Margarida esperneia-se. Dá sinais de que algo lhe falta. Atento aos movimentos da filha, Daniel não hesita: retira-a do carrinho e aconchega-a ao colo. Margarida serena ao sentir o rosto e o aconchego do pai.
A exercer advocacia num novo escritório, Daniel tem visto, nos últimos meses, o tempo em família fugir-lhe entre os dedos. Só ao fim do dia consegue dedicar-se aos filhos, Margarida, de oito meses, e Daniel, de três anos.
O sentimento de culpa, como confidencia o próprio, existe e é desconfortante. «É claro que o pai também sofre por estar ausente e sofre muito», afirma, assegurando que «não são só as mães que têm esse peso e acham que abandonam os filhos quando têm de ir trabalhar ou ficar longe».
Daniel foi um filho «privilegiado» pois pôde contar com os mimos e a atenção do pai nas primeiras semanas de vida. Margarida não teve essa sorte. «Quando ela nasceu não podia gozar férias e no mês de Agosto fiquei sozinho no escritório. Tive muita dificuldade em conseguir dedicar-lhe tempo. Só o consegui fazer quando estivemos de férias em família, já em Setembro», lembra.
De segunda a sexta-feira, enquanto não regressa a casa, o coração aperta e as saudades são muitas, confidencia pela primeira vez Daniel: «Custa-me muito sair de casa de manhã e mais ainda quando o Daniel ou a Margarida estão doentes. Vou a caminho do emprego sempre a pensar o quanto me apetecia ter ficado junto a eles…».
O fim do dia é, por isso, esperado com ansiedade e alegria. «Quando ponho o pé fora do escritório, penso logo no abraço que o meu filho Daniel me vai dar e no quanto nos vamos divertir juntos».
Empenhado em ver Ana e os dois filhos felizes, Daniel não assume outro desejo que o acompanha: «Sem querer parecer chauvinista, gostava que a Ana estivesse sempre em casa com os filhos. Em primeiro lugar porque sei que ela gosta e, em segundo, porque eles gostam muito de ficar com a mãe».