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11 fevereiro 2017
Texto de Rita Leça Texto de Rita Leça Fotografia de Céu Guarda Fotografia de Céu Guarda

A magia de Sintra

​O encanto para além dos palácios, que vale a pena conhecer.

Luís Brousse Gato espera-nos à porta do Tivoli – Palácio de Seteais Hotel com uma surpresa na manga: «Os meus pais casaram-se aqui». Abrimos os olhos de surpresa sem sabermos que, pouco tempo depois, ser-nos-ia lançada mais uma cartada, à medida que entramos num dos salões bem decorados deste hotel, património histórico de Sintra agora nas mãos dos tailandeses Minor Hotel Group: «Os meus tios festejaram aqui as bodas de ouro».

Luís é um homem de família, percebe-se bem. É assim que se sente com confiança para seguir o projecto delineado pelos pais há mais de trinta anos – dirigir uma farmácia própria, em Mem Martins. A farmácia tem no nome o seu legado: Dumas Brousse, nome que ainda hoje muitos habitantes da região associam ao seu avô, Carlos Dumas Brousse, braço-direito dos autarcas de Sintra durante 47 anos.

Palavras partilhadas à medida que adentramos pelos jardins do Palácio de Monserrate, antigo casario de férias de Francis Cook, milionário inglês do comércio têxtil e primeiro Visconde de Monserrate, um dos primeiros, também, a ter um telefone em Sintra no início do século  passado.

Os problemas económicos obrigaram a família Cook tempos depois, a vender praticamente todo o recheio do palácio. Sobram as belas áreas, com objectos da época – a cozinha (restaurada com a traça original), os radiadores, os interruptores da luz, os papéis de parede decorativos, os azulejos hispano-árabes, um relógio de madeira com embutido de tartaruga, cujo inventário do palácio dizia ser da época de Luís XV. Na biblioteca há uma placa comemorativa do restauro: 5 de Junho de 2009, marcada com a realização de um Conselho de Ministros, presidido por José Sócrates.

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No imenso jardim, situado na Serra de Sintra, considerada Património da Humanidade pela UNESCO, o arco, vindo da Índia, dá acesso ao edifício que guia a nossa imaginação pelos anos do colonialismo pelo Oriente. E, depois, em cada zona específica estão as rosas do roseiral, os cactos mexicanos, a estufa e os viveiros, o jardim japonês e, em destaque, a  Araucária-de-Norfolk, a maior árvore do jardim, com mais de 50 metros de altura.

O Palácio, assim como o Parque e a Tapada de Monserrate, está nas mãos do Estado português desde 1949. No total, são 143 hectares de pura elegância. Nos últimos anos, o edifício foi alvo de obras de recuperação, com inauguração oficial em 2010. 

Depois do passeio, hora do lanche. Luís Brousse Gato leva-nos a contemplar a vista da casa de chá Dona Maria, a provar as broas de mel da pastelaria Gregório, a degustar os travesseiros da Casa Piriquita e a saborear as queijadas da Casa do Preto. Pelo caminho, conhecemos a Fonte do Sabugo, passamos pela Quinta da Regaleira e pelo Palácio  Nacional, «conhecido, antigamente, como Paço Real, utilizado pela família real até ao fim da monarquia». E, lá em cima, o monumental Palácio da Pena, como um vigia sempre atento. Pelo caminho, novas descobertas: os laços entre a família Brousse e Sintra começaram logo no início do século XX, num grande nó que une Portugal, França e até Argentina, feito apenas por um homem só: Theodore Dumas Brousse, engenheiro mecânico, inovador, aventureiro e  apaixonado. Theodore, o tetravô do nosso anfitrião.

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«Ele nasceu em França e veio para Portugal para trabalhar com Gustavo Eiffel, no projecto da linha dos caminhos-de-ferro da Beira Baixa. Também ajudou a construir a ponte D. Luís, no Porto, e o túnel do Rossio, em Lisboa, entre outros», conta Luís Brousse Gato. «Deve ter-se apaixonado por uma portuguesa e aqui ficou. Teve dois filhos e viajou muito» diz-nos Luís, anunciando, depois, o almoço do dia seguinte: «Vamos saborear o melhor peixe fresco da região».

O espaço chama-se Restaurante da Adraga, na praia com o mesmo nome. É mais pequeno do que a fama e, por isso, «está sempre cheio aos fins-de-semana». O Sr. Jorge conhece Luís «desde pequeno» e não poupou cuidados para bem servir.

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​​​​​Perto, na Praia Grande, algumas pessoas contemplam o sol de Inverno, aproveitando as obras de remodelação que vieram «ordenar mais o espaço, com lugares de estacionamento e acessos para a praia», como sublinha o nosso anfitrião.

Antes do regresso, passamos na pequena aldeia de Almoçageme para conhecer a Coisas da Terra – espaço de decoração exclusivo para profissionais do sector. Nesta antiga adega descobrimos objectos dos mais clássicos aos mais exóticos, como máscaras tribais ou um coche em madeira usado nos casamentos indianos.

Um roteiro que é uma viagem ao passado de Sintra, mas também do próprio Luís e da sua família. Caminhos que se entrecruzam e que levam o nosso anfitrião a confirmar: «Sem dúvida, o que me une a esta região é mais do que o meu trabalho ou do que a minha vida. Aqui, tenho laços de sangue».
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