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22 dezembro 2017
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Jorge Firmino Fotografia de Jorge Firmino

Pinheiros de verdade

​​​​​​​​​​A cada cliente é oferecido um pequeno pinheiro.​

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Farmácia Lima da Silva - Sertã
 
Neste Natal, a Farmácia Lima da Silva vai oferecer um pequeno pinheiro a cada um dos seus clientes. No total serão 2.000 pinheiros a colorir de verde a vila da Sertã, conhecida como a terra do pinheiro de Natal. O nome vem da vasta zona de pinhal que, entre Junho e Outubro, foi dizimada por cinco grandes incêndios. 
 
«Em equipa, decidimos este ano dar uma prenda diferente, algo que anime e traga esperança no futuro aos nossos clientes, muitos dos quais foram afectados pelos incêndios», explica a directora-técnica, Cristina Lourenço, que trabalha na Farmácia Lima da Silva há 20 anos. «Queremos celebrar a vida, semear o amor e plantar a esperança».
 
O Natal sempre foi vivido de forma muita intensa na Farmácia Lima da Silva. Durante muitos anos, participou no concurso de montras realizado na vila, tendo arrecadado vários prémios. Este ano, o tema da montra está em sintonia com a prenda, mostrando um presépio rústico feito de serapilheira, construído pelos idosos do lar da Sertã, num cenário de ramos de oliveira, caruma e os pinheirinhos que vão ser oferecidos.
 

Cristina Lourenço, directora-técnica, e Nuno Gonçalves, o proprietário. A escolha dos pinheiros para prenda de Natal foi feita em conjunto com a equipa
Cristina Lourenço não se enganou quando previu que os clientes iam ficar surpreendidos, mas muito agradados com o pequeno mimo que este ano a Farmácia Lima da Silva lhes reserva. Todos os utentes com quem falámos disseram gostar muito da ideia e que são precisas mais iniciativas do género para tornar de novo verde o concelho. «É um gesto excepcional face ao que aconteceu este ano com os incêndios, aqui e em todo o Portugal», diz António Melro, engenheiro da EDP na pré-reforma, que vive na Sertã há 35 anos. Quando o neto de quatro anos chegar de Angola para as férias de Natal vai com ele plantar o pinheirinho e explicar-lhe a importância de preservar a natureza. «Faz parte da educação a dar às crianças e espero, nos próximos anos, poder ir com ele para vermos como está a crescer o pinheiro que plantou».
 
Aos 64 anos, António Melro é um cliente assíduo da Farmácia Lima da Silva. Toma diariamente 12 medicamentos, devido à diabetes e aos problemas de coração, o que o leva a visitar a farmácia dia sim, dia não. Gosta sobretudo do ambiente: «As pessoas são muito simpáticas e as doutoras Cristina e Elsa são espectaculares, como pessoas e como profissionais. Passam muito tempo com os clientes, pelas amabilidades que têm, mas como a maioria das pessoas tem muita idade faz--lhes bem essa atenção». Tem uma dívida de gratidão para com Cristina Lourenço, que lhe «salvou a vida», ao identificar o erro numa receita de um medicamento com penicilina, substância a que é alérgico.
 
A Farmácia Lima da Silva, localizada na zona nobre da vila, é uma das duas farmácias da Sertã e atende por dia uma média de 200 clientes.
 
Hoje dispõe de instalações amplas (as terceiras desde a sua origem), com todas as condições para acolher com conforto os clientes, incluindo um gabinete privado. O aspecto mais valorizado pelos sertanenses é o atendimento. «O que as pessoas mais procuram aqui é que tenhamos um sorriso para elas, que as ouçamos, conversemos um bocadinho e nos interessemos pelas suas doenças. Conhecemos muito bem os utentes e quando eles chegam à farmácia muitas vezes já sabemos qual é o problema, mesmo antes de nos dizerem», diz Cristina Lourenço.
 
Nuno Gonçalves, o actual proprietário, está de acordo: «As pessoas procuram uma palavra amiga, um conforto, o desabafo». Empatia, disponibilidade, proximidade. Mais do que o conhecimento técnico, transversal à profissão, a diferença faz-se na forma como se atende o público. «A característica principal do farmacêutico é estar sempre disponível para as pessoas e, com isso, vem o dar carinho, amor e atenção. Criarmos a capacidade de nos tornarmos psico-farmacêuticos», avança a directora-técnica. «As pessoas saem daqui com uma alma nova e é isso que nós queremos».
 
«São todos muito simpáticos e dão-nos sempre a possibilidade de escolher entre os medicamentos que saem mais em conta, o que é muito importante porque as nossas reformas são pequenas», diz Maria Fernanda Pires, de 77 anos, cliente habitual da Farmácia Lima da Silva. Ana Rita Santos, mãe de uma bebé de um mês, também valoriza o atendimento e a capacidade que a equipa tem de esclarecer as pessoas, «muitas vezes até pelo telefone».
 

A bebé de Rita Santos vai poder assitir ao crescimento da sua árvore de Natal

Carla Simões, vendedora de fruta de 37 anos, mora a 10 quilómetros da Sertã, na Macieira, uma das muitas aldeias afectadas pelo incêndio de 15 de Outubro, onde arderam duas casas de primeira habitação, para além de várias arrecadações e hortas. Com Cristina Lourenço, Nuno Gonçalves e duas funcionárias da farmácia, é às portas da aldeia que vai plantar o pequeno pinheiro que a Farmácia Lima da Silva lhe ofereceu. Quase dois meses depois, o cenário permanece desolador. Ainda sai fumo da manta morta do chão, onde continuam a arder raízes de árvores. O minúsculo pinheiro verde contrasta com a enorme área negra ardida. Um pequeno sinal de vida. A esperança de ver, de novo, verde a terra do pinheiro de Natal.​
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