Pioneira na investigação da sida em Portugal, Maria Odette Santos-Ferreira morreu este domingo, aos 93 anos.
«A professora Odette era uma personalidade cheia de energia, com uma inteligência fulgurante e enorme capacidade de execução», elogia Maria de Belém Roseira, que a conheceu quando desempenhava funções como ministra da Saúde. Ficaram amigas e, mais tarde, voltaram a trabalhar juntas na Associação Dignitude.
«Era uma pessoa muito bem aceite e respeitada em toda a comunidade académica», sublinha ainda a coordenadora-geral da Dignitude.
Numa homenagem publicada no Facebook, em que destaca o «legado científico e humano» da sua «mestre», o presidente da ANF, Paulo Cleto Duarte, apela aos profissionais de saúde para seguirem o exemplo da professora: «sermos capazes de realizar a nossa missão de acordo com os valores essenciais que nos ensinou: trabalho, honra, inteligência, amizade, ousadia, persistência», pediu.
A Professora Maria Odette Santos-Ferreira ficou reconhecida por ter criado o programa de troca de seringas (Diz Não a uma Seringa em Segunda Mão), em 1993, e por ter sensibilizado tanto doentes como responsáveis políticos para os riscos que o VIH/sida envolvia. Liderou também a equipa que identificou, pela primeira vez, o VIH do tipo 2 em doentes oriundos da Guiné-Bissau.
A perseverança da farmacêutica em defesa dos mais vulneráveis foi uma das características enaltecidas pelo responsável da ANF na homenagem à professora catedrática e antiga presidente da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida. «Se nos concentrarmos em apoiar os mais frágeis e os mais desfavorecidos, estaremos a conseguir mudar um bocadinho o mundo», lembrou Paulo Cleto Duarte.
A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, também escolheu o Facebook para manifestar o seu pesar pela perda de Odette Ferreira. «Não esqueceremos o seu combate à discriminação. E a sua luta pela justiça, igualdade e solidariedade no amor ao próximo», escreveu a bastonária, enaltecendo o sentido de missão e a inspiração deixados pela investigadora. «Vida, inspiração, coragem, silêncio, firmeza, autoridade. Dizia, cumpria, persistia. Tinha um profundo sentido de missão. E amor ao próximo», descreve Ana Paula Martins.
«É uma daquelas vidas que valeu a pena ser vivida», conclui Maria de Belém Roseira.