O sarcófago de Irtierut, peça egípcia que integra a colecção do Museu da Farmácia, em Lisboa, está a ser restaurado. O sarcófago em madeira estucada, datado da Época Baixa, de 664 a 332 a.C., e de grandes dimensões, está a ser alvo de uma limpeza superficial por via mecânica e do preenchimento de algumas pequenas falhas na pintura do gesso.
Este sarcófago foi adquirido em 1940 pelo coleccionador Josef Nestor, passando a integrar a The Plaisant Josef Nestor Collection, nos Estados Unidos da América. Seria adquirido pelo Museu da Farmácia num leilão da Christie’s, chegando a Lisboa em 8 de Março de 2002.
Trata-se de um sarcófago antropomórfico bastante decorado, com as sobrancelhas e os olhos bem delineados e expressivos num rosto suave e arredondado envolvido por uma espessa cabeleira tripartida, da qual sobressaem as orelhas. «É uma das peças mais marcantes da nossa colecção», descreve a curadora do Museu, Paula Basso, «e uma das mais admiradas pelo público».
Na descrição da peça, encontra-se os seus pormenores: «A decoração frontal exibe um colar floral de várias voltas, seguindo-se a deusa Nut alada encimada pelo seu nome e segurando duas penas. De cada um dos lados, está a defunta perante Osíris, que se vê depois num leito, iluminada pelos raios solares na companhia do seu ba (conceito metafísico egípcio de alma-coração, que torna o indivíduo único), com quatro vasos de vísceras sob o leito. Segue-se o símbolo de Abido ladeado por Ísis e Néftis e, depois, cinco colunas de texto na vertical».
A base do sarcófago de Irtierut não foi esquecida: é preenchida nos seus quatro lados por uma inscrição. Este é um exemplo de um texto pintado nos pés e na base: «Palavras ditas por Ísis, tua irmã. Ó Osíris Irtierut, justificada, filha de Padihor, justificado, senhora de veneração de Ré-Horakhti, deus grande, filha da dona de casa sua mãe, Tarenenutet, justificada, senhora de veneração de Ré.» E ainda, ao lado: «Palavras ditas por Néftis, tua irmã».