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4 maio 2023
Texto de Pedro Veiga Texto de Pedro Veiga Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Diogo Alves Vídeo de Diogo Alves

«A vida é feita de girassóis e tempestades»

​​​​​​​​​​Três décadas após o início da carreira, Marisa Liz assina, pela primeira vez, um disco em nome próprio.

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Popeline, Onda Choc, XL Femme, Donna Maria, Amor Electro. Foi longo o percurso até chegar a este “Girassóis e Tempestades”, o primeiro álbum a solo.
Sim, já tive a oportunidade e a sorte de fazer muita coisa diferente. Este disco chega como uma libertação, uma oração de opostos que se encontram em música, dos dias mais alegres aos mais sombrios, nesta inquietação com que me habituei a estar na vida.

É um álbum que a descreve enquanto pessoa? 
Acho que me descreve a mim e a todos. O ponto inicial deste disco foram os meus sentimentos, mas, desde que nasci, percebo que esses girassóis e essas tempestades existem em toda a gente. Temos a tendência de tentar esconder as tempestades e sermos girassóis para todas as pessoas e isso não é verdadeiro. É aceitar que os dois lados acontecem.

A composição deste álbum foi diferente daquilo que acontecia nas bandas?
Tudo foi diferente. Comecei por compor algumas coisas sozinha e acreditava que tinha a capacidade de fazer um disco com as minhas composições, mas isso não me chegava. Eu queria ter o melhor disco possível e sabia que isso não poderia passar só por mim, porque eu ainda tinha muito para aprender e com malta que admirava muito, para me desafiarem, para me tornar melhor compositora, melhor intérprete, melhor pessoa.

E aprendeu?
O objetivo que delineei para mim – não só na música, em geral – é ser feliz e sabia que aprender com outros compositores ia trazer-me, em grande parte, essa felicidade. Eu não sou a mesma compositora que era antes deste disco, nem a mesma pessoa, nem a mesma mulher. E ainda bem, porque mudar faz bem.



O disco conta com participações dos seus filhos. Como é que isso aconteceu?
Fui eu que os obriguei [risos]. O meu filho João tem uma participação pequena no “Silêncio”, um tema feito pelo Chico César, que tem lá um shhh dele, a mandar calar alguém. Quanto à minha filha, eu sabia que não queria ter duetos neste disco e que, se tivesse algum, seria com ela. Mas só se houvesse a música certa para o fazer.

Essa música é sobre o quê?
A “Contigo” fala do amor que sentimos uma pela outra, mas de forma muito sincera. Não são só unicórnios. Há lutas minhas que tenho de ultrapassar pelo facto dos meus filhos estarem a crescer. E esse é o meu papel: conseguir que sejam independentes e que acreditem nos sonhos deles. Há esse lado, quase de libertação, mas nota-se também na canção que serão meus para sempre, no sentido emocional, de mãe-galinha.

Encontra algum paralelo entre a Marisa da década de 90, a fazer as primeiras experiências na música, e a sua filha?
Só na ideia de ter um sonho e trabalhar para isso. São gerações muito diferentes. Quando tinha a idade da Beatriz, não havia redes sociais, a minha vida era muito diferente. Acho que a adolescência é um período de descoberta, em que é preciso ter coragem. Muitos têm medo e acabam por se esconder. Nisso ela é parecida comigo: não tem medo dessa descoberta. De resto, é uma pessoa diferente, numa altura diferente, num mundo diferente. 

A maternidade é também um território de girassóis e tempestades?
O trabalho mais difícil da vida é educar alguém. Sou uma pessoa que pesquisa muito sobre educação, tento estar atualizada, mas é o trabalho mais difícil do mundo. Tento que os meus filhos celebrem os girassóis sempre que aparecerem, não fujam das tempestades e saibam gerir emocionalmente essas diferenças.

Ser mãe ajudou a pôr em perspetiva a relação com a sua própria mãe?
Eu acho que isso acontece com todos. Acontece porque amadureces. Enquanto cresces, a tua mãe e o teu pai são quase aliens. Só quando chegas à fase adulta é que consegues ver o humano para lá da mãe e do pai, a pessoa com altos e baixos e tudo o resto pelo meio.

Qual é a primeira memória de atuar ao vivo?
A primeira vez que as Popeline foram à televisão foi no programa “A Amiga Olga”. Eu e a minha mãe chegámos atrasadas porque estávamos tão nervosas que ela se enganou no caminho e fomos parar à margem Sul. Em palco, a primeira recordação que tenho é de um concerto para milhares de pessoas, na ilha Terceira. Na minha cabeça, foram milhares, se calhar foram só centenas, mas, naquela idade, era uma imensidão de gente.



Foi uma fase marcante?
Foi superdivertido. Eu não tinha bem noção do que era ser cantora, só mais tarde. Sabia que gostava de cantar, mas não do que esta profissão iria implicar. Naquela altura, era só uma brincadeira de miúdos, em que fui muito feliz.

Como é que essas primeiras experiências na música se comparam com programas como “The Voice Portugal” ou “The Voice Kids”, em que foi mentora?
Há muitas diferenças. O meu casting não tinha milhares de pessoas a ver em casa. Mas aquilo que mudou mais foi a intenção. Tu não fazias castings para aparecer na televisão, isso era quase uma exceção. O que te motivava era realmente quereres cantar, saberes música, dançares e estares com malta da tua idade a viver uma coisa de que todos gostávamos.

Essa é uma das razões por que a participação em programas de talentos nem sempre se traduz numa carreira?
Há vários exemplos de concorrentes que fizeram carreira e muitos deles nem ganharam o programa. O “The Voice Portugal” é uma escola e só aprende quem quer. É fácil estar afinado, o mais difícil é emocionar. Sempre passei essa ideia às minhas equipas. Isto não é uma brincadeira. Se queres realmente ser intérprete, dá muito trabalho.

Vem aí uma tour exigente de apresentação do álbum. O que faz para estar a 100% para os espetáculos?
Aprendi a criar limites, a dizer não. Não dou mais do que quatro concertos em dias seguidos, por exemplo. Se marcasse 30 concertos num mês, não ia dar 30 concertos bons. Eu quero ser sincera nos concertos e, emocionalmente, é impossível fazê-lo se der muitos seguidos.

Está a fazer 30 anos de carreira. O que há mais para fazer?
Tudo. Esse é o maior girassol de todos. É pensar «O que há ainda para fazer? O que é que ainda há para sentir? Que gargalhadas é que eu ainda vou dar? Quem vai partir-me o coração? Quando é que eu vou dar a volta ao mundo? Quando é que eu vou fazer a música da minha vida? Quando? Amanhã? Bora!» Estou totalmente pronta para viver e para ser feliz.

 

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