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4 fevereiro 2018
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Carnaval rima com Portugal

​​​​​​​​É hora de visitar Torres Vedras, onde o Carnaval é rei.​

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«São momentos únicos que mudam a vida de quem os vive», diz Fernanda Onofre, que nos revelou a cidade e arredores. Para a enfermeira, residente em Torres Vedras há 34 anos, a marca distintiva deste Carnaval é a espontaneidade: é vivido na rua e faz-se da alegria da população e dos turistas. Alguns participam em grupos organizados, outros juntam-se de forma espontânea.

É um «Carnaval 100% português», que valoriza a sátira e tradições como os cabeçudos, as matrafonas (homens que se mascaram de mulheres), os cocotes (objectos de arremesso e brincadeira) e os reis do Carnaval, sempre dois homens numa inversão das regras sociais nestes dias que antecedem a Quaresma. O tema de 2018 é “Mares e Oceanos” e Fernanda tem a certeza de que vai encontrar muitas «conchas e sereias».



A tradição começou em 1923 e junta 300 mil pessoas em cinco dias, nas estreitas ruas da zona histórica. Só o corso escolar reúne mais de oito mil crianças. A intensidade da vivência leva muitos foliões a tirarem a semana de férias, enquanto outros praticamente não vão à cama, «dormindo uns bocadinhos entre o meio-dia e as 15 horas. Gosto muito do Carnaval e aconselho toda a gente a vir viver este espírito pelo menos uma vez!», desafia Fernanda.

A nossa cicerone começou o passeio pelo centro histórico, de traçado medieval, subindo à colina do castelo, que albergou mouros e romanos, e de onde se abarca a extensa várzea de Torres Vedras e o leito do rio Sizandro.

Logo abaixo, numa zona conhecida como Cerca da Josefa, o Centro de Interpretação da Comunidade Judaica exibe, desde Maio de 2017, a história desta população, que chegou a contar com mais de mil pessoas. A comunidade extinguiu-se na sequência do édito de conversão forçada de D. Manuel I, no início do século XVI. «Embora vivessem na Judiaria, os judeus nunca estiveram muito apartados dos cristãos, nem foram marginalizados como noutras zonas do país», conta Ana Cláudia Martins, que trabalha no Centro.



Fernanda Onofre atribui o bom acolhimento, que ela própria vivenciou quando se mudou para Torres Vedras, ao facto de os torrienses serem uma «comunidade aberta».

Torres Vedras é cenário de acontecimentos memoráveis da História de Portugal, como testemunha a Casa de Ceuta, onde D. João I decidiu uma expedição a Ceuta, em 1413, percursora dos Descobrimentos. Mas nenhum deles iguala o papel da cidade na defesa de Lisboa contra as invasões das tropas de Napoleão, entre 1808 e 1810. É o factor que «maior reconhecimento internacional traz à cidade», considera Fernanda Onofre.

No Forte de São Vicente, um dos mais importantes e de maior dimensão do sistema defensivo conhecido por Linhas de Torres Vedras, tropeçamos na história da estratégia militar desenhada pelo general inglês Wellington. Chegaram a ser mais de 150 as fortificações construídas com o auxílio da população, incluindo mulheres e crianças, desde o mar até Alhandra, às portas de Lisboa. «Ainda hoje as Linhas de Torres Vedras são consideradas uma das construções militares defensivas mais importantes e bem-sucedidas», explica Jorge Alves, guia-intérprete do forte.



O gosto por crianças leva Fernanda, que trabalha na Unidade de Pediatria do Hospital de Torres Vedras há nove anos, a sugerir a visita à Fábrica das Histórias. Localizada na Casa Jaime Umbelino, figura de destaque na terra, funciona como uma galeria onde decorrem exposições ligadas à palavra, muitas delas dedicadas às crianças. Também a pensar nas crianças, o Atelier  dos Brinquedos foi criado há dois anos, aquando da requalificação do Parque do Choupal, na entrada norte da cidade. Reúne três centenas de brinquedos antigos, parte da colecção pessoal do torriense Octávio Neves, entretanto adquirida pela autarquia.

Entre os 20 quilómetros de costa, Santa Cruz é a mais emblemática das praias do concelho e a «segunda casa dos torrienses», sublinha Fernanda. Aqui, o surf é rei e o "Santa Cruz Ocean Spirit", festival internacional de desportos de ondas e música, a principal atracção. Com dez anos de vida, este festival tem contribuído para colocar Santa Cruz no roteiro do turismo internacional. É ainda o lugar perfeito para comer peixe fresco, refeição que deve finalizar com um delicioso pastel de feijão, especialidade de Torres Vedras.

A visita termina na AdegaMãe, localizada oito quilómetros a sul de Torres Vedras, e justifica-se pela forte tradição vitivinícola da região, desde a ocupação romana, agora reforçada com o título de Cidade Europeia do Vinho 2018, juntamente com Alenquer.



A AdegaMãe é uma homenagem de Ricardo e Bernardo Alves aos pais, proprietários da Riberalves e oriundos do concelho. «Os filhos quiseram agradecer aos pais o futuro que lhes proporcionaram e a escolha de uma adega foi natural, pois o vinho era uma paixão de família. O nome é um tributo à mãe», conta Gonçalo Cosme, da adega. As portas abriram ao público em Novembro de 2011. Algumas das marcas homenageiam as gentes da terra: Dóri, os antigos pescadores de bacalhau; Pinta Negra, o homem do campo; e Copo de 3, lembra os agricultores que frequentavam a taberna.

 

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