A impressão e a digitalização da informação sobre a toma correcta dos medicamentos constituem, em si próprias, um reforço da segurança. Os doentes deixam de estar condicionados à sua capacidade para decifrar a caligrafia dos farmacêuticos. Também nunca mais vão fazer um esforço para recordar a mensagem original manuscrita numa embalagem, quando a tinta de caneta faz um borrão.
Na Farmácia Central, no Cacém, desde 2014 que não se escreve numa embalagem. Os doentes levam sempre para casa etiquetas de posologia informatizadas, que replicam de forma fiel e completa o que ouviram da boca da equipa da farmácia no momento do atendimento. Todos os doentes com quem falámos não só manifestaram o seu agrado como deixaram claro que ficariam muito aborrecidos caso se vissem privados das etiquetas. Quem experimenta depressa se habitua e não admite voltar ao antigamente.
«É um sistema muito prático e bastante mais simples. Não há como esquecer», declara Paulo Fernandes, 41 anos. Permite-lhe ter «tranquilidade e certeza » de seguir o que lhe foi aconselhado. «São muito mais fáceis de ler, não há enganos», concorda Marilene Nascimento, 39 anos. É uma fã incondicional das etiquetas. «Sei que tenho de tomar o meu medicamento duas vezes por dia. Mas numa terapêutica nova, sem esta ajuda, acho que seria complicado».
Com esta experiência de quatro anos, a equipa da Farmácia Central, no Cacém, fala com entusiasmo do serviço multicanal permitido pelo novo projecto de Segurança na Dispensa e Toma de Medicamentos (SDTM). A farmacêutica Anita Silva realça a enorme importância para os doentes do que, à primeira vista, parecem ser pequenas coisas.
«Temos muitos casos de utentes idosos que, quando adoecem, perdem autonomia. Muitas vezes deixam de ser eles próprios cuidadores, de maridos e mulheres, para passarem a ter alguém que cuida deles, geralmente pouco familiarizado com a medicação». Nessas situações, as etiquetas com as indicações escritas e a posologia são uma grande vantagem. «Facilita haver um registo e um histórico», declara a farmacêutica.
As etiquetas do novo projecto SDTM são personalizadas. A pessoa a quem o medicamento se destina é identificada de forma precisa, com três nomes. «Em famílias com várias crianças, por exemplo, isso é um serviço excelente que prestamos aos pais», declara Anita Silva. A informação posteriormente enviada por e-mail é também «um factor de tranquilidade para as famílias».
As etiquetas de posologia são personalizadas, o que evita riscos em lares de idosos e famílias numerosas
A Farmácia Santo António, no bairro de Marvila, em Lisboa, também trabalha com etiquetas de posologia há seis anos. «As pessoas não só gostam, como valorizam imenso o serviço. Em todo este tempo, sempre me disseram “Doutora, isto é uma coisa muito boa que a vossa farmácia tem”», conta a directora-técnica, Diana Carreira.
Patrícia Moreira, 42 anos, esteve emigrada em Inglaterra. Quando regressou a Marvila voltou a ser cliente da sua farmácia de sempre. Em Inglaterra, estava habituada às etiquetas, por isso não estranhou. «Estranho foi quando tive de ir, pela primeira vez, a outra farmácia e fui obrigada a pedir uma caneta para escrever na embalagem as indicações referentes à toma, à dose… Achei aquilo pré-histórico!». Há dias, tomou contacto com as múltiplas ferramentas do novo projecto. «Quando cheguei a casa recebi um e-mail, senti que era um salto brutal no tempo», conta a utente, sorrindo.
«Grandes players internacionais, como a Amazon, não têm isto. Mas, se pensarmos bem, não estamos a falar sequer de uma coisa nova, estamos só a reforçar a proposta de valor que é o nosso compromisso com a sociedade», resume o farmacêutico Luís Lourenço.