RS - Esteve esse tempo na OMS, não sentiu mais o apelo de fazer... Quis vir para Portugal?
FG - Não, tive que vir porque era uma questão de opção! Tinha as licenças, primeiro de dois anos e depois uma de longa duração de 10 anos. Terminados os 12 anos, ou regressava ou continuava. Foi uma decisão muito difícil. Quis regressar e a minha mulher queria ficar.
RS - Foram sempre todos? Não havia receio do perigo?
FG - Fomos sempre todos. Para nós, estarmos afastados nunca foi uma opção. A família está junta, seja em que cenário for. E correu sempre bem, com alguns percalços, que hoje parecem anedota. Costumo contar uma história, que não sei se já escrevi, de um leão.
Ia no carro com os meus filhos e tivemos um furo, mas segundos antes tínhamos visto um leão a deambular no mato. Íamos a caminho do Senegal. Foi preciso mudar o pneu... eram seis da tarde, começava a escurecer e os meus filhos choravam com medo do que podia acontecer se saísse do carro. Peguei no mais velho e estabeleci com ele uma operação rápida. Ele com paus, eu com o macaco a reparar o furo.... a verdade é que conseguimos mudar o pneu sem o leão voltar, mas com a minha mulher e as minhas filhas a gritarem dentro do carro «Ó pai não saias, ó pai não saias...» mas enfim, foi uma cena fantástica. Íamos só nós, não havia telefones, nem telemóveis... Íamos no mato, em pleno Senegal Oriental.
RS - Estiveram sempre juntos a viver em África?
FG - A minha filha mais nova esteve sempre comigo. Foi quando nasceu, portanto, regressou aos 12 anos.
RS - Os outros tiveram de regressar para prosseguir os estudos?
FG - Exactamente. Os franceses têm muito bem organizado o ensino à distância. Os meus filhos fizeram a escola em língua francesa - a instrução primária e secundária. Depois, no Zimbábue, língua inglesa. Nesse plano, foi muito bom.
RFP - E viram muito mundo.
FG - Sim, muito diferente.