, amêndoa e azeitona. Há um ano e meio, a quinta conta com um enólogo, Rui Cruz, também ele algarvio, que começou na profissão há dez anos no Norte do país, sempre com o objectivo de «voltar a casa». Rui tem a seu cargo os vinhos tintos, rosés e um espumante branco, «o primeiro espumante do Algarve», tudo da casta negra mole. «Somos conhecidos porque a D. Edite foi a primeira pessoa a reavivar os vinhos desta casta, muito versátil e resistente aos dias quentes e húmidos do Algarve». A adega adquiriu três talhas com 180 anos e com elas fez a experiência de produzir vinho da talha, recriando «a casta mais típica do Algarve e a segunda mais antiga de Portugal na maneira de fazer vinho no mundo: a talha». Correu bem e «é para repetir», garante o jovem enólogo.

 

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