Em França, as autoridades de Saúde determinaram que, a partir de 15 de Abril, o paracetamol e certos anti-inflamatórios só podem ser vendidos nas farmácias, com dispensa farmacêutica. A retirada dos supermercados pretende reforçar o respeito pelas regras do bom uso destes medicamentos.
Regozijo-me com esta decisão. Oxalá outros países, incluindo o nosso, a tomem, em nome da saúde pública.
Não há medicamentos inócuos e estes que agora passarão, em França, a ser novamente vendidos apenas com dispensa e aconselhamento farmacêutico, apresentam vantagens e têm efeitos adversos, alguns de extrema gravidade.
Veja-se o paracetamol. Pessoas com hepatite ou portadoras de outras doenças de fígado, bem como doenças crónicas (nomeadamente a doença renal), podem ser mais susceptíveis à toxicidade do paracetamol, se usado de forma inadequada.
O ácido acetilsalicílico combate simultaneamente a dor ligeira a moderada e a febre . Mas está contraindicado num certo número de situações, como a úlcera péptica activa ou em pessoas com histórico desta condição, antecedentes de asma devido à toma de medicamentos anti-inflamatórios, e pode interferir com a acção de numerosos outros medicamentos (caso dos anticoagulantes, pois aumenta o risco de hemorragias).
Quanto ao ibuprofeno, é uma substância que pertence à família dos anti-inflamatórios não-esteroides. Nas doses adequadas, actua essencialmente sobre a dor ligeira a moderada e a inflamação. Embora seja um medicamento largamente utilizado, tem algumas restrições, nomeadamente no que diz respeito a grávidas ou mulheres a amamentar, cuja toma é contraindicada.
A decisão das autoridades francesas não põe em causa a utilidade destes medicamentos. O que pretende é aumentar o respeito pelas regras da precaução. Não é por acaso que a sua toma não deve, por norma, exceder três dias em caso de febre ou, nalguns casos, cinco dias no tratamento das dores. As autoridades francesas não tomaram a medida à toa.
Neste país, o paracetamol é a primeira causa de hepatites e de transplantes de fígado de origem medicamentosa; quanto ao ibuprofeno, há centenas de casos de complicações infecciosas bacterianas ligadas à sua má utilização.
Nenhum medicamento devia ser dispensado sem aconselhamento, médico ou farmacêutico. Os destinados a combater as febres e as dores exigem dispensa personalizada, como qualquer outro medicamento. Alguns não podem ser utilizados por crianças até aos 12 anos; há os que não devem ser utilizados durante a gravidez; outros não devem ser tomados com substâncias que estimulam o sistema nervoso, como o álcool; e há também os que estão contraindicados em doentes com problemas sanguíneos.
É necessário conhecer as doses máximas diárias para evitar causar danos ao organismo e garantir o uso correto de todos os medicamentos. Vejam-se as situações em que substâncias, como paracetamol, podem ser utilizados em tentativas de suicídio, e o papel da farmácia em optar por não dispensar também se torna relevante.
O acompanhamento pelo farmacêutico permite a quem pretenda tomar um destes medicamentos para a febre e dor, assegurar-se de que a toma é adequada a cada pessoa e a cada situação, de forma a garantir a segurança do medicamento. A escolha de um destes medicamentos deve estar de acordo com as caraterísticas gerais dos sintomas, a idade do doente, doenças concomitantes, os outros medicamentos prescritos , e até o conhecimento de reacções adversas prévias.
Boa notícia que nos chega de França.
Seria bem interessante saber o que dela pensa o Ministério da Saúde, sempre tão preocupado em promover a literacia do doente e a segurança do medicamento.