Farmácia Dias da Silva - Azambuja
Nesta época, dezenas de presépios enchem a montra da Farmácia Dias da Silva, na Azambuja. São de múltiplas cores, formatos e até nacionalidades. A maioria foi emprestada pelos utentes, que responderam ao repto lançado pela farmácia. Junte o seu presépio aos nossos, lê-se num quadro de lousa à entrada. E as pessoas juntam! No final de Novembro, já perto de 70 presépios embelezavam a montra e faziam parar os transeuntes, curiosos. «Esperamos que até ao Natal cheguem muitos mais», diz Maria João Dias da Silva, proprietária da farmácia há 40 anos. «Toda a gente nos conhece e nós conhecemos toda a gente. É bom sentir esta proximidade e poder partilhar paixões comuns», sublinha.
Aqui, a paixão são os presépios. «Já perdi a conta aos que tenho lá em casa. Tornou-se uma mania entrar numa loja de artesanato e comprar um presépio. São todos tão diferentes», confessa a utente Isabel Lança. Aos 82 anos, conserva o espírito curioso que tantas vezes a faz procurar, descobrir e até mesmo criar a sua colecção. «Gosto de comprar as peças e, depois, fazer o meu próprio presépio. Este, por exemplo, é feito com musgo e uma pedrinha que apanhei aqui na rua», explica, apontando para um exemplar pequeno, feito com figuras que, antigamente, eram colocadas dentro do bolo-rei. «Foi o primeiro que fiz. Ainda quero melhorá-lo e pôr uma árvore». Isabel Lança participa na iniciativa da farmácia com uma dezena de exemplares.
«Todos os anos digo que não vou comprar mais nenhum. Mas acabo sempre por não resistir», admite também, rindo, Maria João Dias da Silva. Em casa, guarda perto de 50 presépios, de vários países do mundo. É dela o maior exemplar na montra. «É o meu favorito. Tinha-o no topo das escadas da minha casa, mas decidi trazê-lo para aqui. As pessoas gostam muito!», conta a farmacêutica.
A farmácia exibe presépios de muitas regiões do país e de outras partes do mundo. «Este foi-nos emprestado por uma utente que viveu muitos anos em Moçambique», exemplifica, mostrando um presépio arredondado que se coloca suspenso por um fio. Também há um exemplar do Equador e outro de estilo peruano. As crianças adoram. «Quero emprestar o meu presépio. Em casa, fico só com o da Playmobil», pediu Rita Lança, de 9 anos, numa visita à farmácia. «E a mãe deixou», conta a farmacêutica, numa gargalhada feliz.
A paixão pelos presépios atrai vizinhos de todas as idades. Nascida em Coruche, Esmeralda Neves Sousa quando casou, em 1999, veio viver para a Azambuja. Tem mão para o feltro e adora gatos. Há sete anos, criou o primeiro presépio felídeo do mundo. Foi um sucesso. «Nunca mais parei».
De início, os figurantes eram todos pretos, como Frela, a sua primeira gata. Com o passar do tempo, os presépios abriram-se a outras raças e espécies. Na primeira prateleira da montra, Esmeralda exibe agora um presépio de três gatos coloridos. Mais abaixo, um outro, em que o feltro tomou a forma de corpos humanos. Investe «muitas horas de trabalho» nos detalhes, o que dá grande beleza às obras. «As pessoas param para ver os presépios. Tenho muito orgulho em ter aqui os meus», afirma a artífice do feltro.
As irmãs Maria Joana e Rosa Alves Batalha, de 81 e 83 anos, recusam-se a «ficar fechadas em casa». Se há uma exposição colectiva, claro que as manas Batalha, como são conhecidas, têm de entrar. «Somos as manas mais castiças, como diz o padre», apresentam-se. Os filhos de ambas levaram com eles os antigos presépios de família. Ainda assim, sobraram algumas figuras. «Trouxemos dois Reis Magos que tínhamos esquecidos lá nas nossas casas. Não queríamos deixar de participar!», conta Maria Joana. «São mesmo antigos, tradicionais. Nem sei quantos anos têm», acrescenta Rosa. Feita a explicação, coloca Gaspar e Baltazar na prateleira da farmácia.