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3 abril 2025
Texto de Marta José Santos | WL Partners Texto de Marta José Santos | WL Partners Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Rodrigo Coutinho Vídeo de Rodrigo Coutinho

«O caminho mais fácil nem sempre é o certo»

​Tomás Appleton é um exemplo de como a determinação, a disciplina e o equilíbrio podem ser aplicados tanto no campo de râguebi quanto no bloco operatório.​

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​Como é a sua rotina diária?
Um dia na minha pele é muito preenchido. Varia um bocadinho consoante os dias. Acordo às 6h30 e a primeira coisa que faço é levar a minha filha à escola. Depois vou treinar. De manhã faço ginásio, depois costumo ir direto para o hospital. Passo lá o dia, dependendo se treino à hora de almoço ou ao final da tarde.

É difícil manter o equilíbrio?
Vou ser sincero, é um grande desafio. Especialmente manter o equilíbrio nas várias áreas da vida, em particular na vida familiar. Acho que é sempre um desafio. Tenho a sorte de a minha família se ter moldado às exigências do râguebi, do trabalho e do curso de Medicina. Até acho que fui gerindo isto de uma maneira razoável.


Manter o equilíbrio entre as diversas facetas da vida é um dos maiores desafios de Tomás Appleton

Como lida com a pressão e o stresse?
Uma das coisas que faço melhor é conseguir focar-me exatamente no que estou a fazer em cada momento. O trabalho traz imenso stresse, a faculdade é um stresse brutal, e o râguebi também. Tento isolar a cabeça, os meus pensamentos. Quando estou a trabalhar, estou 100% foca- do no trabalho. Quando estou a estudar, estou a 100%. Tento não deixar que as outras áreas da minha vida afetem aquela em que estou concentrado no momento. A vida familiar e a social são o meu escape.

Com a agenda preenchida, como organiza a alimentação?
É um grande desafio para a minha nutricionista. Às vezes é difícil, tenho de fazer refeições e gerir a alimentação sempre a correr.
A maior consequência disso é sofrer na recuperação. Por vezes, as noites de sono não são ideais, a fisioterapia e os protocolos de recuperação também não são feitos da melhor maneira, porque estamos sempre a tentar compensar.

Tem alguma refeição ou ingrediente que costuma incorporar com frequência?
Nada em especial. Atualmente, tenho tentado ser rigoroso com a suplementação. Seja creatina, proteína... tenho feito isso de maneira muito regrada, o que me tem permitido alcançar melhores níveis de performance.


A proteína e a creatina são essenciais para um atleta de alta competição

Há algum suplemento essencial para um jovem que queira começar no desporto ou ter uma vida mais saudável?
Proteína. Temos sempre algumas necessidades básicas de proteína e, no dia a dia, esquecemo-nos do que é o recomendável e necessário. A proteína como suplemento tem um papel fundamental. Depois, a creatina também tem um papel gigante na alta performance e na alta competição. Conheço poucos atletas que não usam creatina.

Como é a recuperação na vida de um atleta?
O sono tem um papel fundamental, é quando o corpo se repara. Descansar não é algo passivo, em que estamos apenas a passar horas. É crucial para a performance, para a prevenção de lesões e até para alcançar melhores resultados. Quando estamos bem recuperados, com uma boa noite de sono, faz uma diferença brutal. Cada vez mais, os atletas olham para a performance como um panorama geral, e não apenas para os 80 metros dentro de campo.


O seguimento médico e a preocupação com a saúde são preocupação de qualquer atleta

Em termos de saúde, acredita na prevenção? 
Todos os anos faço um check-up: raio-X ao tórax, ecocardiograma, análises. Os atletas fazem isso todos os anos. Muitas vezes somos também avaliados no departamento de fisioterapia e no departamento médico, ao longo do ano. Ainda há poucos dias tive uma consulta de oftalmologia só para ver se estava tudo bem. No desporto de alta competição, todas as linhas são muito ténues e é importante sabermos que estamos bem em todas as áreas. Os pormenores fazem a diferença. Por isso, sim, faço muito seguimento e tenho essa preocupação com a saúde em geral.

Quais as principais qualidades que um atleta deve ter?
Em primeiro lugar, disciplina. É fundamental não quebrar rotinas e perceber que o caminho mais fácil nem sempre é o certo. É preciso definir um processo e ser ultra disciplinado a segui-lo. Depois, resiliência: a capacidade de perceber que, quando as coisas não correm bem, temos de continuar focados. O desporto é isso, aprender a lidar com a frustração e com a derrota.
Por último, diria superação. Não nos focarmos apenas no que fizemos ontem ou nos feitos passados, mas querer sempre mais. Isso é essencial para um atleta de topo.

E enquanto médico?
Não muda muito, mas acrescentaria paciência. Enquanto médico, temos de perceber que os resultados demoram a aparecer. A carreira é longa, leva anos a atingir determinados níveis. E também é preciso paciência com os doentes, que são exigentes.


Escolheu a especialidade de cirurgia por influência dos pais

Porque escolheu a especialidade de cirurgia oral?
Não foi algo totalmente planeado, acabou por acontecer. Os meus pais são cirurgiões plásticos, tive uma influência muito grande deles na vertente cirúrgica. Sempre me vi a trabalhar numa área mais especializada. Quando acabei o curso, não me via a trabalhar como dentista generalista. E acho que foi por isso.

 Que objetivos tem para o futuro?
Tenho 31 anos, faço 32 em 2025, e a carreira de jogador não dura para sempre. A minha ideia é dar o máximo à seleção. Quero estar no Mundial de 2027. Depois da carreira como jogador, vou continuar a praticar medicina, sem dúvida. Mais para a frente, se fizer sentido algum caminho enquanto treinador, dirigente, presidente... quem sabe? O futuro o dirá, mas gostava muito de dar ao râguebi o que o râguebi me tem dado ao longo da vida.​

 

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