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4 julho 2024
Texto de Telma Rocheta | WL Partners Texto de Telma Rocheta | WL Partners Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Hugo Costa Vídeo de Hugo Costa

«Ser atriz e mãe presente é o meu desafio diário»

​​Em Angola, Marta Faial fez duas novelas, que foram nomeadas para os Prémios Emmy, em Nova Iorque.​

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«Ser atriz e mãe presente é o meu desafio diário»
Como foi a experiência de gravar nos Açores a novela "Senhora do Mar" após ser mãe? E gerir emocionalmente estar longe das gémeas de pouco mais de dois anos? 
Profissionalmente, foi ótimo fazer a vulcanóloga Liliana Mendes, um recomeçar em grande. Também foi um desafio incrível porque a maternidade traz-nos capacidades de supermulher, de podermos fazer o dobro ou o triplo do que fazíamos. Quando estou ausente gosto de deixar tudo pronto, os lanches, os almoços, tudo. Não quero aborrecer ninguém, para que seja mais fácil para elas, e para quem está com elas, neste caso o pai e também a minha mãe. Insisti com a produção para poder vir a casa ao fim de semana. Consegui dar 100% de mim no que mais gosto de fazer, ser a mãe que quero ser. Ser atriz e mãe presente é o meu desafio diário. Elas nunca sentiram muito a minha ausência, senti mais eu a delas, porque em dois anos e meio nunca tinha dormido uma noite longe.


Marta encontrou o equilíbrio entre a paixão pelo trabalho e a missão de ser mãe presente

Teve com o seu marido, e pai das suas filhas, um processo de conhecimento longo. Como foi?
Ainda não nos casámos porque, como nasceram as duas bebés, faz mais sentido elas fazerem parte da celebração e lembrarem-se. Vamos aguardar mais um pouco, até terem três, quatro anos. Conheci o Gonçalo [o pai das filhas] numa viagem de estudantes à neve. Encantámo-nos um com o outro e passámos um dia juntos. Mas, assim como nos encontrámos, perdemo-nos um do outro. Só nos vimos passados três anos, muito rapidamente, nos Santos Populares. Voltámos a reencontrar-nos 16 anos depois.

Aí percebeu que o Gonçalo era a pessoa certa para criar uma família?
Estávamos em fases de vida muito parecidas e percebemos que tínhamos os mesmos valores, os mesmos objetivos. Decidimos ver onde é que as coisas iam. E deu nisto. Quanto a ser mãe: se fosse, tudo bem; se não fosse, tudo bem também. O importante é ter encontrado a pessoa ideal com quem queria partilhar a tarefa.


«Fui sempre muito independente. Comecei a trabalhar aos 16 anos para sustentar a minha outra paixão: as viagens»

A sua mãe, Ana Marta, modelo famosa nos anos 1980 e 1990, influenciou-a a ser atriz?
Desde pequena tinha um grande fascínio por cinema. Mas foi sem querer que acabei por ser atriz. Eu tinha muito acesso aos bastidores da moda, porque andava muito com a minha mãe. Nessa altura, os desfiles eram muito mais teatrais, eram verdadeiros espetáculos. Via toda a produção, a maquilhagem, o guarda-roupa, as músicas e gostava de tudo. Fui sempre muito independente e por volta dos 16 anos comecei a trabalhar. Na altura apareceram várias agências de manequins e de atores, inscrevi-me em quatro. Fazia o que aparecesse e trabalhava no verão para sustentar a minha outra paixão, as viagens.

Como passou da moda para a estreia nos “Morangos com Açúcar”?
Uma dessas agências chamou-me para um casting, mas deram-me a morada errada. Estive duas horas perdida à procura do sítio, não encontrei e vim-me embora. Passadas duas semanas, outra agência chamou-me para o mesmo casting. Estava na praia e fui toda esgadelhada, cheia de sal, com uma saia a arrastar pelo chão. Achei que não ia dar em nada. Não sei se por causa do meu visual, acabei por ficar com uma personagem hippie. Isto foi em 2005, há quase 20 anos.



Fez um curso de atores em Nova Iorque. Como correu?
Fui com um grupo de amigos e foi uma aventura espetacular. Já tinha feito os “Morangos com Açúcar” e o “Rebelde Way”, tinha trabalhado num bar, o meu objetivo era ir para Nova Iorque. Ao fim de oito meses de lá estar podia ter ficado, mas era muito arriscado, até porque a legalização nos Estados Unidos é complexa.

Depois surgiu trabalho em Angola.
Em 2012 estive cerca de um ano a trabalhar na novela “Windeck”. A seguir participei na “Jikulumessu” e regressei a Portugal. Voltei depois a Angola para gravar parte da novela “A Única Mulher”. Em Luanda sou sempre muito bem recebida. É um dos sítios onde profissionalmente fui mais feliz.

As duas telenovelas que fez lá foram reconhecidas internacionalmente, incluindo com nomeações para os prémios Emmy do audiovisual. Como foi a experiência?
É um sonho ir aos Emmy a Nova Iorque e aconteceu-me duas vezes. Também por isso tenho com Angola uma relação tão especial. Há muita gente lá que quer fazer coisas boas e se esforça muito. Na área da televisão, ainda é tudo novo. É maravilhoso acompanhar esse processo e ver Angola crescer e desenvolver-se.


«A minha mãe é angolana, os avós são cabo-verdianos, os bisavós holandeses. Na família temos mulatos, negros, com olhos verdes, castanhos, cabelos loiros»

Angola, país das raízes da sua mãe...
A minha mãe é angolana, os meus avós são cabo-verdianos e os meus bisavós eram holandeses, uma grande mistura. Na família temos mulatos, negros, com olhos verdes, olhos castanhos, cabelos loiros. A minha mãe é de Benguela, que fica a 700 km de Luanda. Adorava conhecer a terra onde a minha mãe andou, os caminhos que percorreu. Mas não tive oportunidade porque os horários das gravações eram longos e intensos, e são distâncias longas. Ainda tenho o sonho de ir a Benguela e conhecer alguns familiares.

Como é a relação com a sua mãe, agora que têm carreiras de certa forma paralelas?
É a minha companheira, a minha melhor amiga e uma avó espetacular. Mas são carreiras muito distintas. Eu não conseguiria fazer o que ela fez. E ela não consegue fazer o que eu faço. Ela fez de minha mãe durante uns episódios dos “Morangos com Açúcar” e não se adaptou. E eu entrei em duas “ModaLisboa” e percebi que também não conseguia seguir esse caminho. Somos muito unidas, com personalidades muito distintas. Ela quando desfilava era um furacão, cheia de garra, eu sou mais tranquila e reservada.

O que faz para cuidar da saúde?
Desde que fui mãe não penso tanto em mim como deveria. Tento cuidar mais da saúde mental, porque é cansativo ter duas bebés e trabalhar. Especialmente após uma pandemia, guerras, tudo o que está a acontecer, em que andamos todos meio estranhos. Não temos motivos para andar contentes, mas também não podemos deixar-nos ir abaixo porque senão é uma bola de neve. Portanto, foco-me em ver as minhas bebés felizes, em ter tempo para os meus. Se puder fazer exercício, ótimo, mas não sou uma aficionada do ginásio.

Costuma ir a alguma farmácia em especial, como é a relação que tem com os farmacêuticos?
Tenho um relacionamento espetacular com a farmácia perto da minha casa. Como tenho crianças, há sempre necessidade de ibuprofeno ou paracetamol, por exemplo. Mas também vou à farmácia ver o peso, levo a minha mãe para ver como estão os níveis da diabetes, essas coisas. Gosto deste contacto humano. Ainda por cima temos uma situação muito peculiar em que a farmacêutica fez toda a diferença: quando fiquei grávida, o meu teste — que tem 99% de fiabilidade — deu erro. Dizia “grávida, não grávida, 22 a 33 semanas”. Fui explicar à farmacêutica, que enviou o teste para a fábrica porque nunca tal tinha acontecido.  Ainda hoje, quando passamos perto da farmácia, as minhas filhas obrigam-me a parar para dizer olá às senhoras. Portanto, aquela farmácia tem mesmo impacto na nossa vida.