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29 abril 2017
Texto de Maria João Veloso Texto de Maria João Veloso Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«A minha religião é o amor»

​​​​​​​​​​​​​​​​​Actriz relata a sua própria peregrinação para fazer o filme “Fátima”.

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Revista Saúda: A dimensão humana do filme “Fátima” é tocante. Parece ter sido uma experiência duríssima…
Rita Blanco: Não foi uma experiência dura. Fazer um filme nunca é uma experiência duríssima. Dura é a vida real.

RS: Fizeram 400 quilómetros a pé? 
RB: Quando estávamos a filmar andávamos um bocado e depois parávamos. Não é a peregrinação real, que já tínhamos feito como preparação para o filme. Duro é ser uma mulher de Trás-os-Montes e fazer esta peregrinação. No fim há algum alívio. Em vez de dormirmos em roulottes, vamos para um hotel. Não terá sido dos filmes mais fáceis, nem a filmagem foi tradicional. Geralmente vamos filmar e depois para casa. Não andamos à chuva, ao frio e ao vento. Mas quem corre por gosto não cansa. Ainda por cima gosto imenso de correr e andar (risos).

 


RS: Houve uma preparação física? 
RB: Estou habituada a andar com os cães. Uma a duas horas. Também faço desporto. Mas a questão nem é essa. A questão é irmos para outro sítio e termos de entender aquele “estar”. Não é igual ter nascido e vivido em Lisboa ou em Trás-os-Montes. A minha preparação no terreno foi passear com uma pessoa de lá, a Zeca. O que gostava mais era de conversar com ela. Era aí que entendia a sua maneira de pensar e de ver as coisas.



RS: Numa entrevista, a Zeca – que inspirou a sua personagem Ana Maria – garante que ir a Fátima é melhor que ir ao psiquiatra... 
RB: Passear os meus cães é melhor que ir ao psiquiatra. A Zeca tem tanto gosto em ir a Fátima como eu tenho em passear os meus bichos. O exercício físico é saudável, produz endorfinas que nos fazem ficar felizes. Às vezes estou triste ou zangada com a vida e vou passear os cães ou nadar. E venho outra, capaz de aturar os portugueses. (risos). Gosto dos portugueses, são eles que fazem de mim a actriz que sou.

RS: Além da natação, pratica algum outro desporto?
RB: Faço aqua cycling, que é uma bicicleta dentro de água. Pedala-se e faz-se abdominais. O impacto com a água é menor do que cá fora, mais suave e mais saudável. Já não sou um bebé, não sei se tinham reparado (risos). Comecei a nadar no Sport Algés e Dafundo e a prática ajuda. Quando se faz desporto, a vida fica um bocadinho mais leve. É isso e ler.

RS: Dá tudo o que acha que é ser português às mulheres que faz. O que tem a portuguesa de tão especial?
RB: Gosto de fazer a mulher portuguesa, à minha maneira. Gosto muito da coisa de ser português. Gosto das mulheres portuguesas. Comovem-me. Têm uns pontos em comum entre si, que têm a ver com o passado recente e menos recente. Com o tempo da ditadura. Com esta sociedade católica e tradicional em que as mulheres aguentam muita coisa. São estóicas. São fortes e são elas que tomam as decisões.

RS: Às tantas, a personagem da Cleia Almeida diz para si «Não podes dar aos outros aquilo que tu não tens.» Refere-se à força. Sentiu nalguma altura que estava a perder as forças?
RB: Além de ser uma actriz de quem gosto muito e que admiro, a Cleia é uma amiga. Ela achou que me fazia mal ao coração andar tanto. Nunca tive nenhum achaque, mas era cansativo. Entrar nas carrinhas, sair das carrinhas. Apanhar aquela chuva toda. Passar o dia encharcada. Mas faz parte.



RS: Acredita em Deus?
RB: A minha religião é o amor. Acredito que o amor é a única possibilidade que temos de dar a volta à vida. De gostarmos uns dos outros, de sermos minimamente felizes ou de fazermos as coisas com algum sentido. Não quer dizer que sejamos felizes. Mas com amor é tudo um bocadinho mais.
Mais. Já disse que o amor não é fácil, mas com amor vale mais a pena. Não acredito na guerra. Mesmo.

RS: O que retirou de bom deste filme?
RB: Vale sempre a pena trabalhar com o João (Canijo). Ele é um dos meus maiores amigos. É sempre válido falar com ele, ainda que nos zanguemos até à exaustão. Temos um processo de trabalho a decorrer, que continua e nos faz crescer. Ele como realizador, eu como actriz. Trabalhei com duas das minhas melhores amigas. A Cleia Almeida e a Vera Barreto. Será sempre um enorme prazer, apesar da dureza. A dureza partilhada é melhor. Foi também uma surpresa trabalhar com a Sara Norte, com quem não o fazia há muitos anos. Ela transformou-se numa lutadora brilhante, numa mulher. Isso é encantador. Passou coisas duríssimas e deu a volta sozinha. Gostei de vê-la florir.

RS: O que tem a Ana Maria da Rita Blanco?
RB: Ser tesa. Sou tesa. Não vou dizer que sou corajosa. Tenho imensos medos. Mas não fujo a um confronto.

RS: Como tem trabalhado a resiliência?
RB: É através do amor aos outros. Amar os outros pressupõe amarmo-nos, perdoarmo-nos e aceitarmo-nos como somos. Depois, aceitar os outros.

 

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