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21 setembro 2016
Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Ilustração de Mantraste Ilustração de Mantraste

Triste cigarro

​​​​​​O consumo de tabaco interfere na função eréctil a nível vascular e muscular. 

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A erecção peniana é um fenómeno complexo, em que interferem mecanismos neurológicos, musculares, vasculares e psicológicos. Se algum destes factores estiver perturbado, as coisas poderão correr muito mal. É neste contexto multifactorial que deve ser integrada a acção maléfica do tabaco. A sua interferência na função eréctil dá-se essencialmente por dois mecanismos: um vascular, por diminuição do calibre das artérias do pénis; outro muscular, por perda progressiva da elasticidade do tecido cavernoso peniano.

A diminuição do calibre das artérias do pénis deve-se à acção directa da nicotina, um dos principais componentes do tabaco. Essa acção dá-se porque a nicotina é vasoconstritora, ou seja, actua sobre a camada muscular da parede das artérias, provocando-lhes estreitamento do seu calibre e, consequentemente, diminuição do fluxo sanguíneo. A diminuição da quantidade de sangue pode levar à impossibilidade de encher os corpos cavernosos, determinando uma disfunção eréctil.

O segundo mecanismo, por perda da elasticidade do tecido cavernoso, é uma consequência tardia e muito lenta das alterações bioquímicas que a intoxicação nicotínica vai, aos poucos, determinando no pénis. Há claramente um efeito cumulativo do tempo de exposição, que pode demorar 40 ou 50 anos a produzir-se. Uma acção tão lenta e demorada explica porque é que as consequências maléficas do tabagismo sobre a função sexual habitualmente só se notam quando o homem atinge os 55 ou 60 anos e soma muitos milhares de cigarros fumados.

É geralmente nessa idade, perante a constatação do problema, que o fumador procura ajuda especializada. Provavelmente o seu médico vai prescrever-lhe um comprimido vasodilatador. Mas a nicotina e as drogas vasoactivas possuem efeitos opostos. Os fumadores são menos sensíveis ao efeito dos medicamentos, necessitando de doses maiores do que os não fumadores.

Deixar de fumar é a solução óbvia. E, na verdade, quando os grandes fumadores deixam o tabaco, quase todos notam uma significativa melhoria da sua capacidade eréctil, ao fim de apenas três ou quatro semanas. Isso acontece porque a acção vasoconstritora da nicotina em circulação no sangue deixa de se exercer. Porém, se houver associada – e geralmente há – uma perda da elasticidade do tecido cavernoso determinada pelas substâncias tóxicas do cigarro, a erecção não vai recuperar completamente. Pode até não recuperar quase nada.

Se a lesão das células do tecido cavernoso peniano for grave e irreversível, os comprimidos vasoactivos vão falhar, apesar da sua elevada eficácia noutras situações. Nos grandes fumadores, muitas vezes só a auto-administração de injecções intrapenianas ou a implantação cirúrgica de uma prótese peniana poderá resolver a disfunção eréctil.​
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