Na Farmácia Campos e Salvador, bem no centro da Póvoa de Varzim, o processo de vacinação foi muitas vezes um inesperado pretexto para o convívio. «Tivemos dias muito engraçados», conta Anabela Falcão, a farmacêutica que, com Sofia Campos (as filhas dos dois fundadores), teve a seu cargo a organização do processo de vacinação.
«Houve dias em que tínhamos de nos dirigir aos utentes para os mandar embora do cantinho que tínhamos criado, porque começavam a conversar e esqueciam-se completamente de que estavam ali por causa dos 15 minutos de espera» após a vacina contra a COVID-19, afirma, com um sorriso. «Tomavam a vacina, conversavam, brincavam. Acabou por ser agradável». Mesmo quando chegava um utente mais receoso para a vacinação, os já vacinados tomavam a iniciativa de o animar: «Diziam “Eu já tenho as duas, vai correr tudo bem”».
Anabela Falcão e Sofia Campos, as responsáveis pelo processo de vacinação, têm boas memórias da experiência
Sofia Campos explica a razão deste momento de confraternização. Nos pavilhões onde a vacina da COVID-19 foi administrada em anos anteriores, «por uma questão de organização do espaço, as pessoas estavam todas volta- das para o mesmo lado». Na Farmácia Campos e Salvador as cadeiras foram colocadas em forma de U, o que potenciou o convívio. «Uma festa», diz, satisfeita, «só faltavam as bolachas e o chá». A relação de proximidade com os utentes e a confiança foram chaves para o sucesso. «Já há 18 anos que vacinamos contra a gripe», acrescenta a farmacêutica. «Temos gerações de utentes e isso vai fidelizando, vai fazendo com que tenham confiança em nós e nós neles». Nesta campanha de vacinação «aconteceu acabarmos por vacinar o avô, o pai e o filho».
«É preferível vir a um sítio onde me sinto mais à-vontade», diz a utente Teresa Monteiro, que continua a preferir esta farmácia, apesar de morar noutra cidade
Essa mesma proximidade sente Teresa Monteiro. Natural da Póvoa de Varzim, professora de matemática reformada e colega do liceu da diretora técnica da farmácia, Anabela Falcão. Depois de ter feito um périplo comum a muitos professores, Teresa somou uma estada como cooperante em Moçambique, financiada pelo Governo francês, onde deu aulas e formação. Regressada a casa, nos anos 90, foi colocada na Escola Secundária de Rocha Peixoto, mesmo à frente da Farmácia Campos e Salvador. Agora, apesar de viver noutra cidade próxi- ma, continua a ser esta a sua farmácia de eleição. Doente oncológica, teve de ser vacinada por duas vezes, uma contra a gripe e outra contra a COVID-19, porque só pode tomar a vacina num dos braços. «Ainda para mais eu não gosto de ser picada», explica, «e, portanto, venho sempre com alguma preocupação. É preferível vir a um sítio onde me sinto mais à-vontade».
Antónia Coutinho, outra utente habitual, trouxe a filha menor, com alergia respiratória, para fazer a vacina da gripe nesta farmácia. «Gosto muito, as pessoas são muito simpáticas e é próximo de casa», adianta. «É conveniente e prático».

A atenção aos utentes é notória. Desde a «muita preocupação com o inquérito [pré-vacinação], que foi bastante rigoroso», refere Sofia Campos, até ao esclarecimento de qualquer dúvida e à «flexibilidade para que o utente escolhesse um horário que lhe fosse mais conveniente», constrói-se uma relação de proximidade. «E depois é o ambiente», considera Anabela Falcão, «quer queiramos, quer não, não é um ambiente de centro de saúde». Na farmácia «vendem-se outras coisas que não são medicamentos ou entram pessoas que não se vêm vacinar», continua, «e os utentes tinham conversas sobre os biberões que estavam expostos ou sobre os champôs». Existe «um ambiente muito mais descontraído, sabendo os utentes que por detrás do processo estão profissionais igualmente capazes».