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27 novembro 2020
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta Fotografia de José Pedro Tomaz Fotografia de José Pedro Tomaz

Viver com tremor essencial

​​​O processo de aceitação da doença pode ser libertador.

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Desde a adolescência que a farmacêutica Anita Oliveira aprendeu a viver com tremor essencial. A doença neurológica, cujos sintomas variam de doente para doente, provoca-lhe tremores ao nível das mãos e das pernas, que, durante muito tempo, foram motivo de vergonha e de dúvida.

Quer nos tempos de faculdade quer no trabalho na farmácia, a jovem de 29 anos explica que nem sempre foi fácil lidar com os olhares curiosos e as perguntas inconvenientes. «Os comentários constantes faziam com que eu tentasse esconder as mãos para tornar o problema imperceptível para os outros».

Hoje, Anita sente-se em paz consigo mesma. Os desafios que a vida lhe impôs ensinaram-na a aceitar a doença e a libertar-se dela. Agora vive um dia de cada vez, sem dar espaço à vergonha de ser quem é. «O tremor essencial faz parte de mim, mas não me define», afirma, sem rodeios. «Sinto que estou em ascensão pessoal e todos os dias são uma autodescoberta».

No seu processo de aceitação, a rotina tem um papel fundamental. Importa acordar cedo, tomar o pequeno-almoço com calma e, antes de sair, escrever num caderno aquilo por que se sente agradecida. «Vivo com optimismo. Pensar que o dia vai ser espectacular já é meio caminho andado».

Na farmácia, estar à conversa com os utentes é um escape. E, durante o atendimento, há truques que lhe permitem trabalhar sem se deixar prender pelas suas limitações. «O segredo é tentar que os braços estejam sempre apoiados», revela. «Assim não estão contra a gravidade e o tremor vai ser menor». Perante a curiosidade das pessoas, o humor é muitas vezes a melhor solução. «Digo-lhes que tenho um defeito de fabrico», brinca.

O exercício é uma componente importante. O reforço da massa muscular ajuda na coordenação motora e no equilíbrio. O ioga permite-lhe manter a calma e a paz interior. Para descarregar energias, Anita recorre ao ginásio ou às corridas à beira-mar. «Podemos sentir medo de tremer e achar que toda a gente vai ficar a olhar, mas os treinadores saberão melhor do que ninguém como ajudar».

Para a jovem farmacêutica, um livro é sempre a melhor companhia. Nos de auto-ajuda encontrou muitas vezes as palavras de conforto de que precisava e as melhores estratégias para aproveitar o momento, olhando para a vida com optimismo.

No dia-a-dia, há tarefas mundanas que têm de ser adaptadas e feitas ao seu ritmo, mas desistir não é opção. A farmacêutica recorda que, perante as dificuldades, há sempre uma alternativa. «Às vezes o tremor está mais intenso e não sabemos porquê», conta. «Por isso, quando é impossível comer com o garfo, troco-o pela colher e resolvo o problema».

Agora que já não tem medo de dizer em voz alta o nome da doença que a apoquenta, Anita quer apoiar outras pessoas a conviver com o mesmo diagnóstico. Por isso, criou a página de Facebook “Viver com TE”, onde partilha informação científica actualizada, conselhos para ultrapassar os obstáculos da doença e as suas próprias experiências enquanto portadora de tremor essencial. «Ajudar os outros faz-me feliz».