Qual o papel da nutrição na prevenção do cancro?
A nutrição tem um papel fundamental na promoção da saúde e na prevenção de doenças crónicas, como o cancro. Estima-se que cerca de um terço dos casos possa estar associado à alimentação, ao excesso de peso e ao sedentarismo.
A dieta mediterrânica destaca-se pelo seu efeito protetor, sendo caracterizada pelo consumo frequente de frutas, hortícolas, cereais integrais, leguminosas, frutos oleaginosos e azeite, bem como pela ingestão moderada de peixe, e reduzida de carnes vermelhas e processadas. Este padrão alimentar associa-se a uma redução do risco de diversos tipos de cancro, nomeadamente o colorretal, devido ao aporte de fibras, antioxidantes e gorduras saudáveis, que ajudam a reduzir o stresse oxidativo, a inflama- ção crónica e a resistência à insulina ― processos relacionados com o desenvolvimento tumoral.
Qual o papel da nutrição durante o tratamento do cancro?
O cancro é uma doença com grande impacto no estado nutricional das pessoas. A malnutrição na pessoa com doença oncológica pode atingir prevalências que variam entre 20 e 70%, dependendo do tipo de tumor, da idade da pessoa e da fase da doença.
A malnutrição está associada a:
- Perda de peso e/ou de massa muscular;
- Aumento do risco de toxicidade terapêutica, levando à diminuição da intensidade da dose e do tratamento;
- Diminuição da competência imunitária e aumento do risco de complicações infeciosas;
- Perda de qualidade de vida.
O acompanhamento nutricional tem como objetivo otimizar o estado nutricional e adaptar a ingestão alimentar aos sintomas e às alterações anatómicas ou funcionais provocadas pelo tumor ou pelos tratamentos, como cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia, proporcionando maior conforto e qualidade de vida.
Dicas para a gestão das complicações associadas ao tratamento do cancro
Anorexia:
- Aumentar o número de refeições, de peque- no volume, ao longo do dia;
- Aumentar a densidade nutricional (energética e proteica) das refeições;
- Evitar a monotonia alimentar, dando preferência a pratos diversificados, coloridos e com diferentes texturas.
Disgeusia (alteração do paladar):
- Utilizar ervas aromáticas na confeção dos ali- mentos;
- Dar preferência a alimentos cítricos e frios;
- Evitar a utilização de talheres de metal, para minimizar o sabor metálico ― preferir talheres de plástico ou silicone.
Náuseas e vómitos:
- Aumentar o número de refeições de pequeno volume ao longo do dia;
- Preferir alimentos de fácil digestão, mais secos, cítricos e salgados;
- Preferir alimentos à temperatura ambiente, frios ou gelados;
- Evitar alimentos com odores fortes, muita gordura, doces, cremosos ou em papa.
Xerostomia (boca seca):
- Reforçar a hidratação ao longo do dia;
- Ingerir líquidos durante as refeições, para facilitar a mastigação e a deglutição;
- Colocar gotas de limão/laranja nas bebidas e nos alimentos.
Diarreia:
- Reforçar a hidratação;
- Recomendar uma dieta pobre em resíduos (pobre em fibras insolúveis e em lactose);
- Recomendar alimentos ricos em fibra solúvel (maçã/pera cozinhada, banana madura, cenoura cozinhada).
Obstipação:
- Reforçar a hidratação;
- Aumentar o consumo de alimentos ricos em fibra (cereais integrais, hortícolas, frutas, frutos secos e oleaginosos, sementes);
- Estimular a prática de atividade física regular.
Assim, a nutrição deve ser entendida como parte integrante da prevenção e do tratamento oncológico, contribuindo não só para melhores resultados clínicos, mas também para a qualidade de vida das pessoas.