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8 abril 2018
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

A cidade que nasceu da água

​​​​​​Uma viagem a Caldas da Rainha, que deve a sua existência ao hospital termal.​​

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​Caldas da Rainha nasceu da vontade de uma rainha, que acreditou nas propriedades curativas de umas poças de águas quentes e ali mandou erigir uma capela e um hospital termal, destinados à cura da alma e do corpo. Ao longo dos séculos, a cidade desenvolveu-se por influência do hospital e recebeu reis, aristocratas, empresários e artistas, encantados pela beleza da região. Hoje é valorizada pelas artes, com destaque para a cerâmica, e pelos arredores de praias fantásticas, onde não faltam uma lagoa de água salgada e um dos mais bonitos castelos de Portugal, em Óbidos. Tudo a uma hora de Lisboa.

Reza a lenda que, em 1484, deslocava-se a rainha D. Leonor de Óbidos para Alcobaça, quando passou por umas poças de água quente onde se banhavam pessoas andrajosas, ​pobres, que lhe disseram terem aquelas águas propriedades muito boas e ela, logo ali, decidiu a construção do hospital que haveria de dar origem à cidade. A história é desfiada,  ​com pormenores dignos de um historiador, pelo médico António Curado, que habita na cidade há 33 anos e há dois é director-clínico do Centro Hospitalar do Oeste.

O hospital termal de Caldas da Rainha foi um dos primeiros do mundo e apresentou vários factores inovadores para a época. Dispunha, por exemplo, de um médico ao serviço 24 horas por dia, uma prática que só cem anos mais tarde seria adoptada em Inglaterra e Espanha. «Ali vigorava a regra de “mente sã  em corpo são”, por isso, malchegava, o doente começava por purificar a alma na Igreja de Nossa Senhora do Pópulo», explica Dora Mendes, do Museu do Hospital e das Caldas, o lugar escolhido por António Curado para iniciar a visita.

Igreja de Nossa Senhora do Pópulo

O hospital nasceu para dar assistência aos mais pobres, mas também serviu reis, como D. João V, que se deslocou àquelas termas mais de uma dezena de vezes, em meados do século XVIII. No final do século XIX, no auge do termalismo, as termas de Caldas da Rainha ofereciam muito mais do que tratamentos: os aristocratas que chegavam, usando a recém-inaugurada linha de caminho-de-ferro, usufruíam dos encantos do romântico Parque D. Carlos I, jogando críquete ou passeando de barco no lago artificial. Já no século XX, foi construído no parque o Museu José Malhoa, em homenagem ao pintor naturalista de origem caldense.

Sob o intenso odor a enxofre, descemos as escadas que conduzem às três nascentes de águas termais, aquecidas e ricas em sais minerais, onde os doentes se banhavam para curar as maleitas respiratórias ou de origem músculoesquelética. As termas estão encerradas desde 2014, mas parte dos tratamentos deve reabrir ainda este ano, depois de concluídas as obras de reabilitação.


A água que chega hoje às nascentes do hospital termal caiu na Serra dos Candeeiros há 2.500 a 3.000 anos

A cidade que nasceu do hospital termal vive hoje muito para além dele. Para lá da zona antiga, há uma cidade renovada em termos urbanísticos, com comércio dinâmico e boa ​oferta cultural, que passa quase toda pelo Centro Cultural e de Congressos. Caldas da Rainha é reconhecida pelas artes e ali funciona a Escola Superior de Artes e Design e o Centro de Artes, que agrega vários museus e onde periodicamente se realiza um simpósio de escultura. A ligação às artes vem sobretudo da olaria, «desde o tempo da Maria dos Cacos e do Manuel Mafra, dois percursores da cerâmica caldense, ainda antes de Rafael Bordalo Pinheiro a ter celebrizado», explica António Curado.

Seguindo a rota das artes, a próxima paragem é a Casa Museu São Rafael, que contém o acervo da fábrica que Bordalo Pinheiro ali inaugurou em 1884. O famoso artista  ​oitocentista, que também vinha a banhos a Caldas, «percebeu que podia fazer uma grande equipa e, de facto, construiu uma fábrica de sonho», conta a directora artística e criativa da fábrica, Elsa Rebelo. Durante 21 anos deu largas à sua genialidade e enorme sentido crítico, com criações como o Zé Povinho, a velha alcoviteira ou o sacristão. Hoje a fábrica é propriedade do Grupo Visabeira.


Zé Povinho, personagem criada por Rafael Bordalo Pinheiro

O dia termina na casa do escultor caldense Carlos Oliveira, que há 40 anos se dedica à cerâmica. Apaixonado pela grande escala, tem como obra mais emblemática uma cruz de três metros, actualmente exposta no Vaticano. Carlos trabalha em bronze, pedra ou alabastro, mas a base é sempre o barro, não fosse ele «um barrista caldense» assumido.

A apenas oito quilómetros de Caldas da Rainha, encontramos a praia da Foz do Arelho, banhada pela magnífica Lagoa de Óbidos, que proporciona óptimas condições para a ​prática da vela, windsurf e paddle. Estas praias de vento e ondas fortes são também muito procuradas para a prática do surf e numa delas, Peniche, decorre uma prova do circuito mundial de surf.​


Vista sobre a aberta, onde as águas da lagoa se unem às do Atlântico

​A outra margem da Lagoa de Óbidos, nas colinas que se erguem por detrás da praia do Bom Sucesso, faz as delícias dos amantes do golfe, com quatro campos que António Curado conhece bem. «Para mim é um desporto espectacular», diz. É o golfe, as praias, o castelo, a beleza que rodeia Caldas da Rainha, o que mais o atrai na região. «É uma zona apelativa para se viver, com muita qualidade de vida», garante o médico.

 

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