Em Lavacolhos, aldeia de 300 pessoas no concelho do Fundão, vive uma tradição com mais de dois séculos. A população celebra-a na Casa do Bombo. «Todos os homens da aldeia sabem tocar este instrumento. Faz parte da génese cultural daqui», explica o anfitrião do espaço, Luís Fernandes.
Os bombos são parte da memória colectiva dos portugueses, nota: «Se há algo definitivamente nosso, é o bombo, na forma de ser e de tocar». Há séculos que é assim. Em Lavacolhos, particularmente, esta tradição remonta ao início do século XIX, concluiu o etnomusicólogo corso Michel Giacometti, durante a recolha que fez nos anos 70.
Nas salas de exposição, vê-se fotografias de grupos musicais da zona, há dois documentários sobre as origens e, claro, bombos. Nas festas e romarias do concelho do Fundão, são presença obrigatória, esclarece Luís.
A visita não fica completa sem experimentar tocar a «moda dos bombos», com o som do pifareiro do Grupo de Bombos de Lavacolhos a acompanhar. Segue-se a oficina de Américo Simão, numa aldeia próxima, Souto da Casa. Aos 41 anos, Américo é o mais jovem construtor de bombos da zona, conta. Herdou o saber do avô Joaquim, com quem cresceu e nunca mais parou.
«Toco no Grupo de Bombos de Lavacolhos. Via o meu avô a fazer e não havia de saber fazer bombos? Apaixonei-me», esclarece.
Continua a construir um bombo enquanto descreve o que está a fazer: «A pele do bombo já está cozida. Virei-o ao contrário, meti-lhe o arco de madeira. Agora leva os ganchos e a corda».
A pele do instrumento tem de ficar «entalada no arco de silveira», para o bombo ficar limpo por dentro. Pronto a ecoar entre as montanhas da Gardunha, da Estrela e do Açor, como há 200 anos.
Na despedida, fica a promessa orgulhosa: «Nunca vamos deixar morrer esta tradição».
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